No universo da medicina de emergência e cuidados críticos, poucas habilidades são tão decisivas quanto o manejo eficaz da via aérea. Garantir uma passagem livre para o ar não é apenas um procedimento; é a linha tênue que frequentemente separa a vida da morte, a recuperação da sequela neurológica. Este guia completo foi meticulosamente elaborado para capacitar você, profissional de saúde, com o conhecimento abrangente e atualizado sobre as técnicas de intubação, suas indicações precisas, as alternativas estratégicas e o manejo em situações clínicas diversas e desafiadoras. Prepare-se para aprofundar seus conhecimentos e refinar suas habilidades em um dos pilares da prática médica.
Dominando a Via Aérea: Princípios Fundamentais e Quando Agir
A garantia de uma via aérea pérvia é, sem dúvida, um dos pilares fundamentais no atendimento a qualquer paciente em situação crítica. Uma via aérea comprometida leva rapidamente à hipóxia, danos cerebrais irreversíveis e, em última instância, ao óbito. Dominar os princípios do manejo da via aérea e saber o momento exato de intervir são habilidades cruciais para todo profissional de saúde. Esta seção lança as bases para essa compreensão, abordando desde a avaliação inicial até as primeiras manobras e o uso de dispositivos auxiliares.
Princípios Fundamentais e Avaliação Inicial
Antes de qualquer intervenção, uma avaliação rápida e precisa é essencial. O manejo da via aérea começa com a capacidade de reconhecer os sinais de comprometimento. Para guiar sua decisão, considere estas questões cruciais:
- O paciente é capaz de manter a via aérea pérvia e protegida? Observe se há obstrução por secreções, sangue, corpo estranho ou queda da língua. Pacientes com rebaixamento do nível de consciência, especialmente com pontuação na Escala de Coma de Glasgow (ECG) ≤ 8, frequentemente perdem os reflexos protetores da via aérea, aumentando significativamente o risco de aspiração.
- O paciente consegue ventilar e oxigenar de forma eficaz? Avalie a frequência e o padrão respiratório, o uso de musculatura acessória, a presença de cianose e a oximetria de pulso. Sinais como gasping, respiração agônica ou apneia são indicativos de falência iminente e exigem ação imediata.
- Qual é a provável evolução clínica e o desfecho esperado do paciente? Em algumas situações, mesmo que a via aérea esteja momentaneamente patente, a progressão da doença de base (por exemplo, o edema crescente em queimaduras de face e pescoço ou em reações anafiláticas graves) pode indicar a necessidade de uma intervenção precoce para evitar uma crise.
Quando Agir: Indicações Gerais para Intervenção
A decisão de intervir na via aérea, frequentemente através da intubação orotraqueal (IOT), baseia-se em critérios clínicos claros. As indicações gerais incluem:
- Incapacidade de manter a permeabilidade da via aérea: Obstrução por qualquer causa (ex: corpo estranho, edema, hematoma, queda da língua).
- Incapacidade de proteger a via aérea contra aspiração: Coma (definido por uma ECG ≤ 8), ausência de reflexo de tosse ou deglutição, vômitos persistentes em paciente com rebaixamento de consciência.
- Falência ventilatória: Incapacidade de manter oxigenação adequada (ex: saturação de O2 < 90% apesar de oxigenoterapia otimizada, PaO2 < 60 mmHg) ou ventilação adequada (ex: hipercapnia progressiva com PaCO2 > 50 mmHg e acidose respiratória com pH < 7,35), ou trabalho respiratório excessivo levando à fadiga.
- Parada cardiorrespiratória (PCR) ou apneia.
- Necessidade de suporte ventilatório prolongado ou sedação para procedimentos diagnósticos ou terapêuticos.
Certas condições clínicas específicas frequentemente exigem a garantia de uma via aérea de forma mais urgente:
- Crise asmática grave refratária: Pacientes em coma, PCR, com gasping ou apneia. É importante notar que pacientes asmáticos intubados apresentam risco aumentado de barotrauma.
