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Guia Completo

Aneurisma e Dissecção de Aorta: Guia Completo de Tratamento (Cirurgia vs. Endovascular)

Por ResumeAi Concursos
Corte da aorta com aneurisma e tratamento endovascular com endoprótese (stent) para reforçar a parede arterial.

A aorta, a principal artéria do corpo humano, é uma via expressa para o sangue que nutre cada um de nossos órgãos. No entanto, quando sua estrutura é comprometida, ela pode se tornar a fonte de duas das mais temidas emergências médicas: o aneurisma e a dissecção aórtica. Embora frequentemente confundidos, são eventos distintos com riscos e tratamentos radicalmente diferentes. Este guia foi elaborado para desmistificar essas condições, capacitando você a entender o que são, como são diagnosticadas e, crucialmente, quais são as opções de tratamento — da vigilância atenta à cirurgia de ponta. Nosso objetivo é fornecer clareza para que, junto à sua equipe médica, você possa tomar as decisões mais informadas sobre sua saúde.

Entendendo as Doenças da Aorta: Aneurisma vs. Dissecção

Embora ambos afetem a maior artéria do corpo, o aneurisma e a dissecção de aorta são condições fundamentalmente distintas. Compreender essa diferença é o primeiro passo para um tratamento eficaz.

O Aneurisma: Uma Dilatação Perigosa

Um aneurisma é uma dilatação anormal e permanente de um segmento da artéria, envolvendo o enfraquecimento e a expansão de todas as três camadas da parede arterial (íntima, média e adventícia). Imagine a parede de um pneu enfraquecendo e formando uma bolha; o conceito é semelhante.

Os aneurismas são classificados principalmente pela sua forma e localização:

  • Classificação por Forma:

    • Fusiforme: O tipo mais comum, caracterizado por uma dilatação simétrica e circunferencial.
    • Sacular: Uma dilatação assimétrica em forma de "saco", que se projeta de apenas uma parte da parede. Aneurismas saculares possuem um risco de ruptura elevado e sua presença é frequentemente uma indicação para tratamento.
  • Classificação por Localização na Aorta:

    • Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA): O mais frequente, ocorrendo abaixo do diafragma, geralmente no segmento infrarrenal.
    • Aneurisma da Aorta Torácica (AAT): Localizado no tórax.
    • Aneurisma Toracoabdominal (TAAA): Afeta segmentos tanto da aorta torácica quanto da abdominal.

A maioria dos aneurismas aórticos cresce silenciosamente. No entanto, um aneurisma sintomático (com dor abdominal ou lombar persistente) é um sinal de alarme, indicando expansão rápida ou risco iminente de ruptura, constituindo uma indicação clara para intervenção.

A Dissecção: Um Rasgo na Parede Arterial

Diferente da dilatação gradual, a dissecção aórtica é um evento agudo e catastrófico. Ocorre quando há um rasgo na camada mais interna da aorta (túnica íntima), permitindo que o sangue flua para dentro da parede do vaso, separando suas camadas e criando um "falso lúmen".

A manifestação clássica é uma dor súbita, lancinante e de intensidade máxima no peito ou nas costas, muitas vezes descrita como "rasgando". A classificação da dissecção é vital, pois dita a estratégia de tratamento:

  • Classificação de Stanford (a mais utilizada):
    • Tipo A: Envolve a aorta ascendente. Esta é uma emergência cirúrgica absoluta, pois pode levar a complicações fatais como tamponamento cardíaco ou infarto.
    • Tipo B: A dissecção está restrita à aorta descendente. Em casos não complicados, o tratamento inicial é geralmente clínico, com controle rigoroso da pressão arterial.

Uma Nota Importante: O Pseudoaneurisma

Para completar o quadro, é essencial diferenciar o pseudoaneurisma (ou falso aneurisma). Ele não envolve a dilatação de todas as camadas. Em vez disso, resulta de uma ruptura na parede arterial, onde o sangue extravasado é contido pelos tecidos adjacentes, formando um hematoma pulsátil, frequentemente após traumas ou procedimentos invasivos.

Diagnóstico e Rastreamento: Como Identificamos o Risco?

A detecção precoce é nossa maior aliada para prevenir desfechos catastróficos. A resposta está em uma combinação estratégica de rastreamento para grupos de risco e exames de imagem de alta precisão.

