ATLS
ABCDE no trauma
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prioridades no trauma
Guia Completo

ATLS Descomplicado: Dominando Prioridades e o ABCDE no Politrauma

Por ResumeAi Concursos
**** Escultura abstrata: cinco módulos em sequência simbolizando as prioridades ABCDE do ATLS no politrauma.

No front da emergência, onde cada segundo reverbera com o peso da vida e da morte, o protocolo ATLS (Advanced Trauma Life Support) emerge não apenas como um conjunto de diretrizes, mas como uma filosofia de ação coordenada. Ele é a bússola que orienta profissionais de saúde através do cenário desafiador do politrauma, transformando conhecimento técnico em intervenções que salvam vidas. Este guia 'ATLS Descomplicado' foi meticulosamente preparado por nossa equipe editorial para refinar sua compreensão e aplicação sistemática desta abordagem, com foco nas prioridades críticas e na sequência ABCDE, capacitando você a fazer a diferença decisiva no manejo inicial do paciente politraumatizado.

A Essência do ATLS: Salvando Vidas com um Método Sistemático

No universo frequentemente caótico do atendimento ao trauma, onde cada segundo é crucial, a organização e a precisão são literalmente vitais. É neste cenário desafiador que o ATLS (Advanced Trauma Life Support) se estabelece como um sistema padronizado e globalmente reconhecido, desenvolvido para otimizar o cuidado ao paciente politraumatizado. Sua essência reside em uma abordagem sistemática e hierarquizada, um verdadeiro roteiro que guia a equipe médica na identificação e tratamento das lesões que representam a maior e mais imediata ameaça à vida.

A grande força do ATLS está em estabelecer prioridades claras e inegociáveis no atendimento inicial. Antes mesmo de qualquer avaliação direta do paciente, a segurança da cena e da equipe é a prioridade absoluta, especialmente no ambiente pré-hospitalar. Garantir que o local do incidente é seguro para todos os envolvidos evita novas vítimas e permite que a equipe de socorro foque integralmente no paciente. No ambiente intra-hospitalar, embora o local seja geralmente considerado seguro, a atenção à segurança da equipe, como o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), permanece fundamental.

Uma vez assegurada a segurança, o ATLS preconiza uma avaliação inicial rápida e focada, seguindo o famoso mnemônico ABCDE. Este algoritmo define a sequência de prioridades:

  • A (Airway): Manutenção da permeabilidade das vias aéreas com proteção da coluna cervical.
  • B (Breathing): Avaliação e garantia da respiração e ventilação adequadas, bem como da oxigenação.
  • C (Circulation): Avaliação da circulação com controle de hemorragias externas e restabelecimento da volemia.
  • D (Disability): Avaliação do estado neurológico (incapacidade), incluindo o nível de consciência.
  • E (Exposure/Environment): Exposição completa do paciente para avaliação de todas as lesões, prevenindo a hipotermia e controlando o ambiente.

Este algoritmo não é uma mera lista de tarefas, mas uma sequência hierárquica rigorosa: a vida do paciente depende da correção de problemas na ordem em que eles são mais letais. Por exemplo, uma via aérea obstruída (A) levará ao óbito mais rapidamente que uma hemorragia não contida (C), e ambas as condições devem ser abordadas antes de uma avaliação neurológica detalhada (D). O princípio é claro: tratar primeiro o que mata primeiro.

O Sistema de Atendimento ATLS é, portanto, mais do que um protocolo; é uma filosofia de atendimento que assegura a identificação e resolução dos problemas críticos de forma ordenada e eficiente. Ele se insere dentro de um Sistema de Atendimento ao Trauma mais amplo, que envolve desde o atendimento pré-hospitalar, passando pela triagem eficiente das vítimas, até o direcionamento para centros de trauma adequados. Estes centros dispõem de recursos e equipes multidisciplinares especializadas, prontas para dar continuidade ao cuidado definitivo. A correta classificação da gravidade do paciente e a decisão de transferência para um centro de trauma de nível apropriado são componentes vitais desse sistema.

Ao padronizar a avaliação e o tratamento inicial, o ATLS minimiza a omissão de lesões graves, reduz a variabilidade no atendimento e, consequentemente, tem um impacto direto e significativo na redução da morbimortalidade em vítimas de trauma. Dominar seus princípios é fundamental para qualquer profissional de saúde que atue na linha de frente das emergências.

