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Guia Completo

Enxaqueca e Cefaleias: Guia Completo de Diagnóstico, Tipos e Tratamentos Eficazes

Por ResumeAi Concursos
Fisiopatologia da enxaqueca/cefaleias: sistema trigêmino-vascular com fibras trigeminais hiperativas e vasos dilatados.

A dor de cabeça é uma experiência quase universal, mas sua complexidade é frequentemente subestimada. Longe de ser uma condição única, ela se manifesta de inúmeras formas, desde um incômodo passageiro até um sintoma debilitante que compromete drasticamente a qualidade de vida. Este guia completo foi elaborado para desmistificar o universo das cefaleias, com foco especial na enxaqueca, uma de suas formas mais impactantes. Nosso objetivo é que você, leitor, possa compreender as diferenças cruciais entre os tipos de dor de cabeça, como os médicos chegam a um diagnóstico preciso, quais são os sinais que exigem atenção imediata e, fundamentalmente, quais tratamentos eficazes estão disponíveis para trazer alívio e bem-estar. Navegue conosco por este conhecimento essencial e descubra caminhos para uma vida com menos dor.

Decifrando a Dor: O que São Cefaleias e Como se Classificam?

A cefaleia, termo médico para a popular dor de cabeça, é uma das queixas neurológicas mais comuns em todo o mundo. Estima-se que uma vasta parcela da população experimentará algum tipo de cefaleia ao longo da vida, com um impacto significativo na qualidade de vida, produtividade e bem-estar geral. Entender suas características e classificações é o primeiro passo para um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz.

A avaliação de um paciente com cefaleia começa com uma anamnese detalhada, uma conversa minuciosa onde o médico investiga as particularidades da dor. Este é um momento crucial, pois as informações coletadas guiarão todo o raciocínio clínico. Alguns dos aspectos chave a serem explorados incluem:

  • Localização da dor: É unilateral (afeta apenas um lado da cabeça) ou bilateral (ambos os lados)? É na região frontal, temporal, occipital ou difusa (holocraniana)?
  • Qualidade ou tipo da dor: É pulsátil (latejante), em aperto, em pressão, em pontada ou queimação?
  • Intensidade: Leve, moderada ou severa? A dor impede as atividades diárias?
  • Duração e Frequência: Quanto tempo dura cada crise (minutos, horas, dias)? Quantas vezes por mês ou semana ela ocorre? Cefaleias podem ser classificadas como episódicas (ocorrendo em menos de 15 dias por mês) ou crônicas (ocorrendo em 15 dias ou mais por mês).
  • Fatores desencadeantes e de alívio: Existem gatilhos conhecidos, como estresse, certos alimentos, alterações hormonais ou esforço físico? O que melhora ou piora a dor?
  • Sintomas associados: A dor vem acompanhada de náuseas, vômitos, sensibilidade à luz (fotofobia), sensibilidade ao som (fonofobia)? Existem sintomas neurológicos como alterações visuais (aura), formigamentos, fraqueza ou dificuldade na fala?

Com base nessas informações, o próximo passo fundamental é classificar a cefaleia. A principal distinção é feita entre cefaleias primárias e cefaleias secundárias:

  1. Cefaleias Primárias:

    • Nesta categoria, a dor de cabeça é a própria doença, e não um sintoma de outra condição médica subjacente.
    • São as mais comuns, representando aproximadamente 90% dos casos.
    • Os exemplos mais conhecidos incluem a Enxaqueca (Migrânea), a Cefaleia Tensional (o tipo mais prevalente globalmente) e a Cefaleia em Salvas.
    • O diagnóstico é predominantemente clínico, baseado em critérios bem definidos a partir da história e características da dor.
  2. Cefaleias Secundárias:

    • Aqui, a dor de cabeça é um sintoma de outra doença ou condição.
    • Embora menos frequentes, podem ser um sinal de alerta para problemas de saúde graves que necessitam de investigação e tratamento urgentes.
    • Causas possíveis incluem infecções (meningite), problemas vasculares (aneurisma, hemorragia subaracnóidea), tumores cerebrais, aumento da pressão intracraniana, entre outros.
    • A identificação de sinais de alarme (ou "red flags") é crucial e geralmente indica a necessidade de exames complementares, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética do crânio. Estes sinais serão detalhados adiante.

