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Estudo Detalhado

Gastrectomia Vertical (Sleeve): Guia Completo de Indicações, Riscos e Resultados

Por ResumeAi Concursos
Estômago reduzido em formato de tubo (sleeve) após a cirurgia de gastrectomia vertical.

A gastrectomia vertical, ou "sleeve", tornou-se uma das cirurgias bariátricas mais realizadas no mundo, mas o que está por trás dessa popularidade? Longe de ser uma solução simples, é um procedimento complexo com indicações precisas, mecanismos de ação fascinantes e um perfil de riscos que exige atenção. Este guia foi elaborado para ir além do superficial, oferecendo um panorama completo e honesto para pacientes, familiares e profissionais da saúde. Nosso objetivo é desmistificar o processo, desde a escolha do candidato ideal até a vida após a cirurgia, para que a decisão seja baseada em conhecimento sólido e expectativas realistas.

O que é a Gastrectomia Vertical e por que se tornou tão popular?

A Gastrectomia Vertical, também conhecida como Sleeve Gastrectomy, é um procedimento bariátrico moderno que consiste na remoção de aproximadamente 70% a 80% do estômago. A cirurgia transforma o órgão em um tubo fino e alongado, semelhante a uma manga de camisa — daí o nome "sleeve". Diferente de outras gastrectomias indicadas para o tratamento de tumores, a vertical foi desenvolvida especificamente como uma ferramenta poderosa no tratamento da obesidade severa.

O sucesso da técnica não se deve apenas à redução do estômago, mas a um sofisticado mecanismo de ação duplo:

  • Mecanismo Restritivo: Com um estômago drasticamente menor (capacidade entre 150 e 200 mL), o paciente sente-se saciado com uma quantidade muito menor de comida, o que leva a uma redução natural da ingestão calórica.
  • Mecanismo Metabólico e Hormonal: Esta é a grande vantagem da técnica. A porção removida do estômago (o fundo e a grande curvatura) é a principal responsável pela produção de grelina, o "hormônio da fome". Ao retirar essa área, os níveis de grelina caem drasticamente, resultando em uma diminuição significativa do apetite. Além disso, a passagem mais rápida do alimento para o intestino estimula a produção de hormônios de saciedade, como o GLP-1, que também melhora a ação da insulina.

Essa combinação de eficácia, preservação do trânsito intestinal (o que reduz o risco de certas deficiências nutricionais) e um perfil de segurança favorável impulsionou sua popularidade. Nos Estados Unidos, já é a cirurgia bariátrica mais comum, e no Brasil, ganha espaço rapidamente como uma das principais opções cirúrgicas.

Quem é o Candidato Ideal para a Cirurgia Sleeve?

A decisão de realizar uma gastrectomia vertical exige uma avaliação criteriosa e individualizada. Os critérios gerais, baseados no Índice de Massa Corporal (IMC), são:

  • IMC ≥ 40 kg/m², independentemente da presença de comorbidades.
  • IMC ≥ 35 kg/m² na presença de comorbidades graves, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial ou apneia do sono.

No entanto, a gastrectomia vertical se destaca como a opção preferencial em algumas situações clínicas particulares:

  • Pacientes com Anemia Crônica ou Doença Inflamatória Intestinal (DII): Como a cirurgia não desvia o trânsito do intestino delgado, a absorção de nutrientes como o ferro é mais preservada. Isso é crucial para pacientes com anemia ou para aqueles com Doença de Crohn, pois evita a manipulação de um intestino já inflamado.
  • Estratégia em Dois Tempos: Em casos de "superobesidade" (IMC > 50 kg/m²), a sleeve pode ser utilizada como uma primeira etapa para promover uma perda de peso inicial segura, reduzindo os riscos para um segundo procedimento mais complexo no futuro, se necessário.

A Principal Contraindicação: Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)

Tão importante quanto saber quem é o candidato ideal é entender quem deve evitar este procedimento. A principal contraindicação relativa para a gastrectomia vertical é a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), especialmente em suas formas graves.

A cirurgia transforma o estômago em um tubo de alta pressão. Se a válvula de entrada do estômago (cárdia) for incompetente, essa pressão pode forçar o conteúdo ácido a subir para o esôfago, piorando drasticamente os sintomas de refluxo ou até mesmo causando a doença em quem não a tinha. Por isso, pacientes com DRGE grave ou Esôfago de Barrett (uma condição pré-maligna causada pelo refluxo crônico) não são bons candidatos. Nesses casos, o bypass gástrico costuma ser a cirurgia de escolha, pois também trata o refluxo.

Como a Cirurgia Sleeve é Realizada: O Procedimento Cirúrgico

Realizada sob anestesia geral e, na maioria dos casos, por via laparoscópica (através de pequenas incisões), a gastrectomia vertical é uma cirurgia tecnicamente refinada e irreversível.

O processo cirúrgico segue etapas precisas:

  1. Calibração do Novo Estômago: O cirurgião introduz uma sonda (sonda de Fouchet) pela boca até o estômago. Este instrumento serve como um molde para garantir que o novo estômago tubular tenha o diâmetro e o volume adequados.
  2. Grampeamento e Remoção: Utilizando um grampeador cirúrgico especial, o cirurgião cria uma longa linha de grampos que divide o estômago verticalmente. A porção seccionada, que corresponde à grande curvatura e ao fundo gástrico, é então completamente removida do corpo.

