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Análise Profunda

Dor Epigástrica e Úlcera Péptica: Guia Completo de Causas e Diagnóstico

Por ResumeAi Concursos
Corte transversal do estômago mostrando uma úlcera péptica como uma cratera inflamada na parede gástrica.

Aquela dor incômoda e persistente na "boca do estômago" é um dos sintomas mais universais que existem, mas sua simplicidade esconde uma complexidade que merece atenção. Tecnicamente chamada de dor epigástrica, ela é mais do que um desconforto passageiro: é um sinal de alerta do seu corpo. Este guia foi elaborado para ir além das suposições, capacitando você a entender as características dessa dor, sua principal causa — a úlcera péptica —, as outras condições que podem mimetizá-la e como os médicos desvendam esse quebra-cabeça diagnóstico. Nosso objetivo é transformar a incerteza em conhecimento, para que você saiba quando uma simples indigestão pode ser algo que exige uma avaliação profissional.

O que é a Dor Epigástrica e Por Que é um Sinal de Alerta?

A dor epigástrica é o desconforto localizado na região superior e central do abdômen, logo abaixo do osso esterno e das costelas. Embora muitas vezes possa ser atribuída a uma indigestão, sua persistência ou intensidade nunca deve ser ignorada, pois essa área abriga órgãos vitais como o estômago, o duodeno (a primeira porção do intestino delgado), o pâncreas e a vesícula biliar.

É aqui que a doença ulcerosa péptica entra em cena como uma das principais suspeitas. Uma úlcera péptica é uma ferida aberta que se desenvolve no revestimento do estômago ou do duodeno, e a dor epigástrica é seu sintoma mais característico. A forma como essa dor se manifesta, especialmente sua relação com a alimentação, oferece pistas cruciais que ajudam a direcionar o diagnóstico, como veremos a seguir.

Contudo, é fundamental entender que a dor epigástrica é um desafio. Ela pode ser o sintoma principal de muitas outras condições, desde quadros mais simples, como a dispepsia funcional e a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), até emergências médicas. Uma dor súbita e que irradia para as costas, por exemplo, pode indicar uma pancreatite aguda. Mais importante ainda: em pacientes com fatores de risco como tabagismo, diabetes ou idade acima de 40 anos, uma dor epigástrica súbita e forte deve sempre levantar a suspeita de uma síndrome coronariana aguda (infarto). Portanto, preste atenção a essa dor: suas características são as primeiras peças de um quebra-cabeça que levará ao diagnóstico e tratamento corretos.

Úlcera Péptica: A Principal Suspeita e Suas Causas

Quando a dor epigástrica é persistente, a doença ulcerosa péptica (DUP) é um dos primeiros diagnósticos considerados. De forma simples, uma úlcera péptica é uma lesão que se forma no revestimento interno (mucosa) do estômago (úlcera gástrica) ou do duodeno (úlcera duodenal).

Sua formação ocorre devido a um desequilíbrio entre os fatores que agridem a mucosa e os mecanismos que a protegem. O estômago produz ácido clorídrico para digerir os alimentos e, para não se autodigerir, conta com uma robusta barreira de muco e bicarbonato. A úlcera surge quando essa barreira é rompida, deixando a mucosa vulnerável à ação corrosiva do ácido. Na esmagadora maioria dos casos, essa quebra de defesa é provocada por dois agentes principais:

  • Infecção pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori): Esta é, de longe, a causa mais comum. A H. pylori coloniza a mucosa do estômago, desencadeando uma inflamação crônica (gastrite) que enfraquece a barreira protetora e, em alguns casos, pode até estimular uma produção excessiva de ácido, criando o cenário perfeito para uma úlcera, principalmente no duodeno.