- Contusão pulmonar extensa: Especialmente se houver saturação de O2 < 90% (PaO2 < 60 mmHg) na admissão ou apesar de oxigenoterapia otimizada, ou frequência respiratória > 35 incursões por minuto (irpm), a intervenção precoce deve ser considerada.
- Lesão por inalação em queimados: A presença de queimaduras em ambientes fechados, chamuscamento de pelos faciais, escarro carbonáceo ou queimaduras faciais são sinais de alerta para edema de via aérea, exigindo a obtenção de uma via aérea definitiva precocemente.
- Sangramento ativo em vias aéreas: O risco iminente de aspiração de sangue é uma indicação formal.
- Trauma maxilofacial extenso: Embora possa dificultar a intubação, a necessidade de proteger a via aérea pode ser imperativa.
- Suspeita de epiglotite: Requer intervenção precoce em ambiente controlado devido ao risco de obstrução súbita.
O Conceito de Via Aérea Definitiva
Uma via aérea definitiva é aquela que consiste em um tubo locado na traqueia com um balonete (cuff) insuflado abaixo das cordas vocais, conectado a uma forma de ventilação assistida enriquecida com oxigênio. A intubação orotraqueal ou nasotraqueal e a via aérea cirúrgica (cricotireoidostomia ou traqueostomia) são exemplos. Esta é a forma mais segura e confiável de garantir ventilação, oxigenação e proteção contra aspiração a longo prazo ou em pacientes críticos.
Primeiras Manobras e Dispositivos Auxiliares
Antes de se partir para uma via aérea definitiva, ou enquanto se prepara para ela, manobras mais simples podem ser salvadoras:
- Abertura de Vias Aéreas:
- As manobras manuais como a inclinação da cabeça e elevação do queixo (head tilt-chin lift - em pacientes sem suspeita de trauma cervical) ou a tração da mandíbula (jaw thrust - em pacientes com suspeita de trauma cervical) são fundamentais para aliviar a obstrução causada pela queda da língua sobre a parede posterior da faringe.
- Se um corpo estranho for visível na orofaringe, deve-se tentar removê-lo cuidadosamente com um movimento de pinça ou com os dedos. A varredura digital às cegas não é recomendada, especialmente em crianças, devido ao risco de empurrar o objeto ainda mais para dentro da via aérea ou causar lesões.
- Cânula Orofaríngea (Cânula de Guedel): Este é um dispositivo auxiliar crucial, de formato curvo, projetado para manter a base da língua afastada da parede posterior da faringe, facilitando a passagem do ar.
- Indicação: Utilizada em pacientes inconscientes ou profundamente torporosos que não possuem reflexo de vômito ativo.
- Técnica de Inserção: O tamanho correto é fundamental e geralmente é medido da comissura labial ao ângulo da mandíbula. A cânula é inserida na cavidade oral com a concavidade voltada para o palato duro (céu da boca). Ao atingir a transição entre o palato duro e o palato mole, ela é rotacionada 180 graus, deslizando-a para sua posição final sobre a língua.
- Pontos Importantes: A cânula de Guedel não é uma via aérea definitiva. Seu uso em pacientes conscientes ou com reflexos nauseosos presentes é contraindicado, pois o estímulo na base da língua pode induzir vômito e, consequentemente, broncoaspiração.
Embora a intubação seja um procedimento salvador, é vital reconhecer que existem situações onde ela pode ser extremamente dificultada ou até contraindicada inicialmente. Estas situações exigirão avaliação experiente e, possivelmente, abordagens alternativas que serão discutidas nas seções subsequentes.
Intubação Orotraqueal (IOT): O Guia Definitivo da Técnica Padrão
A Intubação Orotraqueal (IOT) é um procedimento médico vital que consiste na inserção de um tubo através da boca até a traqueia, estabelecendo uma via aérea definitiva e segura. É uma técnica padrão em diversas situações críticas, desde emergências e suporte ventilatório prolongado até procedimentos cirúrgicos, permitindo ventilação controlada, oxigenação adequada e proteção contra aspiração.