Além dessa classificação fundamental, as cefaleias podem se apresentar em diferentes cenários clínicos:

  • Agudas emergentes: De início súbito e forte intensidade, podendo representar uma emergência médica.
  • Crônicas progressivas: A dor piora gradualmente em frequência e/ou intensidade ao longo do tempo.
  • Agudas recorrentes ou crônicas não progressivas: Padrão de crises que se repetem, intercaladas por períodos sem dor, ou uma dor persistente que não piora significativamente (característico de muitas cefaleias primárias).

Compreender essa complexa teia de sintomas e classificações é essencial. Apenas um profissional de saúde pode realizar o diagnóstico diferencial correto, distinguindo entre os diversos tipos de cefaleias primárias e, mais importante, identificando ou descartando causas secundárias que possam requerer intervenção imediata.

Enxaqueca (Migrânea) Desvendada: Sinais, Fases e Como é Feito o Diagnóstico

A enxaqueca, também conhecida pelo termo médico migrânea, é uma condição neurológica complexa e incapacitante, classificada como uma cefaleia primária. Afeta uma parcela significativa da população mundial – estima-se que entre 10% a 20% das pessoas sofram com ela, sendo particularmente prevalente em mulheres e frequentemente iniciando-se na infância, adolescência ou início da vida adulta.

Características Clínicas: Como Reconhecer a Dor da Enxaqueca?

A dor de cabeça (cefaleia) na enxaqueca possui características bastante distintivas:

  • Localização: Frequentemente unilateral, podendo ser bilateral ou alternar de lado.
  • Qualidade da Dor: Tipicamente pulsátil ou latejante.
  • Intensidade: Varia de moderada a grave, muitas vezes impedindo atividades diárias.
  • Duração: Se não tratada ou tratada sem sucesso, pode durar de 4 a 72 horas (em crianças, a partir de 1 hora).
  • Fatores Agravantes: A dor geralmente piora com atividades físicas rotineiras.

Sintomas Além da Dor: O Que Mais Acompanha a Enxaqueca?

As crises de enxaqueca são frequentemente acompanhadas por:

  • Náuseas e/ou Vômitos.
  • Sensibilidade à Luz (Fotofobia).
  • Sensibilidade ao Som (Fonofobia).
  • Menos frequentemente, osmofobia (aversão a cheiros) e alodinia (dor com estímulos não dolorosos).

Critérios Diagnósticos: A Base Científica para Identificar a Enxaqueca

O diagnóstico da enxaqueca é eminentemente clínico. Os critérios da Classificação Internacional de Cefaleias (ICHD-3) para a enxaqueca sem aura estabelecem que o indivíduo deve ter tido:

  1. Pelo menos 5 crises preenchendo os critérios seguintes.
  2. Crises de cefaleia com duração de 4 a 72 horas (não tratadas ou tratadas sem sucesso).
  3. A cefaleia tem pelo menos duas das seguintes quatro características: localização unilateral, qualidade pulsátil, intensidade moderada ou grave, agravamento por atividade física rotineira.
  4. Durante a cefaleia, pelo menos um dos seguintes: náusea e/ou vômito, ou fotofobia E fonofobia.
  5. A cefaleia não é melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

O exame neurológico geralmente é normal entre as crises. Exames de imagem não são rotineiramente necessários, mas podem ser solicitados na presença de sinais de alerta.

As Múltiplas Faces de uma Crise: As Fases da Enxaqueca

Uma crise de enxaqueca pode evoluir através de diferentes fases:

  1. Pródromo: Horas ou 1-2 dias antes da dor, com alterações de humor, fadiga, bocejos, desejo por alimentos, rigidez no pescoço.
  2. Aura: Presente em 20-25% dos pacientes ("enxaqueca com aura"). Sintomas neurológicos focais reversíveis (visuais, sensitivos, da fala), desenvolvendo-se gradualmente (5-20 min) e durando menos de 60 min, tipicamente precedendo a cefaleia. A aura visual (pontos brilhantes, linhas em zigue-zague) é a mais comum.
  3. Cefaleia: A fase da dor com as características e sintomas associados já descritos.
  4. Pósdromo (Fase de Resolução): Após a dor, sensação de exaustão, dificuldade de concentração, sensibilidade no couro cabeludo, podendo durar horas a um dia.