Avaliação Primária: O Coração do ATLS e o Mnemônico ABCDE

No atendimento ao politraumatizado, a Avaliação Primária é o pilar do ATLS (Advanced Trauma Life Support), focada em identificar e tratar imediatamente as condições que ameaçam a vida. Esta etapa é guiada pelo mnemônico ABCDE, uma sequência hierárquica que estabelece as prioridades. No ambiente pré-hospitalar, adaptações como o XABCDE (onde "X" indica controle de hemorragias externas exsanguinantes como prioridade máxima) são preconizadas pelo PHTLS (Prehospital Trauma Life Support).

O ABCDE organiza as prioridades da seguinte forma:

  • A - Airway (Vias Aéreas com Proteção da Coluna Cervical): Avaliar e garantir a perviedade das vias aéreas, sempre com proteção da coluna cervical.
  • B - Breathing (Respiração e Ventilação): Avaliar e assegurar ventilação e oxigenação adequadas.
  • C - Circulation (Circulação com Controle de Hemorragias): Avaliar o estado circulatório, controlar hemorragias e iniciar o manejo do choque.
  • D - Disability (Incapacidade ou Estado Neurológico): Realizar uma avaliação neurológica sumária.
  • E - Exposure (Exposição e Controle do Ambiente/Hipotermia): Expor completamente o paciente para um exame detalhado, prevenindo a hipotermia.

A rigorosa adesão a esta sequência, tratando cada problema identificado antes de avançar, é crucial. A avaliação primária é um processo dinâmico e deve ser repetida frequentemente. Os detalhes de cada componente do ABCDE serão explorados nas seções seguintes.

Decifrando o A (Airway) e B (Breathing): Garantindo Vias Aéreas e Ventilação

As etapas A (Airway - Vias Aéreas com proteção da coluna cervical) e B (Breathing - Respiração e Ventilação) são os pilares iniciais da avaliação primária. Sem uma via aérea pérvia e ventilação eficaz, todos os outros esforços podem ser em vão. Vamos detalhá-las.

A: Vias Aéreas com Proteção da Coluna Cervical – O Primeiro Passo Vital

A prioridade absoluta é assegurar e manter a permeabilidade da via aérea. Uma via aérea obstruída leva à hipóxia e hipercapnia, culminando rapidamente em dano cerebral e morte.

Avaliação e Manejo Inicial:

  1. Verifique a responsividade e a capacidade de falar: Um paciente que consegue falar claramente, em geral, possui uma via aérea pérvia no momento. Contudo, a reavaliação constante é crucial.
  2. Inspecione a via aérea: Procure por corpos estranhos, sangue, vômito, secreções ou edema. Ruídos como estridor, rouquidão ou gorgolejo são sinais de alerta.
  3. Proteção da Coluna Cervical: Sempre presuma uma lesão na coluna cervical em qualquer paciente com trauma multissistêmico, especialmente com trauma cranioencefálico ou acima das clavículas. A imobilização deve ser mantida com colar cervical adequado e, se necessário, imobilizadores laterais, até que a lesão seja descartada. Todas as manobras de via aérea devem ser realizadas com estabilização manual da cabeça e pescoço em posição neutra.

Garantindo a Via Aérea:

  • Manobras básicas: Elevação do mento (chin lift) ou anteriorização da mandíbula (jaw thrust) – esta última preferível em suspeita de lesão cervical – podem ser suficientes. Aspiração de secreções é fundamental.
  • Via Aérea Definitiva: Consiste em um tubo locado na traqueia com o cuff insuflado, conectado a uma forma de ventilação assistida rica em oxigênio. A intubação orotraqueal (IOT) é a via de primeira escolha, idealmente por técnica de sequência rápida.

Indicações para Via Aérea Definitiva (ATLS):

  • Apneia.
  • Incapacidade de manter via aérea pérvia por outros meios (ex: edema por queimadura de via aérea, hematoma cervical em expansão).
  • Proteção contra aspiração de sangue ou vômito.
  • Comprometimento ou perda iminente da via aérea.
  • Incapacidade de manter oxigenação adequada.
  • Traumatismo cranioencefálico grave (Escala de Coma de Glasgow ≤ 8).
  • Agitação psicomotora significativa que impede avaliação/tratamento (lembre-se da hipóxia como causa).