Indicações para Intubação Orotraqueal
A decisão de proceder com a IOT, estabelecendo uma via aérea definitiva, fundamenta-se nas indicações gerais para intervenção na via aérea discutidas anteriormente. A IOT torna-se o procedimento de escolha quando o objetivo é:
- Assegurar controle definitivo da permeabilidade da via aérea: Essencial em casos de obstrução física (edema como em anafilaxia ou queimaduras cervicofaciais, trauma maxilofacial extenso, hematoma cervical expansivo) ou funcional devido ao rebaixamento do nível de consciência.
- Prover proteção máxima contra aspiração: Particularmente crítico em pacientes com Escala de Coma de Glasgow (ECG) ≤ 8 (especialmente em Traumatismo Cranioencefálico - TCE), sangramento profuso de via aérea, ou vômitos persistentes associados ao rebaixamento de consciência.
- Permitir suporte ventilatório otimizado e, se necessário, prolongado: Indispensável quando a falência ventilatória manifesta-se por apneia, respiração irregular, hipoxemia refratária, hipercapnia progressiva (pCO2 > 50 mmHg e/ou pH < 7,3 com acidose respiratória), ou quando se antecipa a necessidade de ventilação mecânica controlada.
Além dessas diretrizes gerais, certas situações clínicas específicas frequentemente precipitam a necessidade de IOT:
- Em recém-nascidos, se a Ventilação com Pressão Positiva (VPP) com máscara for ineficaz após 30 segundos, ou se persistir apneia, respiração irregular ou frequência cardíaca < 100 bpm após VPP otimizada. Em RNs com hérnia diafragmática, a IOT é preferível à VPP com máscara para evitar insuflação gástrica.
- Em Estado de Mal Epiléptico (EME) refratário às medicações de primeira e segunda linha.
- Presença de sinais de lesão inalatória (queimaduras faciais, depósitos de carbono na orofaringe, rouquidão progressiva).
- Em SDRA com sinais de falência respiratória, mesmo sem dispneia evidente.
- Em Hemorragia Digestiva Alta (HDA) grave com rebaixamento do nível de consciência, para proteção da via aérea.
- Em exacerbações graves de Asma ou DPOC, a IOT é uma medida de exceção, reservada para casos refratários à terapia máxima não invasiva, fadiga respiratória iminente, parada cardiorrespiratória ou incapacidade de manejar secreções.
É crucial notar que a IOT com pressão positiva é contraindicada em pacientes com pneumotórax hipertensivo não drenado, pois pode agravar a condição. A estabilização hemodinâmica do paciente deve ser buscada antes e durante o procedimento, sempre que possível.
Preparo do Paciente e do Material
Um preparo meticuloso é fundamental. O mnemônico SOAP ME pode ser útil:
- Sucção: Aspirador testado e pronto.
- Oxigênio: Pré-oxigenação com O2 a 100% por 3-5 minutos (VMNI pode ser usada para otimizar).
- Airway (Via Aérea): Equipamentos para IOT e via aérea difícil.
- Kit de intubação: Laringoscópio (cabo e lâminas curvas e retas de tamanhos variados, testados), tubos orotraqueais de tamanhos adequados (e um menor/maior), fio guia (bougie ou estilete), seringa para insuflar o cuff, material de fixação.
- Dispositivos de resgate (máscara laríngea, material para cricotireoidostomia).
- Posicionamento: Paciente em posição de "sniffing" (coxim occipital para alinhar os eixos oral, faríngeo e laríngeo), se não houver contraindicação (ex: trauma cervical).
- Monitorização: Monitor cardíaco, oximetria de pulso, pressão arterial não invasiva, capnografia.
- Equipamentos e Medicações: Acesso venoso calibroso, medicações preparadas.
A IOT deve ser realizada pelo profissional mais experiente disponível.
Farmacologia Associada à IOT
A Sequência Rápida de Intubação (SRI) é frequentemente utilizada para otimizar as condições de intubação e minimizar o risco de aspiração, conforme detalhado na próxima seção. As medicações usualmente incluem:
- Pré-tratamento (opcional):
- Lidocaína: Pode atenuar a resposta simpática à laringoscopia e o broncoespasmo, útil em pacientes com TCE ou asmáticos.
