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Análise Profunda

Fórcipe Obstétrico: Guia Completo sobre Indicações, Tipos e Uso Seguro

Por ResumeAi Concursos
Três modelos de fórcipe obstétrico, destacando suas curvaturas e designs distintos em aço inoxidável.

No arsenal da obstetrícia moderna, poucas ferramentas carregam tanto peso histórico e, por vezes, tanta controvérsia quanto o fórcipe obstétrico. Frequentemente envolto em mitos e incompreensão, seu uso criterioso representa, na verdade, um pilar da assistência segura ao parto, sendo uma intervenção precisa capaz de prevenir complicações graves e evitar uma cirurgia cesariana. Este guia foi elaborado para desmistificar o procedimento, oferecendo a profissionais e estudantes da saúde uma visão clara e aprofundada sobre o papel do fórcipe no parto assistido, suas indicações rigorosas, os pré-requisitos indispensáveis para sua aplicação segura e as nuances técnicas que diferenciam seus diversos tipos.

O que é o Parto Vaginal Instrumentalizado?

O cenário ideal é um parto que transcorre de forma fisiológica. No entanto, em algumas situações, uma assistência se faz necessária para garantir a segurança da mãe e do bebê. É aqui que entra o conceito de parto vaginal instrumentalizado: o uso de instrumentos como o fórcipe obstétrico ou o vácuo extrator para auxiliar na fase final do trabalho de parto, quando a cabeça do bebê já se encontra na porção inferior da pelve.

Longe de ser uma prática de rotina, trata-se de uma intervenção precisa, indicada em cenários específicos e que representa uma alternativa crucial e segura à realização de uma cesariana. O uso criterioso desses instrumentos está alinhado com as premissas da assistência humanizada, que não prega a ausência de intervenções, mas sim o seu uso racional e justificado, sempre com consentimento informado. Quando um parto vaginal encontra um obstáculo final, a aplicação correta de um fórcipe para concluir o nascimento é uma intervenção significativamente menos invasiva do que uma cirurgia de grande porte. Portanto, o fórcipe moderno não é um vilão, mas um recurso valioso para garantir um desfecho seguro em partos desafiadores.

Quando o Fórcipe é Indicado? Análise das Situações Clínicas

A decisão de utilizar o fórcipe é um ato médico criterioso, guiado por uma análise cuidadosa da saúde materna e fetal. As indicações podem ser divididas em duas categorias principais.

Indicações Maternas

  • Período Expulsivo Prolongado e Parada de Progressão: Ocorre quando, apesar das contrações eficazes, a descida do bebê cessa ou se torna excessivamente lenta. Esta é uma das indicações mais comuns.
  • Exaustão Materna: Após um longo trabalho de parto, a mãe pode ficar fisicamente esgotada, perdendo a capacidade de realizar os "puxos" (esforços expulsivos) de forma eficaz.
  • Necessidade de Abreviar o Período Expulsivo: Certas condições médicas maternas (cardíacas, neurológicas ou pulmonares graves) tornam o esforço prolongado perigoso, indicando o fórcipe para proteger a saúde da mãe.

Indicações Fetais

  • Sofrimento Fetal Agudo: Se os monitores indicam uma queda preocupante na frequência cardíaca do bebê (ex: bradicardia persistente) no final do período expulsivo, o fórcipe permite um nascimento rápido para resolver a situação de hipóxia.
  • Variedade de Posição Fetal Anômala: O fórcipe pode ser utilizado por um profissional experiente para realizar uma rotação suave da cabeça fetal, alinhando-a corretamente para a extração.
  • Proteção da Cabeça Fetal em Prematuros: Em partos de bebês prematuros, o fórcipe de alívio pode ser usado para proteger a cabeça frágil da pressão prolongada contra o assoalho pélvico.

Pré-requisitos Essenciais para um Procedimento Seguro

A indicação por si só não é suficiente. A aplicação segura do fórcipe depende da satisfação rigorosa de um checklist de segurança que protege mãe e bebê. A ausência de qualquer uma dessas condições contraindica o procedimento.

  • Dilatação Cervical Completa: O colo do útero deve estar com 10 centímetros.
  • Membranas Amnióticas Rotas: A bolsa amniótica deve estar rompida para permitir a correta preensão da cabeça fetal.
  • Conhecimento Exato da Variedade de Posição Fetal: O obstetra precisa saber com precisão a orientação da cabeça do bebê para aplicar as lâminas corretamente (pega parietomalar).
  • Polo Cefálico Insinuado e em Estação Adequada: A cabeça fetal deve estar, no mínimo, insinuada (estação 0 de De Lee). Idealmente, para um fórcipe baixo ou de alívio, a cabeça deve estar na estação +2 de De Lee ou inferior, indicando que já ultrapassou as espinhas isquiáticas da pelve. A aplicação em apresentações altas é proscrita.
  • Proporcionalidade Feto-Pélvica Adequada: A avaliação clínica deve descartar desproporção cefalopélvica (DCP). Se a cabeça do bebê é grande demais para a pelve, a cesariana é a via indicada.
  • Bexiga Materna Vazia: A bexiga deve ser esvaziada (geralmente com cateter) para não obstruir a descida e evitar trauma vesical.
  • Anestesia Adequada: É fundamental que a parturiente tenha analgesia eficaz (peridural ou raquianestesia) para conforto e relaxamento da musculatura pélvica.
  • Concepto Vivo e Consentimento Informado: O fórcipe é indicado para fetos vivos, e a paciente deve consentir com o procedimento após ser devidamente informada.
  • Contraindicações Absolutas Adicionais: Situações como suspeita ou confirmação de rotura uterina constituem uma emergência obstétrica que exige cesariana imediata, contraindicando absolutamente o uso do fórcipe.