Em situações onde a IOT não é possível, uma via aérea cirúrgica (ex: cricotireoidostomia cirúrgica) pode ser necessária. O trauma facial grave exige atenção especial.

B: Respiração e Ventilação – O Oxigênio que Sustenta a Vida

Com a via aérea pérvia, o próximo passo é garantir respiração e ventilação adequadas.

Avaliação da Respiração:

  1. Exponha o tórax.
  2. Inspecione: Frequência, profundidade, simetria dos movimentos respiratórios, uso de musculatura acessória, retrações, respiração paradoxal, feridas abertas.
  3. Auscute: Presença e simetria dos murmúrios vesiculares.
  4. Palpe: Enfisema subcutâneo, crepitações, pontos dolorosos, posição da traqueia.
  5. Percuta: Timpanismo (pneumotórax) ou macicez (hemotórax).
  6. Monitore a oximetria de pulso (SpO2).

Manejo da Respiração e Oxigenoterapia:

  • Administre oxigênio suplementar em alto fluxo (máscara não reinalante com reservatório, 10-15 L/min) a todos os pacientes traumatizados inicialmente.
  • Se a ventilação espontânea for inadequada, utilize ventilação assistida com bolsa-válvula-máscara ou através de via aérea definitiva.

Identificação e Manejo Imediato de Lesões Torácicas Potencialmente Fatais:

  • Pneumotórax Hipertensivo: Dispneia severa, taquicardia, hipotensão, desvio de traqueia, timpanismo, ausência de murmúrio vesicular. Tratamento: descompressão imediata com agulha (5º EIC, linha axilar anterior/média), seguida de drenagem torácica.
  • Pneumotórax Aberto (Ferida Torácica Aspirativa): Ferida na parede torácica comunicando com espaço pleural. Tratamento: curativo oclusivo de três pontas, posterior drenagem torácica.
  • Hemotórax Maciço: Acúmulo de > 1500 mL de sangue ou > 200 mL/h por 2-4h no espaço pleural. Causa choque e colapso pulmonar. Macicez à percussão, diminuição/ausência de murmúrio vesicular. Tratamento: reposição volêmica, drenagem torácica. Toracotomia pode ser indicada.

Outras lesões como tamponamento cardíaco (abordado no "C") também são prioridade na avaliação primária.

C (Circulation): Controle da Hemorragia e Manejo do Choque

Após garantirmos A e B, a etapa C (Circulation) foca em identificar e controlar hemorragias e manejar o choque, principalmente o hemorrágico.

1. Identificação e Controle da Hemorragia

A ação mais crucial é parar o sangramento.

  • Hemorragias Externas: Compressão manual direta é a medida inicial. Torniquetes podem ser considerados em sangramento arterial maciço em membros não responsivo à compressão.
  • Hemorragias Internas (Ocultas): Exigem alto índice de suspeição. Principais locais: tórax, abdômen/retroperitônio, pelve, ossos longos.

O controle definitivo do sangramento é prioritário.

2. Avaliação e Classificação do Choque Hemorrágico

O choque é a hipoperfusão tecidual. No trauma, o choque hipovolêmico/hemorrágico é o mais comum. O ATLS classifica o choque para estimar a perda sanguínea:

| Classe de Hemorragia | Perda Sanguínea Estimada (%) | Perda Sanguínea Estimada (mL em 70kg) | Frequência Cardíaca (bpm) | Pressão Arterial | Pressão de Pulso | Frequência Respiratória (rpm) | Débito Urinário (mL/h) | Estado Mental | Tratamento Inicial | | :------------------- | :--------------------------- | :------------------------------------ | :------------------------ | :--------------- | :--------------- | :---------------------------- | :--------------------- | :------------------ | :--------------------- | | Classe I | Até 15% | Até 750 mL | <100 (normal ou leve ↑) | Normal | Normal ou ↑ | 14-20 | >30 | Levemente ansioso | Cristaloide (observar) | | Classe II | 15-30% | 750-1500 mL | >100 | Normal | Diminuída | 20-30 | 20-30 | Moderadamente ansioso | Cristaloide | | Classe III | 31-40% | 1500-2000 mL | >120 | Diminuída | Diminuída | 30-40 | 5-15 | Ansioso, confuso | Cristaloide + Sangue | | Classe IV | >40% | >2000 mL | >140 | Muito diminuída | Muito diminuída | >35 | Mínimo | Confuso, letárgico | Sangue (PTM) |

  • Importante: A avaliação do choque deve considerar o contexto clínico geral, a resposta à expansão volêmica e não apenas valores isolados (ênfase ATLS 10ª ed.).