O Primeiro Passo: Rastreamento do Aneurisma de Aorta Abdominal (AAA)

O rastreamento busca a doença em pessoas assintomáticas de alto risco. Para o AAA, as diretrizes são claras:

  • Quem deve ser rastreado? O principal grupo-alvo são homens com idade entre 65 e 75 anos que já fumaram. O tabagismo é o fator de risco mais significativo.
  • Como é feito o exame? O método de escolha é a ultrassonografia abdominal: um exame simples, rápido, não invasivo e preciso para medir o diâmetro da aorta.
  • Com que frequência? Um único rastreamento com resultado normal (diâmetro < 3,0 cm) costuma ser suficiente. Se um aneurisma pequeno é detectado, a conduta passa a ser de vigilância ativa, com ultrassonografias periódicas (a cada 6 meses a 3 anos, dependendo do tamanho) para monitorar o crescimento.

O Padrão-Ouro: Angiotomografia para Diagnóstico e Planejamento

Quando um aneurisma atinge um tamanho preocupante ou há suspeita de uma complicação aguda como a dissecção, a angiotomografia computadorizada (Angio-TC) se torna o exame padrão-ouro.

  • Para Aneurismas: A Angio-TC é fundamental para o planejamento terapêutico. Ela cria imagens tridimensionais que mostram o diâmetro, a extensão, a forma exata do aneurisma e sua relação com artérias vitais, como as renais. Essa informação é crucial para decidir entre a cirurgia aberta e o tratamento endovascular.
  • Para Dissecções de Aorta: Em uma emergência, a Angio-TC não só fornece o diagnóstico definitivo ao visualizar o flap intimal (a lâmina de tecido solta), como também permite a classificação imediata (Stanford Tipo A ou B), definindo a urgência e o tipo de tratamento. Uma radiografia de tórax pode levantar suspeitas ao mostrar um alargamento do mediastino, mas é a Angio-TC que sela o diagnóstico.

O Momento da Decisão: Quando a Intervenção é Indicada?

Decidir o momento certo para intervir é uma análise criteriosa que equilibra os riscos da doença contra os riscos do procedimento.

Aneurismas: Vigilância Ativa vs. Sinais de Alarme

Para aneurismas assintomáticos e pequenos, a conduta inicial é a vigilância ativa: acompanhamento rigoroso com exames de imagem e controle agressivo dos fatores de risco. No entanto, a intervenção se torna necessária quando o risco de ruptura supera o cirúrgico. Os critérios para tratamento eletivo (programado) são:

  • Diâmetro Crítico: Um diâmetro superior a 5,5 cm em homens ou 5,0 cm em mulheres.
  • Crescimento Acelerado: Um aumento de mais de 0,5 cm em 6 meses ou 1,0 cm em um ano.
  • Presença de Sintomas: Um aneurisma que causa dor persistente é considerado de alto risco e deve ser tratado independentemente do seu tamanho.
  • Características Específicas: Aneurismas saculares ou que causam embolização para os membros inferiores também são indicações de tratamento.

Dissecções: Uma Questão de Localização e Urgência

Como vimos, a localização da dissecção dita a urgência.

  • Dissecção Tipo A de Stanford (Emergência Cirúrgica): Quando a dissecção envolve a aorta ascendente, o quadro é uma emergência cirúrgica absoluta devido ao altíssimo risco de complicações fatais. O tratamento é a cirurgia aberta imediata.

  • Dissecção Tipo B de Stanford (Tratamento Clínico Inicial): Se a dissecção está restrita à aorta descendente, a abordagem inicial, na ausência de complicações, é o tratamento clínico intensivo. O paciente é internado em UTI para controle rigoroso da pressão arterial e da frequência cardíaca, visando estabilizar a dissecção. A intervenção (geralmente endovascular) é reservada para os casos complicados, que incluem dor refratária, sinais de ruptura, ou má perfusão de órgãos vitais.

Cirurgia Aberta vs. Tratamento Endovascular: Qual a Melhor Abordagem?

Uma vez indicada a intervenção, a escolha da técnica depende de fatores anatômicos, clínicos e da urgência do caso.

A Cirurgia Aberta Convencional

Este é o método clássico, envolvendo uma incisão no abdômen ou tórax para expor a aorta e substituir a porção doente por um enxerto sintético suturado no local. É uma cirurgia de grande porte com recuperação mais longa, mas sua eficácia e durabilidade são comprovadas ao longo de décadas.

O Tratamento Endovascular (EVAR/TEVAR)

Conhecida como EVAR (para a aorta abdominal) e TEVAR (para a aorta torácica), esta técnica minimamente invasiva é realizada através de pequenas incisões na virilha. Uma endoprótese (enxerto metálico revestido) é inserida por cateteres e liberada dentro da aorta, selando a área danificada por dentro.

O Confronto: Vantagens e Cenários de Escolha

A decisão é uma avaliação técnica detalhada.

Vantagens do Tratamento Endovascular:

  • Menor Invasividade: Menos dor e recuperação mais rápida.
  • Menor Risco Perioperatório: Opção preferencial para pacientes idosos ou com múltiplas comorbidades.
  • Menor Perda Sanguínea: Reduz a necessidade de transfusões.

