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Análise Profunda

Mallampati e Cormack-Lehane: Como Avaliar a Via Aérea e Prever Intubações Difíceis

Por ResumeAi Concursos
Visão laringoscópica de via aérea difícil, classificação Cormack-Lehane Grau III, com a epiglote ocultando a glote.

O manejo da via aérea não é apenas um procedimento; é um momento definidor na prática clínica, onde a preparação encontra a oportunidade de salvar uma vida. A diferença entre um procedimento controlado e uma emergência caótica reside, muitas vezes, na capacidade de antecipar um desafio. É por isso que dominar as ferramentas preditivas de uma via aérea difícil é uma competência não negociável para qualquer profissional de saúde. Este guia foi elaborado para ir além da simples memorização, equipando-o com o conhecimento prático para utilizar as classificações de Mallampati e Cormack-Lehane de forma eficaz, transformando a incerteza em uma estratégia de segurança bem definida para seus pacientes.

Por Que a Avaliação da Via Aérea é um Passo Crítico na Prática Clínica?

Em qualquer cenário clínico, seja em uma emergência, centro cirúrgico ou UTI, o manejo da via aérea é a pedra angular da segurança do paciente. A falha em garantir uma via aérea pérvia pode levar rapidamente a consequências catastróficas, como hipóxia, dano cerebral e óbito. Portanto, a predição de uma via aérea difícil — uma situação em que um profissional treinado encontra dificuldades para ventilar com máscara facial ou intubar — é um passo crítico que antecede qualquer intervenção.

Antes mesmo de recorrer a escalas, é fundamental reconhecer os sinais de alerta de obstrução das vias aéreas:

  • Sinais auditivos: Respiração ruidosa, como roncos, estridor ou rouquidão, sugere um estreitamento na passagem do ar. A rouquidão, por exemplo, é um sintoma clássico de obstrução em nível laríngeo.
  • Sinais de gravidade: A presença de tiragem subcostal e da fúrcula (retração dos músculos do pescoço e costelas) e cianose (coloração azulada) indica um esforço respiratório extremo e configura uma emergência médica.

Para transformar a incerteza em preparação, utilizamos ferramentas preditivas validadas. As duas mais consagradas são as classificações de Mallampati e Cormack-Lehane, que serão o foco deste artigo. No entanto, uma avaliação completa muitas vezes inclui outros preditores, como a Distância Esternomentoniana (DEM). Medida com o pescoço em hiperextensão, uma distância inferior a 12,5 cm entre o mento e o esterno é um sinal de alerta, sugerindo dificuldade no alinhamento dos eixos para a laringoscopia. A combinação desses métodos aumenta drasticamente a precisão na identificação de pacientes em risco.

Classificação de Mallampati: O Guia Definitivo para a Avaliação à Beira-Leito

No arsenal de avaliação da via aérea, poucas ferramentas são tão rápidas e universalmente reconhecidas quanto a Classificação de Mallampati. Desenvolvida em 1985, esta escala clínica avalia a anatomia da orofaringe para estimar o espaço disponível para a passagem do laringoscópio, prevendo a dificuldade de visualização das estruturas da laringe. Uma classificação alta (Classes III e IV) está diretamente associada a uma maior dificuldade na intubação, alertando a equipe para a necessidade de preparar estratégias alternativas.

O Procedimento Correto: Como Realizar a Avaliação

A precisão da classificação depende inteiramente da técnica correta. Siga este passo a passo para uma avaliação fidedigna:

  1. Posicionamento do Paciente: O paciente deve estar sentado ereto, com a cabeça em posição neutra.
  2. Instrução ao Paciente: Peça para abrir a boca o máximo possível e projetar a língua completamente para fora.
  3. O Ponto Crítico: Não Fonar: É fundamental instruir o paciente a não emitir nenhum som (como dizer "Ahh"). A fonação eleva o palato mole e pode levar a uma classificação falsamente baixa (ex: um Classe III parecer um Classe II).
  4. Observação Direta: O examinador observa as estruturas visíveis na altura dos olhos do paciente, sem utilizar abaixador de língua.

As Quatro Classes de Mallampati: Anatomia e Implicações

  • Classe I: Visualização completa do palato mole, úvula, pilares amigdalianos e parede posterior da faringe.