3. Acesso Venoso e Reposição Volêmica Inicial

  • Acesso Venoso: Dois acessos venosos periféricos calibrosos (18G ou maior) devem ser estabelecidos. Coletar amostras para tipagem sanguínea, prova cruzada e exames laboratoriais.
  • Cristaloides: Reposição inicial com soluções cristaloides isotônicas aquecidas (Ringer Lactato ou SF 0,9%).
    • Adultos: Bolus de 1 litro.
    • Crianças: Bolus de 20 mL/kg.
    • Avalie a resposta: Respondedores, Respondedores Transitórios, Não Respondedores.
  • Ácido Tranexâmico: Considerar em trauma grave com sangramento significativo (ou suspeita) dentro de 3 horas. Dose: 1g IV em 10 min, seguido por 1g IV em 8 horas.

4. Protocolo de Transfusão Maciça (PTM)

Ativar em perda sanguínea maciça ou não resposta a cristaloides (Choque Classe III/IV).

  • Definição de Transfusão Maciça (TM): >10 unidades CH/24h, >4 unidades CH/1h, ou reposição >50% volemia/4h.
  • Objetivo: Repor volume, transporte de O2, fatores de coagulação e plaquetas.
  • Componentes: Concentrado de Hemácias (CH), Plasma Fresco Congelado (PFC) e Plaquetas em proporção próxima de 1:1:1.
  • PTM Pediátrico: 10-20 mL/kg de CH, 10-20 mL/kg de PFC, e plaquetas (1 unidade/5-10kg ou 10-20 mL/kg).

5. Reposição de Cálcio

Durante transfusões maciças, o citrato pode causar hipocalcemia.

  • Monitorização: Níveis de cálcio ionizado.
  • Reposição: Guiada pelos níveis séricos (ATLS 10ª ed. recomenda apenas se cálcio ionizado baixo).

A etapa C é dinâmica e exige reavaliação constante.

D (Disability) e E (Exposure): Avaliação Neurológica e Exposição Completa

Após A, B e C, avançamos para D (Disability) e E (Exposure/Environment).

D - Disability: Avaliando o Estado Neurológico

Foco em rápida avaliação neurológica para identificar lesões cerebrais/medulares e prevenir lesão cerebral secundária (por hipóxia/hipotensão).

Componentes chave:

  1. Nível de Consciência: Escala de Coma de Glasgow (ECG).

    • Abertura Ocular: Espontânea (4), ao comando verbal (3), à dor (2), ausente (1).
    • Resposta Verbal: Orientado (5), confuso (4), palavras inapropriadas (3), sons ininteligíveis (2), ausente (1).
    • Melhor Resposta Motora: Obedece a comandos (6), localiza dor (5), retira à dor (4), flexão anormal (3), extensão anormal (2), ausente (1). Uma ECG ≤ 8 geralmente indica TCE grave e necessidade de via aérea definitiva.
  2. Avaliação Pupilar: Tamanho, simetria e fotorreatividade. Anisocoria (especialmente pupila dilatada não reativa) pode indicar herniação cerebral.

Atendimento inicial ao TCE:

  • Corrigir choque (PAS > 100-110 mmHg).
  • Garantir oxigenação (SpO2 > 94%).
  • Manter euvolemia (solução salina isotônica). Evitar soluções hipotônicas.

A avaliação neurológica detalhada não deve atrasar o ABCDE.

E - Exposure/Environment: Exposição Completa e Controle Ambiental

Dois componentes: expor o paciente e controlar o ambiente para prevenir hipotermia.

  1. Exposição Completa:

    • Paciente completamente despido para exame céfalo-caudal, incluindo dorso (após estabilização da coluna). Essencial para identificar lesões ocultas.
  2. Controle do Ambiente e Prevenção da Hipotermia:

    • Pacientes traumatizados estão em alto risco de hipotermia, que agrava coagulopatia e prognóstico.
    • Medidas: aquecer ambiente, cobrir com mantas aquecidas, usar fluidos IV aquecidos.