- Atropina: Considerar em lactentes (< 1 ano) para prevenir bradicardia reflexa. Também ajuda a reduzir secreções.
- Opioide (ex: Fentanil): Para analgesia e atenuação da resposta hemodinâmica.
- Indução (Sedação):
- Etomidato (0,3 mg/kg): Cardiovascularmente estável, boa escolha em instabilidade hemodinâmica.
- Quetamina (1-2 mg/kg): Efeito broncodilatador, útil em asmáticos; pode aumentar a pressão arterial e frequência cardíaca.
- Propofol (1,5-2,5 mg/kg): Início rápido, curta duração; pode causar hipotensão.
- Midazolam: Início mais lento, duração mais longa; pode causar hipotensão.
- Bloqueio Neuromuscular:
- Succinilcolina (1-2 mg/kg): Início rápido (45-60s), curta duração (5-10min). Contraindicada em hipercalemia, grandes queimados (após 24-48h), lesões por esmagamento, doenças neuromusculares. Em usuários de cocaína, rocurônio é preferível.
- Rocurônio (0,6-1,2 mg/kg): Início um pouco mais lento (60-90s), duração mais longa (30-60min). Pode ser revertido com sugamadex.
Técnica de Intubação Orotraqueal (Laringoscopia Direta)
- Posicionamento: Otimizar a posição do paciente ("sniffing position").
- Laringoscopia:
- Segurar o laringoscópio com a mão esquerda.
- Abrir a boca do paciente com a mão direita.
- Inserir a lâmina pelo lado direito da boca, deslocando a língua para a esquerda.
- Avançar a lâmina cuidadosamente, identificando a epiglote.
- Lâmina curva (Macintosh): A ponta é posicionada na valécula.
- Lâmina reta (Miller): A ponta é usada para elevar diretamente a epiglote.
- Tracionar o laringoscópio para cima e para frente, sem fazer movimento de báscula nos dentes.
- Visualizar a fenda glótica (cordas vocais). Em crianças, a visualização pode ser mais difícil.
- Inserção do Tubo:
- Sob visualização direta, introduzir o tubo orotraqueal pela fenda glótica até que o cuff ultrapasse as cordas vocais (geralmente 2-3 cm abaixo).
- Remover o laringoscópio e o estilete (se usado).
- Insuflação do Cuff: Insuflar o balonete com ar suficiente para vedar a traqueia (geralmente 5-10 ml de ar), monitorando a pressão do cuff se disponível.
- Uso do Bougie: Em casos de intubação difícil onde a epiglote é visível mas as cordas vocais não (Cormack-Lehane grau III), o bougie pode ser inserido "às cegas" sob a epiglote. A confirmação da posição traqueal pode ser feita pela sensação de "cliques" ao raspar nos anéis traqueais ou pelo "hold-up". O tubo orotraqueal é então deslizado sobre o bougie.
Confirmação do Posicionamento do Tubo
A confirmação imediata e precisa do posicionamento do tubo é crucial:
- Visualização direta: Observar o tubo passando pelas cordas vocais.
- Ausculta pulmonar e epigástrica: Realizar a ausculta em cinco pontos: região epigástrica (excluir intubação esofágica), bases pulmonares (D e E) e ápices pulmonares (D e E) para verificar ventilação bilateral simétrica e excluir intubação seletiva.
- Expansão torácica: Observar elevação simétrica do tórax.
- Capnografia (detecção de CO2 exalado): É o método padrão-ouro para confirmação imediata.
- Condensação de vapor no tubo.
- Radiografia de tórax: Confirma a profundidade correta do tubo (ponta a 2-5 cm acima da carina em adultos) e exclui complicações. Deve ser realizada após a estabilização inicial.
É fundamental reavaliar o posicionamento do tubo frequentemente, especialmente após movimentação do paciente. A fixação adequada do tubo também é essencial.