Quando a Cirurgia Aberta Ainda é Superior ou a Única Opção:

  • Anatomia Desfavorável: O tratamento endovascular exige um segmento de aorta saudável ("colo") para ancoragem da prótese. Aneurismas muito próximos às artérias renais, por exemplo, podem inviabilizar a técnica.
  • Aneurismas Infecciosos (Micóticos): A remoção completa do tecido infectado só é possível com a cirurgia aberta.
  • Pacientes Jovens e de Baixo Risco: A durabilidade comprovada da cirurgia aberta pode ser um fator decisivo, evitando a necessidade de reintervenções futuras.

Lidando com Emergências: Ruptura de Aneurisma e Dissecção Aguda

As emergências aórticas representam o cenário mais dramático, onde cada segundo conta.

Ruptura de Aneurisma de Aorta: Corrida Contra o Tempo

A ruptura de um AAA é uma catástrofe cirúrgica com dor súbita e excruciante, hipotensão e, por vezes, uma massa abdominal pulsátil. Diante de um paciente instável, a conduta é única: encaminhamento imediato para o centro cirúrgico. A prioridade é o controle do sangramento, seja por cirurgia aberta ou, em casos selecionados, reparo endovascular (EVAR). O uso de anti-hipertensivos é contraindicado e perigoso, pois o paciente já está em choque.

Dissecção Aórtica Aguda: Uma Emergência de Duas Frentes

O manejo depende crucialmente da localização:

  • Dissecção Tipo A (Aorta Ascendente): A conduta é a cirurgia aberta imediata para substituir o segmento aórtico doente e prevenir complicações fatais.

  • Dissecção Tipo B (Aorta Descendente) Não Complicada: O tratamento inicial é clínico e agressivo, focado em reduzir as forças que propagam a dissecção. Isso é feito com controle rigoroso do "duplo produto":

    • Controle da Pressão Arterial: Manter a pressão sistólica entre 100-120 mmHg.
    • Controle da Frequência Cardíaca: Este é o pilar do tratamento. Utilizam-se betabloqueadores intravenosos para manter a frequência cardíaca em torno de 60 bpm, diminuindo o estresse na parede aórtica. Se a dissecção se complicar, o tratamento de escolha passa a ser a terapia endovascular (TEVAR).

Vida Após o Tratamento: Recuperação, Riscos e Acompanhamento

A conclusão da cirurgia é o início de uma nova fase: a de recuperação e vigilância. A recuperação da cirurgia aberta é mais longa (6 a 12 semanas) do que a do reparo endovascular (alta em 1 a 3 dias). Independentemente do método, o período pós-operatório exige atenção a possíveis complicações.

Principais Riscos e Complicações Pós-Operatórias:

  1. Eventos Cardíacos: A principal causa de mortalidade precoce é o infarto agudo do miocárdio. Pacientes com doença aórtica frequentemente possuem aterosclerose coronariana, e o estresse cirúrgico pode desencadear um evento.

  2. Isquemia Colônica: Uma das complicações mais temidas, ocorre pela interrupção do fluxo sanguíneo para o intestino grosso, especialmente após a ligadura da artéria mesentérica inferior em cirurgias de AAA. Sinais de alerta incluem dor abdominal, diarreia sanguinolenta e febre.

  3. Outras Complicações: Riscos adicionais incluem sangramento, insuficiência respiratória e renal. A antibioticoprofilaxia é um protocolo padrão para mitigar riscos infecciosos.

O Acompanhamento é Para Sempre

O tratamento não se encerra com a alta. É essencial um programa de acompanhamento rigoroso com exames de imagem periódicos (angiotomografia ou ultrassom) para garantir a integridade do reparo, detectar vazamentos (endoleaks) no caso do tratamento endovascular e assegurar que não haja novas complicações. A cirurgia corrige o problema imediato, mas a vigilância contínua é a chave para o sucesso duradouro.


Navegar pelo universo das doenças da aorta, desde a silenciosa formação de um aneurisma até a dramática emergência de uma dissecção, exige conhecimento e clareza. Esperamos que este guia tenha iluminado as diferenças cruciais entre essas condições, os critérios que guiam a decisão de intervir e o panorama das modernas opções de tratamento. A informação é a ferramenta mais poderosa que um paciente pode ter, transformando a ansiedade em ação e permitindo uma parceria eficaz com a equipe de saúde.

Agora que você explorou este guia a fundo, que tal testar e consolidar seu conhecimento? Preparamos algumas Questões Desafio sobre o tema. Confira-as a seguir e veja o quanto você aprendeu