Tipos de Fórcipe: Instrumentos e Suas Aplicações Específicas

Longe de ser um instrumento único, o fórcipe é uma família de ferramentas, cada uma projetada para cenários específicos.

1. Fórcipe de Simpson-Braun: O Especialista em Tração e Alívio

É o tipo mais utilizado, ideal para tração quando a cabeça já está bem posicionada. É o instrumento de escolha para pegas diretas (occipitopúbica) ou que necessitam de pequenas rotações (inferiores a 45 graus). Quando o polo cefálico está muito baixo (plano +2 ou mais), seu uso é classificado como fórcipe de alívio. Não é adequado para corrigir grandes distócias de rotação.

2. Fórcipe de Kielland: O Mestre da Rotação

Com uma curvatura pélvica mínima e articulação deslizante, é o instrumento de eleição para corrigir distócias de rotação (superiores a 45 graus), como em variedades de posição transversas ou posteriores, e para corrigir assinclitismo (inclinação lateral da cabeça).

3. Fórcipe de Piper: O Especialista do Parto Pélvico

Possui uma indicação única e crucial: a extração da cabeça derradeira em um parto pélvico. Suas hastes longas e curvatura perineal protegem o pescoço do bebê e guiam a cabeça de forma segura para fora do canal de parto.

4. Menção Honrosa: Fórcipe de Marelli

Não é utilizado em partos vaginais. Sua aplicação é restrita a procedimentos de cesariana, onde auxilia na extração da cabeça fetal através da incisão uterina.

Técnica de Aplicação do Fórcipe: Passo a Passo

A aplicação do fórcipe é uma técnica delicada que visa guiar, e não forçar, o nascimento. O sucesso depende da correta identificação da posição fetal.

  1. Inserção dos Ramos: A regra de qual ramo (lâmina) inserir primeiro varia com a posição. Em apresentações anteroposteriores, inicia-se com o ramo esquerdo. Em apresentações transversas, a primeira colher a ser colocada é a anterior. O operador guia cada lâmina com os dedos para proteger os tecidos maternos, posicionando-as na região parietomalar da cabeça fetal.
  2. Articulação e Verificação: Com ambos os ramos posicionados, eles são travados. O médico verifica se a pega está correta e se nenhum tecido materno foi aprisionado.
  3. Tração Sincronizada: A tração é aplicada de forma suave e intermitente, exclusivamente durante as contrações uterinas, auxiliando o esforço expulsivo da mãe e seguindo a curvatura da pelve.
  4. Remoção do Instrumento: Assim que a cabeça coroa, a função do fórcipe está cumprida. Ele é removido cuidadosamente na ordem inversa da aplicação, antes do desprendimento completo.

Fórcipe vs. Vácuo Extrator: Uma Análise Comparativa

Assumindo que todos os pré-requisitos para um parto instrumentalizado foram atendidos, a escolha entre fórcipe e vácuo extrator é uma decisão clínica baseada na análise de riscos e benefícios de cada um.

Fórcipe Obstétrico

  • Vantagens: Maior taxa de sucesso na conclusão do parto; ideal para rotação da cabeça fetal; exige menos esforço da mãe, sendo preferível em casos de exaustão materna.
  • Riscos Associados: Maior risco de lacerações perineais graves (graus 3 e 4) para a mãe. Para o bebê, risco de marcas faciais temporárias.

Vácuo Extrator (Ventosa Obstétrica)

  • Vantagens: Menor risco de trauma perineal materno grave; técnica de aplicação mais simples e rápida; pode exigir menos analgesia.
  • Riscos Associados: Maior taxa de falha (desprendimento do copo); maior risco de cefalematoma e hemorragias na retina para o bebê. É contraindicado em partos prematuros com menos de 34 semanas devido à fragilidade do crânio fetal.

Em resumo, a escolha é individualizada. Se a principal preocupação é o trauma perineal materno, o vácuo extrator pode ser a primeira opção. Se a mãe está exausta ou se a cabeça do bebê precisa ser rodada, o fórcipe se mostra uma ferramenta mais adequada e eficaz.


Dominar o uso do fórcipe obstétrico é entender uma ferramenta de precisão, não de força. Como vimos, seu emprego seguro e eficaz depende de indicações claras, do cumprimento rigoroso de pré-requisitos e de uma técnica apurada, transformando-o em um recurso indispensável para desfechos positivos em partos desafiadores. A escolha entre fórcipe e vácuo extrator, por sua vez, reflete a arte da obstetrícia: a individualização do cuidado para cada dupla mãe-bebê.

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