Técnicas Especializadas de Intubação: Sequência Rápida (ISR) e Via Nasotraqueal
Em certas situações clínicas, o manejo da via aérea exige abordagens especializadas. Pacientes com risco aumentado de aspiração ou com particularidades anatômicas podem se beneficiar da Intubação de Sequência Rápida (ISR) ou da Intubação Nasotraqueal.
Intubação de Sequência Rápida (ISR): Proteção Máxima Contra Aspiração
A Intubação de Sequência Rápida (ISR), ou Sequência Rápida de Intubação (SRI), é uma técnica avançada de intubação orotraqueal projetada para assegurar a via aérea de forma ágil e segura, especialmente em pacientes com risco elevado de aspiração de conteúdo gástrico (ex: estômago cheio, TCE). Seu principal objetivo é minimizar o tempo entre a perda dos reflexos protetores da via aérea e o posicionamento do tubo endotraqueal com o cuff insuflado. A ISR envolve a administração quase simultânea de um agente indutor e um bloqueador neuromuscular de ação rápida, conforme descrito na farmacologia da IOT.
O protocolo da ISR é classicamente estruturado nos "7 Ps":
- Preparação: Verificação e organização do material, avaliação do paciente (incluindo preditores de via aérea difícil).
- Pré-oxigenação: Oxigênio a 100% por 3 a 5 minutos.
- Pré-tratamento: Administração de fármacos para atenuar respostas adversas (ex: lidocaína, fentanil, atropina), conforme contexto clínico (etapa controversa).
- Paralisia com Indução: Administração rápida e sequencial de hipnótico/sedativo potente, seguido imediatamente por bloqueador neuromuscular.
- Posicionamento e Proteção: Otimização da posição da cabeça e pescoço ("sniffing"). A manobra de Sellick (pressão cricoide) pode ser aplicada para tentar ocluir o esôfago, embora seu uso rotineiro seja debatido e menos comum em pediatria. Evita-se ventilação com pressão positiva antes da passagem do tubo.
- Passagem do Tubo: Laringoscopia e inserção do tubo, com confirmação do posicionamento.
- Pós-intubação: Cuidados imediatos, incluindo fixação, ventilação mecânica, analgesia/sedação contínuas e monitorização.
A ISR não é o método de escolha para vítimas de Parada Cardiorrespiratória (PCR), pois o paciente já está inconsciente. A inexperiência ou previsão de via aérea difícil podem ser contraindicações relativas, exigindo planejamento cuidadoso.
Intubação Nasotraqueal: Uma Alternativa com Indicações e Contraindicações Precisas
A intubação nasotraqueal consiste na inserção do tubo endotraqueal através de uma narina até a traqueia. Pode ser indicada em cirurgias orais/maxilofaciais ou em pacientes que não toleram tubo oral.
No entanto, possui contraindicações significativas, especialmente no trauma:
- Apneia: Contraindicação absoluta, pois a técnica "cega" frequentemente requer respiração espontânea.
- Suspeita ou confirmação de Fratura de Base de Crânio: Risco de inserção inadvertida na cavidade craniana.
- Trauma Craniofacial Severo ou Trauma Maxilofacial Extenso: Incluindo fraturas faciais complexas (Le Fort II e III).
- Coagulopatias ou Sangramento Nasal Profuso.
- Obstrução Nasal Significativa.
- Infecção Sinusal ou Nasal Aguda.
- Edema de Glote e Distorções Anatômicas do Pescoço.
A experiência da equipe é determinante. A decisão por esta via deve ponderar benefícios e riscos.
Além da IOT: Máscara Laríngea e Dispositivos Supraglóticos Essenciais
A intubação orotraqueal (IOT) é um pilar no manejo avançado da via aérea, mas não é a única ferramenta. Em cenários onde a IOT é difícil ou não é a melhor opção inicial, os dispositivos supraglóticos (DSG), como a máscara laríngea (ML), são alternativas valiosas.
O que são Dispositivos Supraglóticos?