Tipos de Enxaqueca: Com ou Sem Aura?

  • Enxaqueca sem Aura (Enxaqueca Comum): Mais frequente (75-80%), sem sintomas de aura.
  • Enxaqueca com Aura (Enxaqueca Clássica): Definida pela ocorrência de crises de aura.

Outras variantes incluem enxaqueca menstrual, enxaqueca vestibular e enxaqueca abdominal.

Fatores Desencadeantes: O Que Pode "Acender o Pavio"?

Gatilhos comuns, variáveis entre indivíduos, incluem: estresse, alterações no sono, jejum, alterações hormonais (mulheres), certos alimentos e bebidas (queijos envelhecidos, chocolate, cítricos, embutidos, glutamato monossódico, cafeína, álcool), e estímulos ambientais (luzes, odores, ruídos, mudanças climáticas). Identificar e manejar esses gatilhos é parte do tratamento.

Cefaleia Tensional: Identificando a Dor de Cabeça Mais Frequente

A cefaleia tensional é o tipo mais comum de dor de cabeça primária, manifestando-se classicamente como um "aperto" ou uma "faixa" em torno da cabeça. Embora geralmente menos incapacitante que a enxaqueca, sua alta prevalência a torna um incômodo significativo.

Quais são as características da Cefaleia Tensional?

  • Tipo de Dor: Pressão ou aperto, não pulsátil; sensação de "capacete apertado".
  • Localização: Tipicamente bilateral, podendo ser holocraniana ou predominar na nuca, com sensibilidade nos músculos pericranianos.
  • Intensidade: Leve a moderada, raramente impede atividades diárias.
  • Relação com Esforço Físico: Não costuma piorar com atividades físicas rotineiras.
  • Sintomas Associados: Geralmente, sem náuseas ou vômitos significativos. Pode ocorrer fotofobia ou fonofobia leves, mas raramente ambas.
  • Duração das Crises: De 30 minutos a 7 dias. Se frequente (≥15 dias/mês por ≥3 meses), classifica-se como cefaleia tensional crônica.

Como é feito o Diagnóstico?

O diagnóstico é essencialmente clínico, baseado na história e exame neurológico normal, utilizando critérios da ICHD-3. Simplificadamente:

  1. Pelo menos 10 episódios de cefaleia.
  2. Duração de 30 minutos a 7 dias.
  3. Pelo menos duas características: localização bilateral, qualidade em pressão/aperto, intensidade leve/moderada, não agravada por atividade física.
  4. Ausência de náuseas/vômitos (náuseas leves podem ocorrer); pode haver fotofobia OU fonofobia, mas não ambas.
  5. Não melhor explicada por outro diagnóstico e sem sinais de alerta para cefaleias secundárias.

Cefaleia Tensional vs. Enxaqueca: Entendendo as Diferenças

Distinguir ambas é crucial para o tratamento:

| Característica | Cefaleia Tensional | Enxaqueca (Migrânea) | | :-------------------- | :----------------------------------------------------- | :----------------------------------------------------------------------------------- | | Localização | Geralmente bilateral | Frequentemente unilateral | | Qualidade da Dor | Pressão, aperto, não pulsátil | Pulsátil, latejante | | Intensidade | Leve a moderada | Moderada a intensa, incapacitante | | Piora com Esforço | Não piora | Frequentemente piora | | Náuseas/Vômitos | Ausentes ou leves | Frequentemente presentes | | Foto/Fonofobia | Ausentes, ou apenas um deles (leve) | Frequentemente presentes e combinadas |

A enxaqueca, embora menos prevalente em adultos, leva mais à procura médica devido à sua intensidade. A avaliação médica é indispensável para um diagnóstico preciso.