É crucial entender que, ao contrário do bypass gástrico, o sleeve não altera o trânsito intestinal. O caminho do alimento (esôfago, estômago tubular, piloro, duodeno) permanece o mesmo. Essa preservação da anatomia intestinal é uma das grandes vantagens da técnica. É importante não confundir a gastrectomia vertical com a gastrectomia subtotal, um procedimento geralmente realizado para tratar câncer gástrico, que envolve a remoção da parte inferior do estômago e a reconstrução do trânsito intestinal.

Gastrectomia Vertical e Diabetes: Uma Nova Perspectiva de Controle

A gastrectomia vertical exerce um potente efeito benéfico sobre o diabetes tipo 2 (DM2). Embora o bypass gástrico seja frequentemente considerado o "padrão-ouro" para a remissão da doença, o sleeve oferece uma melhora substancial no controle glicêmico para a maioria dos pacientes.

Essa melhora ocorre por dois caminhos principais, que começam antes mesmo de uma perda de peso significativa:

  1. Redução da Resistência à Insulina: A expressiva perda de peso que se segue à cirurgia diminui a quantidade de tecido adiposo, fazendo com que as células do corpo voltem a responder de forma mais eficiente à insulina.
  2. Alterações Hormonais: Conforme já mencionado, a cirurgia promove uma queda nos níveis de grelina e um aumento do GLP-1. O GLP-1 é um hormônio chave que estimula a secreção de insulina, suprime o hormônio que eleva o açúcar no sangue (glucagon) e aumenta a saciedade.

Estudos robustos demonstram que a gastrectomia vertical é significativamente superior à terapia médica convencional para o controle do DM2 em pacientes com obesidade. Embora a remissão completa seja menos frequente do que com o bypass, muitos pacientes conseguem reduzir drasticamente ou até suspender o uso de medicamentos antidiabéticos.

Riscos e Complicações: O Que Você Precisa Saber Antes da Cirurgia

Como todo procedimento de grande porte, a gastrectomia vertical envolve riscos que devem ser compreendidos e discutidos com a equipe médica.

Complicações Cirúrgicas

  • Fístula ou Deiscência da Linha de Grampeamento: Esta é a complicação mais temida. Trata-se de um vazamento de conteúdo gástrico para a cavidade abdominal, decorrente de uma falha na cicatrização da longa linha de grampos. A alta pressão dentro do tubo gástrico e a extensa linha de sutura são fatores que contribuem para esse risco, embora sua ocorrência seja rara em equipes experientes.
  • Sangramento: Pode ocorrer na linha de grampos ou nos vasos sanguíneos seccionados durante o procedimento.
  • Estenose: Refere-se a um estreitamento anormal do novo tubo gástrico, que pode dificultar a passagem de alimentos e causar vômitos.

Considerações a Longo Prazo

  • Piora do Refluxo Gastroesofágico (DRGE): Como já abordado, a alta pressão no novo estômago pode causar ou agravar o refluxo, sendo este um dos principais desafios a longo prazo da técnica.
  • Irreversibilidade e Conversão: A gastrectomia vertical é irreversível, pois uma porção do estômago é removida. No entanto, em casos de reganho de peso ou complicações intratáveis (como refluxo grave), o procedimento pode ser convertido para outra técnica, como o bypass gástrico.
  • Risco Ínfimo de Hérnia Interna: Uma vantagem notável da técnica é o risco praticamente nulo de hérnia interna, uma complicação potencialmente grave mais associada a cirurgias que envolvem desvio do intestino.

Vida Após a Cirurgia: Nutrição, Acompanhamento e Considerações Finais

O sucesso a longo prazo da gastrectomia vertical depende do comprometimento do paciente com um novo estilo de vida. A jornada após a cirurgia é tão importante quanto o procedimento em si.

A nova realidade gástrica exige uma reeducação alimentar completa, com refeições menores e mais frequentes. Embora a cirurgia preserve o trânsito intestinal, a redução drástica na ingestão de alimentos torna a suplementação vitalícia de polivitamínicos e minerais (como ferro, cálcio e vitamina B12) absolutamente essencial para prevenir deficiências nutricionais.

O acompanhamento com a equipe multidisciplinar (cirurgião, endocrinologista, nutricionista) é crucial para monitorar a perda de peso, o estado nutricional e a saúde geral. Essa parceria entre a técnica cirúrgica e o compromisso do paciente é o que transforma a gastrectomia vertical em uma ferramenta eficaz para uma vida mais longa e saudável.


A gastrectomia vertical é muito mais do que uma simples redução do estômago; é uma intervenção metabólica poderosa que reconfigura a relação do corpo com a fome e a saciedade. Compreender seus mecanismos, indicações claras e, principalmente, seus riscos e as mudanças de vida necessárias, é o primeiro passo para uma jornada de sucesso. A decisão por qualquer procedimento bariátrico deve ser informada, consciente e compartilhada com uma equipe de saúde qualificada, transformando esta ferramenta cirúrgica no alicerce para uma vida mais saudável e plena.

Agora que você explorou a fundo os detalhes da gastrectomia vertical, que tal colocar seu conhecimento à prova? Convidamos você a responder às nossas Questões Desafio, preparadas para solidificar os conceitos mais importantes que abordamos neste guia.