Exames Auxiliares na Avaliação Primária: Realizados frequentemente durante ou após C, D, E, sem atrasar a reanimação:

  • FAST (Focused Assessment with Sonography for Trauma): Ultrassonografia à beira do leito para detectar líquido livre (sangue) nas cavidades pericárdica, peritoneal e pleural.
  • Radiografias Iniciais: Tórax (AP) e pelve (AP) podem ser realizadas como auxiliares, mas não devem atrasar reanimação ou transferência.

Considerações Especiais no "E": Pacientes Queimados O paciente queimado é um paciente traumatizado (ABCDE).

  • Avaliação da Extensão da Queimadura: "Regra dos Nove" (adultos), Tabela de Lund-Browder (crianças/precisão).
  • Manejo Inicial da Queimadura:
    • Interromper processo de queimadura.
    • Ressuscitação Volêmica: Indicada para >20% SCQ. Fórmula de Parkland é uma referência.
    • Monitorização da Diurese Alvo: Adultos (>14 anos): 0,5 mL/kg/h; Crianças (<14 anos): 1 mL/kg/h.

Além do ABCDE: Reavaliação Contínua, Medidas Auxiliares e Próximos Passos

Dominar o ABCDE é o pilar, mas o cuidado é dinâmico. A reavaliação contínua é crítica, repetindo a sequência ABCDE sempre que houver piora, após intervenções ou durante transferências.

Após a estabilização primária, inicia-se a avaliação secundária: avaliação detalhada "da cabeça aos pés", histórico AMPLE (Alergias, Medicamentos, Passado médico/Prenhez, Líquidos e alimentos, Eventos relacionados ao trauma) e exame físico completo.

Paralelamente à avaliação secundária e ao manejo contínuo, diversas medidas auxiliares são empregadas:

  • Monitorização Contínua: Eletrocardiográfica (ECG), oximetria de pulso, pressão arterial, frequência respiratória e capnografia (para pacientes intubados).
  • Sondas:
    • Sonda Gástrica (Nasogástrica ou Orogástrica): Para descompressão gástrica. Via orogástrica preferível na suspeita de fratura de base de crânio.
    • Sonda Vesical (Foley): Para monitorar débito urinário. Investigar lesão uretral antes.
  • Exames Complementares Adicionais: Além do FAST/eFAST e das radiografias de tórax e pelve já possivelmente realizadas na avaliação primária, outros exames de imagem (como tomografias computadorizadas) e laboratoriais (hemograma seriado, lactato, gasometrias) são cruciais conforme a evolução e achados.

Certas populações especiais exigem considerações adicionais:

  • Gestantes: Cuidado de duas vidas, alterações fisiológicas podem mascarar choque, posicionamento em decúbito lateral esquerdo, monitorização fetal, observação hospitalar (4-6h ou 24h), cesariana de emergência se instabilidade materna.
  • Crianças: Particularidades anatômicas/fisiológicas (via aérea, hipotermia, resposta ao choque). Via aérea definitiva em TCE grave (Glasgow < 9). Reposição volêmica agressiva na instabilidade.

O manejo inicial de lesões específicas segue as prioridades do ATLS:

  • Lesões Ortopédicas: Controle de sangramento, imobilização, curativos. Redução e fixação externa em comprometimento vascular. Fraturas pélvicas instáveis exigem estabilização precoce.
  • Lesões Abdominais: Instabilidade hemodinâmica ou FAST positivo -> laparotomia exploradora. Pacientes estáveis -> observação, exames seriados, TC.
  • Lesões Vasculares: Controle do sangramento. Sinais de exploração cirúrgica imediata (sangramento pulsátil, hematoma em expansão, frêmito/sopro, isquemia distal). Revascularização prioritária.

Finalmente, a transição para cuidados definitivos é o objetivo:

  • Transferência para centro de trauma adequado.
  • Internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
  • Intervenções cirúrgicas especializadas.

A comunicação clara e eficaz na equipe multidisciplinar é vital.

Dominar o ATLS, desde a avaliação primária sistemática com o ABCDE, passando pelo manejo específico de cada etapa crítica, até a reavaliação contínua e a transição para os cuidados definitivos, representa um pilar fundamental na redução da morbimortalidade do paciente politraumatizado. Esperamos que este guia tenha solidificado essa base de conhecimento essencial, reforçando a importância de uma abordagem organizada e prioritária no atendimento ao trauma.

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