Diagnóstico das Cefaleias: Anamnese, Sinais de Alerta e Exames Necessários

Desvendar a causa de uma dor de cabeça é um processo investigativo que, como vimos, começa com uma anamnese detalhada e um exame físico cuidadoso. O objetivo crucial é descartar cefaleias secundárias.

A Pedra Angular: Anamnese e Exame Físico

A anamnese busca entender profundamente as características da dor (início, evolução, localização, tipo, intensidade, frequência, duração), sintomas associados (náuseas, vômitos, fotofobia, fonofobia, sintomas autonômicos), gatilhos, fatores de melhora/piora, histórico médico/familiar e impacto na qualidade de vida. Um exame físico geral e neurológico completo verifica sinais vitais, cabeça, olhos (buscando papiledema), pescoço (rigidez de nuca) e avalia estado mental, nervos cranianos, função motora, reflexos, coordenação, sensibilidade e marcha. Em cefaleias primárias, o exame neurológico é tipicamente normal; alterações podem indicar causa secundária.

Sinais de Alerta (Red Flags): Quando se Preocupar

Certos sinais e sintomas, conhecidos como "sinais de alerta" ou "red flags", levantam a suspeita de uma cefaleia secundária e indicam a necessidade de investigação aprofundada. O mnemônico SNOOPP ajuda a lembrar os principais:

  • Sintomas Sistêmicos: Febre, calafrios, perda de peso, histórico de câncer, HIV.
  • Neurológico: Alterações no exame neurológico (fraqueza, alterações na fala/visão, confusão, convulsões, papiledema).
  • Onício (Onset): Cefaleia de início súbito e explosivo ("thunderclap headache").
  • Older age (Idade mais avançada): Início de nova cefaleia ou mudança de padrão após os 50 anos.
  • Padrão da dor (mudança ou progressão):
    • Progressão: Piora progressiva em frequência/intensidade.
    • Posição: Dor que muda com a postura.
    • Precipitada por Valsalva: Dor por tosse, espirro, esforço.
    • Perturbação do sono: Cefaleia que acorda o paciente.
    • Primeira ou pior cefaleia da vida.

Outros alertas incluem cefaleia após trauma craniano ou em pacientes anticoagulados.

Investigação Complementar: Exames Necessários

Na presença de sinais de alerta, Tomografia Computadorizada (TC) de crânio e Ressonância Magnética (RM) de encéfalo são cruciais para identificar causas como tumores, hipertensão intracraniana, hemorragias, AVC, infecções, anormalidades vasculares ou processos inflamatórios. Na ausência de sinais de alerta e com exame neurológico normal, exames de imagem geralmente não são necessários para cefaleias primárias comuns.

O Papel da Classificação Internacional das Cefaleias (ICHD-3)

A Classificação Internacional das Cefaleias, 3ª edição (ICHD-3), da Sociedade Internacional de Cefaleia (IHS), fornece critérios diagnósticos específicos para todos os tipos de dores de cabeça, padronizando o diagnóstico e a pesquisa globalmente.

Combatendo a Enxaqueca: Tratamentos para Crises Agudas e Profilaxia Eficaz

O manejo eficaz da enxaqueca baseia-se no tratamento agudo (abortivo), para interromper crises, e no tratamento profilático (preventivo), para reduzir frequência, intensidade e duração das crises.

Tratamento Agudo: Interrompendo a Crise

O objetivo é aliviar a dor e sintomas rapidamente, tratando precocemente. Uma abordagem escalonada é comum:

  1. Crises Leves a Moderadas: Analgésicos simples (dipirona) e AINEs (ibuprofeno, naproxeno, AAS).
  2. Crises Moderadas a Intensas (ou falha anterior): Triptanos (sumatriptano, rizatriptano), específicos para enxaqueca, administrados no início da dor (não na aura).
  3. Sintomas Associados: Antieméticos (metoclopramida, ondansetrona) para náuseas/vômitos e para melhorar absorção de medicações orais.