    • Implicação Clínica: Menor risco de intubação difícil. A via aérea é considerada "ampla".
  • Classe II: Visualização do palato mole, maior parte da úvula e parede posterior da faringe. A ponta da úvula e os pilares podem estar obscurecidos pela base da língua.

    • Implicação Clínica: Risco baixo a moderado. A intubação geralmente ocorre sem intercorrências.
  • Classe III: Visualização apenas do palato mole e da base da úvula.

    • Implicação Clínica: Risco aumentado de intubação difícil. A visualização da laringe provavelmente será limitada, exigindo preparação para uma via aérea difícil.
  • Classe IV: Nenhuma estrutura da orofaringe posterior é visível; apenas o palato duro pode ser observado.

    • Implicação Clínica: Pior prognóstico. Alta probabilidade de intubação difícil e de falha na visualização das cordas vocais.

Classificação de Cormack-Lehane: A Visão Direta da Laringe

Enquanto a escala de Mallampati oferece uma previsão valiosa antes do procedimento, a Classificação de Cormack-Lehane entra em cena no momento crucial: durante a laringoscopia direta. Trata-se de uma avaliação intraoperatória, uma fotografia instantânea do que o profissional de fato consegue visualizar ao introduzir o laringoscópio para graduar a visão da glote.

A classificação é dividida em quatro graus, descrevendo uma visão progressivamente mais restrita:

  • Grau I: Visão ideal. A totalidade das cordas vocais é claramente visível. A intubação geralmente ocorre sem dificuldades.

  • Grau II: Visualização parcial. Apenas a porção posterior da fenda glótica e as cartilagens aritenoides são vistas. A intubação ainda é provável, mas pode exigir manobras.

  • Grau III: Sinal de alerta significativo. Nenhuma porção da fenda glótica é visível; apenas a epiglote pode ser identificada. Este grau, junto com o Grau IV, define a laringoscopia difícil.

  • Grau IV: Pior prognóstico. Nenhuma estrutura da glote é visível, nem mesmo a epiglote. A intubação por laringoscopia direta é improvável ou impossível.

Ao se deparar com um Grau III ou IV, o profissional deve reconhecer imediatamente a via aérea difícil e mudar a estratégia, considerando o uso de guias (como o bougie), um videolaringoscópio ou a solicitação de ajuda especializada.

A Combinação Poderosa: Associando Mallampati e Cormack-Lehane na Prática

Embora valiosas por si sós, é na associação das classificações de Mallampati e Cormack-Lehane que reside uma das estratégias mais robustas para gerenciar uma intubação. Elas são perfeitamente complementares, funcionando como uma avaliação em duas etapas:

  • Etapa 1: A Predição (Mallampati) Realizada à beira-leito, a classificação de Mallampati funciona como um índice de suspeita. Um escore elevado (Classe III ou IV) não é uma sentença, mas sim um alerta crucial: "Atenção, esta pode ser uma via aérea anatomicamente desafiadora."

  • Etapa 2: A Confirmação (Cormack-Lehane) A classificação de Cormack-Lehane é a avaliação confirmatória no momento da laringoscopia. Ela oferece uma visão real e objetiva, respondendo à pergunta: "O que eu consigo, de fato, visualizar para passar o tubo?"

A força dessa abordagem está na correlação entre a suspeita e a confirmação. Quando um paciente com Mallampati III ou IV apresenta uma visão Cormack-Lehane III ou IV, a suspeita é confirmada, mas a equipe não é pega de surpresa. O alerta inicial já deve ter acionado um plano de ação, como a preparação de dispositivos alternativos (videolaringoscópio, máscara laríngea), o posicionamento otimizado do paciente e a presença de um profissional mais experiente. Essa integração transforma a gestão da via aérea de um ato reativo para uma prática preditiva e planejada, um pilar para a segurança do paciente.

Dominar as escalas de Mallampati e Cormack-Lehane é mais do que acumular conhecimento técnico; é adotar uma mentalidade estratégica que prioriza a antecipação e a segurança. Ao integrar essa avaliação sistemática em seu fluxo de trabalho, você deixa de reagir a uma via aérea difícil e passa a planejar proativamente para ela. Essa preparação não é pessimismo, mas sim a marca de um profissional de excelência, que transforma um momento de potencial crise em um procedimento seguro e controlado.

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