  • Uso de Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs): Este é o segundo grande culpado, especialmente em pacientes que usam cronicamente medicamentos como ibuprofeno, diclofenaco e ácido acetilsalicílico (AAS). Os AINEs inibem a produção de prostaglandinas, substâncias vitais para a produção de muco protetor e para a manutenção de um bom fluxo sanguíneo na parede do estômago. Sem elas, a mucosa fica fragilizada e suscetível à lesão.

Portanto, a úlcera péptica não é simplesmente uma consequência de "estresse" ou dieta, embora esses fatores possam agravar os sintomas. Ela é o resultado de um dano direto à mucosa, e é essa "ferida" exposta ao ácido que gera a clássica dor em queimação.

Úlcera Gástrica vs. Duodenal: Decifrando os Sintomas e Riscos

Embora ambas sejam úlceras pépticas, a localização no estômago (gástrica) ou no duodeno define "personalidades" distintas, especialmente na relação da dor com a alimentação.

O Padrão Clássico da Úlcera Duodenal: A Dor que a Comida "Acalma"

A úlcera duodenal, mais comum e fortemente associada à infecção por H. pylori, tem um ritmo característico:

  • Dor em Jejum: O sintoma clássico é uma dor em queimação que surge com o estômago vazio, geralmente de 2 a 4 horas após uma refeição. É frequentemente descrita como "dor de fome".
  • Alívio com a Alimentação: A ingestão de alimentos ou antiácidos tende a aliviar a dor, pois o alimento funciona como um "tampão" que neutraliza o ácido.
  • Dor Noturna: É muito comum que a dor desperte o paciente durante a madrugada, quando o período de jejum é mais longo.

O Padrão da Úlcera Gástrica: A Dor que a Comida "Provoca"

A úlcera gástrica, por sua vez, frequentemente se manifesta de forma oposta:

  • Dor Pós-Alimentação: A dor tende a surgir ou piorar logo após as refeições. Isso ocorre porque a comida estimula a produção de ácido, que age diretamente sobre a ferida na parede do estômago.
  • Sintomas Variáveis: O padrão pode ser menos previsível, e alguns pacientes podem apresentar náuseas, vômitos e perda de peso por evitarem comer para não sentir dor.

Localização, Sangramento e Risco de Malignidade

A localização da úlcera não define apenas o padrão de dor, mas também os riscos associados:

  • Úlcera Duodenal: É a causa mais comum de sangramento digestivo por úlcera. A localização de maior risco é a parede posterior do bulbo duodenal, devido à sua proximidade com a artéria gastroduodenal, o que pode levar a hemorragias volumosas. Úlceras na parede anterior têm maior risco de perfurar. A chance de uma úlcera duodenal ser cancerígena é extremamente baixa.

  • Úlcera Gástrica: Esta é a diferença mais crítica: toda úlcera gástrica carrega um potencial de malignidade. Úlceras localizadas em áreas atípicas (como a grande curvatura), que são muito grandes ou têm bordas irregulares são consideradas altamente suspeitas e exigem a realização de biópsias durante a endoscopia para um diagnóstico definitivo.

Diagnóstico Diferencial: Quando a Dor Epigástrica Não é Úlcera

A dor epigástrica é um sintoma comum a diversas patologias, e um diagnóstico preciso exige que o médico considere um leque de outras condições.

O Alerta Vermelho: Causas Cardíacas

Uma regra de ouro na avaliação da dor epigástrica, especialmente em pacientes com fatores de risco cardiovascular, é sempre considerar uma causa cardíaca. Um infarto agudo do miocárdio que afeta a parede inferior do coração pode se manifestar com dor primariamente na região epigástrica. Diferentemente da dor de úlcera, a dor de origem cardíaca geralmente não tem relação com a alimentação, não melhora com antiácidos e pode vir acompanhada de suor frio, falta de ar ou irradiar para o peito, braço esquerdo ou mandíbula.