Evitar o uso excessivo de analgésicos e triptanos (geralmente >10-15 dias/mês) é crucial para prevenir a cefaleia por uso excessivo de medicação (CUEM). Opioides não são recomendados. Corticoides podem ser usados em cursos curtos para ciclos de dor intensa.

Manejo do Status Migranoso

Crise de enxaqueca debilitante >72 horas. Requer abordagem intensiva, frequentemente hospitalar, com hidratação EV, antieméticos EV, AINEs/analgésicos EV, dexametasona EV e, em casos refratários, clorpromazina.

Tratamento Profilático: Prevenindo Novas Crises

Indicado para crises frequentes (≥3 incapacitantes/mês ou >8 dias com cefaleia/mês), intensas, prolongadas, com má resposta ao tratamento agudo, impacto significativo na qualidade de vida, risco de CUEM, tipos específicos de enxaqueca ou preferência do paciente. A escolha é individualizada:

  • Betabloqueadores: Propranolol, metoprolol.
  • Anticonvulsivantes: Topiramato, ácido valproico/divalproato de sódio.
  • Antidepressivos: Tricíclicos (amitriptilina), ISRSN (venlafaxina).
  • Bloqueadores dos Canais de Cálcio: Flunarizina.
  • Antagonistas do CGRP: Anticorpos monoclonais (erenumabe, fremanezumabe, galcanezumabe) para casos refratários.
  • Outros: Candesartana.
  • Toxina Botulínica tipo A: Para enxaqueca crônica (cefaleia ≥15 dias/mês, com características de enxaqueca em ≥8 dias).

O tratamento profilático é mantido por 6-12 meses após controle, com retirada gradual sob orientação médica. Mulheres com enxaqueca com aura têm contraindicação relativa/absoluta a anticoncepcionais hormonais combinados.

Manejo da Cefaleia Tensional e Outras Formas Comuns de Dor de Cabeça

O manejo adequado das dores de cabeça mais prevalentes é fundamental.

Cefaleia Tensional: A Companheira Indesejada

Conforme já descrito, a cefaleia tensional é a mais comum, com dor bilateral em pressão/aperto, de intensidade leve a moderada, não piorando com atividade física. As crises duram de 30 minutos a 7 dias, geralmente sem náuseas/vômitos. O diagnóstico é clínico, pelos critérios da ICHD-3, após exclusão de causas secundárias.

Manejo da Cefaleia Tensional:

  • Medidas Não Farmacológicas: Técnicas de relaxamento, manejo do estresse, fisioterapia, massagem, acupuntura.
  • Tratamento Sintomático (Crises Agudas): Analgésicos simples (paracetamol) e AINEs (ibuprofeno).
  • Tratamento Profilático (Preventivo): Indicado para cefaleia tensional crônica (≥15 dias/mês por ≥3 meses). Amitriptilina em doses baixas é uma opção.

Outras Formas Comuns de Dor de Cabeça e Suas Abordagens

  • Cefaleia em Salvas: Dor unilateral excruciante, periorbitária/temporal, em crises curtas (15-180 min) várias vezes ao dia, com sintomas autonômicos ipsilaterais (lacrimejamento, congestão nasal, ptose). Predomina em homens.

    • Tratamento da crise: Inalação de oxigênio a 100% e triptanos (sumatriptano subcutâneo/nasal).
    • Tratamento profilático: Verapamil (1ª escolha), corticoides, lítio, anti-CGRP.
  • Cefaleia Cervicogênica: Cefaleia secundária por disfunções no pescoço. Dor tipicamente unilateral, occipito-cervical irradiando para frontal, piora com movimentos do pescoço. Melhora com bloqueio anestésico pode auxiliar no diagnóstico. Tratamento foca na causa cervical (fisioterapia, medicações, intervenções).

O Alerta Crucial: Cefaleia por Uso Excessivo de Medicação (CUEM)

A Cefaleia por Uso Excessivo de Medicação (CUEM) surge do consumo frequente e prolongado de analgésicos. É definida pela ICHD-3 como cefaleia ocorrendo ≥15 dias/mês em paciente com cefaleia preexistente, devido ao uso excessivo de medicação aguda por >3 meses.

Por exemplo, a cefaleia induzida por ergotamina requer:

  1. Cefaleia ≥15 dias/mês em paciente com cefaleia preexistente.
  2. Uso regular por >3 meses de ergotamina ≥10 dias/mês.
  3. Não melhor explicada por outro diagnóstico. A dor pode ser constante ou em crises, aliviada temporariamente pela própria medicação. Doses a partir de 1 mg de ergotamina, cronicamente, podem induzir CUEM.

O tratamento da CUEM envolve suspensão da medicação em abuso (pode piorar a dor temporariamente - cefaleia de rebote) e introdução de profilaxia para a cefaleia de base.

Navegando pelas Cefaleias: Particularidades em Crianças, Gênero e Tipos Raros

As cefaleias variam conforme idade, gênero e raridade.

Cefaleias na População Pediátrica: Um Olhar Atento

A enxaqueca é comum em crianças/adolescentes. Antes dos 7 anos, pode ser mais comum em meninos; depois, meninas são mais afetadas. Reconhecendo a enxaqueca em crianças (critérios ICHD-3 adaptados):

  • Pelo menos 5 crises.
  • Duração: 1-72 horas (pode ser a partir de 2h).
  • Características da dor (≥2): localização frequentemente bilateral em mais novos (frontal/temporal), pulsátil, intensidade moderada/forte, piora com atividade física.
  • Sintomas associados (≥1): náuseas/vômitos, fotofobia e fonofobia. Peculiaridades: dor abdominal proeminente, osmofobia, alodinia. Síndromes periódicas da infância (vômitos cíclicos, enxaqueca abdominal, vertigem paroxística benigna) podem ser precursoras.

Sinais de Alarme em Cefaleias Infantis (exigem investigação): Cefaleia que desperta do sono, piora progressiva, exame neurológico alterado (fraqueza, ataxia, papiledema), vômitos persistentes/em jato, mudança no padrão, desencadeada por esforço/Valsalva, convulsões associadas, idade <5-6 anos com cefaleia significativa, dor occipital exclusiva, rigidez de nuca/febre, trauma craniano relevante, sintomas neurológicos persistentes.

Cefaleias e Gênero: Uma Questão de Prevalência

  • Enxaqueca: Mais comum em mulheres após puberdade.
  • Cefaleia em Salvas: Predomina em homens (até 6:1), embora a diferença venha diminuindo.
  • Hemicrania Paroxística: Mais rara, mais frequente em mulheres. Crises curtas (2-30 min), muito frequentes, com sintomas autonômicos. Responde dramaticamente à indometacina.
  • Hemicrânia Contínua: Rara, dor unilateral contínua com exacerbações e sintomas autonômicos. Leve predomínio feminino, excelente resposta à indometacina.

Tipos Raros e Variantes Atípicas: Desvendando o Incomum

  • Migrânea com Aura de Tronco Encefálico (antiga Enxaqueca Basilar): Rara, aura com sintomas do tronco encefálico (vertigem, disartria, zumbido, hipoacusia, diplopia, ataxia, nível de consciência diminuído), sem fraqueza motora.
  • Enxaqueca Hemiplégica Familiar (EHF) e Esporádica (EHE): Raras, aura com fraqueza motora unilateral reversível. EHF é genética.

A Importância da Avaliação Médica

A complexidade das cefaleias, especialmente em crianças, com diferenças de gênero ou manifestações atípicas, reforça a necessidade de consulta médica especializada. Um diagnóstico preciso é o primeiro passo para um tratamento individualizado e eficaz.


Este guia buscou iluminar o complexo cenário das cefaleias, desde as mais comuns, como a tensional e a enxaqueca, até formas mais raras e suas particularidades em diferentes populações. Compreender os mecanismos, os sinais de alerta e as opções terapêuticas é fundamental não apenas para profissionais de saúde, mas para todos que convivem com a dor de cabeça ou acompanham quem sofre dela. Lembre-se, a informação qualificada é uma ferramenta poderosa para o autocuidado e para uma colaboração mais eficaz com seu médico. O tratamento adequado existe e pode transformar vidas.

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