Quando o Pâncreas é o Culpado

  • Pancreatite Aguda: A inflamação do pâncreas causa uma dor súbita, severa e constante no epigástrio, com uma clássica irradiação "em faixa" para o dorso.
  • Câncer de Pâncreas: Pode se manifestar com dor abdominal surda e persistente, que tende a piorar à noite e quando o paciente se deita de costas.

Olhando para Cima: Doenças do Esôfago

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) pode causar uma dor em queimação (pirose) que é confundida com a dor de úlcera. A regurgitação ácida e a piora dos sintomas ao deitar são dicas importantes para diferenciá-las.

A Inflamação Vizinha: Gastrite

A gastrite, uma inflamação da mucosa do estômago, pode causar dor, náuseas e empachamento, mimetizando de perto os sintomas de uma úlcera. Frequentemente, apenas a endoscopia digestiva alta consegue diferenciar com clareza as duas condições.

A Jornada Diagnóstica: Como o Médico Investiga a Dor

Diante de um quadro de dor epigástrica, o médico inicia uma investigação metódica, construída sobre três pilares:

1. A Conversa Detalhada (Anamnese)

Sua história clínica é a peça mais importante. O médico buscará entender as características da sua dor, pois elas oferecem pistas valiosas. Ele investigará o padrão da dor e sua relação com as refeições — que, como vimos, é uma pista fundamental para diferenciar os tipos de úlcera —, além de sintomas associados e fatores de risco, como o uso crônico de AINEs e o tabagismo.

2. O Exame Físico

O foco será o seu abdômen. Através da palpação, o especialista localiza o ponto de maior sensibilidade e procura por sinais de alerta, como rigidez abdominal, que pode indicar uma complicação como a perfuração de uma úlcera.

3. Exames Complementares: A Visão Interna

Com base nas suspeitas, o médico pode solicitar exames. O procedimento padrão-ouro para o diagnóstico da úlcera péptica é a Endoscopia Digestiva Alta (EDA). Este exame permite visualizar diretamente o revestimento do esôfago, estômago e duodeno com uma microcâmera. A endoscopia não apenas confirma a presença da úlcera, mas também possibilita a realização de biópsias, que são essenciais para pesquisar a bactéria H. pylori e, fundamentalmente, para descartar a possibilidade de câncer em úlceras gástricas.

Sinais de Alerta: Quando a Dor Exige Atenção Urgente

Embora a dor epigástrica seja frequentemente manejável, existem situações em que ela se torna um sinal de alarme para uma emergência médica. Fique atento aos seguintes sintomas:

  • Dor Súbita, Intensa e "em Facada": Pode indicar a perfuração de uma úlcera, uma condição grave em que o conteúdo do estômago vaza para a cavidade abdominal.
  • Sinais de Sangramento Ativo: Manifesta-se como vômito com sangue vivo (hematêmese) ou com aspecto de "borra de café", ou fezes escuras, pastosas e com odor fétido (melena). Esta é uma complicação grave, especialmente em úlceras duodenais localizadas perto de grandes artérias.
  • Perda de Peso Inexplicada: Perder peso sem motivo, especialmente se acompanhada de dor persistente, é um sinal de alerta significativo que pode indicar malignidade.
  • Dificuldade ou Dor para Engolir (Disfagia/Odinofagia): Pode ser um sinal de obstrução ou de um tumor.

Diante de um quadro agudo com esses sinais de alarme, a avaliação médica é rigorosa e urgente. Não subestime a dor epigástrica quando acompanhada por esses sintomas — eles são o chamado do seu corpo para uma ação imediata.


A dor epigástrica é uma mensagem do seu corpo, e compreendê-la é o primeiro passo para cuidar da sua saúde. Como vimos, embora a úlcera péptica seja uma causa comum, o leque de possibilidades diagnósticas é amplo, incluindo condições que exigem atenção imediata. A chave é reconhecer os padrões de dor e, principalmente, os sinais de alerta que indicam a necessidade de uma avaliação médica. Lembre-se: a informação capacita, mas não substitui o diagnóstico profissional.

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