DSG são ferramentas intermediárias entre a ventilação com bolsa-valva-máscara e a IOT. Incluem a Máscara Laríngea (ML), Tubo Laríngeo (TL), e dispositivos como o i-gel®. São posicionados acima da glote, criando uma vedação para ventilação sem necessidade de visualização das cordas vocais. Sua principal vantagem é a facilidade e rapidez de inserção.
A Máscara Laríngea (ML): Uma Aliada Estratégica
A ML consiste em um tubo conectado a uma máscara com manguito inflável (ou auto-vedante) que se assenta sobre a abertura da laringe.
Indicações e Vantagens da ML:
- Alternativa à ventilação com bolsa-valva-máscara ineficaz.
- Via aérea de resgate: Fundamental em cenários de "não consigo intubar, não consigo ventilar" (NINV).
- Manejo da via aérea difícil.
- Ponte para uma via aérea definitiva: A ML estabiliza o paciente enquanto se prepara para IOT ou via aérea cirúrgica. É geralmente um dispositivo provisório (substituir em ~4-8 horas).
- Uso em anestesia: Para procedimentos eletivos de curta duração.
- Reanimação: Em protocolos (ex: neonatais) se VPP inicial não for efetiva.
Limitações da ML:
- Não protege completamente contra aspiração.
- Pode haver vazamento de ar com ventilação com altas pressões.
- Posicionamento inadequado pode levar à ventilação ineficaz.
Dispositivos Supraglóticos no Algoritmo da Via Aérea
A decisão entre ML e IOT depende do contexto, urgência, material e experiência.
- Falha na IOT: Conforme diretrizes como o ATLS, o DSG é uma manobra de resgate essencial. Se falhar, uma via aérea cirúrgica pode ser necessária.
- Falha na Ventilação Não Invasiva (VNI): Em insuficiência respiratória, a falha da VNI geralmente leva à IOT. Os DSG entram se a IOT subsequente for difícil.
Diferenciando de Vias Aéreas Definitivas
DSG não substituem a intubação traqueal (orotraqueal ou nasotraqueal) quando uma via aérea definitiva é mandatória (proteção prolongada contra aspiração, altas pressões ventilatórias, VM de longa duração). A traqueostomia é um procedimento cirúrgico para via aérea a longo prazo ou obstruções intransponíveis pela IOT.
Emergências e Vias Aéreas Cirúrgicas: Cricotireoidostomia e Traqueostomia
Quando a intubação orotraqueal ou nasotraqueal falha, é impossível ou contraindicada, uma via aérea cirúrgica torna-se salvadora. Os principais métodos são a cricotireoidostomia e a traqueostomia.
Cricotireoidostomia: A Via Aérea de Emergência no Trauma
A cricotireoidostomia estabelece rapidamente uma via aérea através de uma incisão na membrana cricotireóidea.
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Indicações Principais:
- Falha na intubação orotraqueal (IOT).
- Obstrução aguda da via aérea superior (corpo estranho, edema, hematoma, trauma).
- Trauma maxilofacial extenso impedindo IOT.
- Sangramento vultuoso em orofaringe impedindo visualização.
- Fratura de laringe (dependendo da extensão, se IOT não viável).
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Por que é a escolha no Trauma? É a via aérea cirúrgica de eleição no trauma agudo devido à sua rapidez, simplicidade técnica e menor taxa de complicações imediatas em mãos treinadas, comparada à traqueostomia de emergência.
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Técnica e Considerações: Envolve incisão vertical na pele, incisão horizontal na membrana cricotireóidea e inserção de tubo. A cricotireoidostomia por punção oferece oxigenação temporária, mas não é definitiva nem protege contra aspiração. É, na maioria das vezes, uma medida temporária, convertida para traqueostomia se necessário.
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Contraindicações Relativas:
- Crianças menores de 12 anos (risco de estenose subglótica; traqueostomia pode ser preferível).
- Trauma laríngeo extenso com transecção.
Traqueostomia: Usos, Métodos e Cuidados
A traqueostomia cria uma abertura na traqueia (geralmente entre o 2º e 3º anéis traqueais) para inserção de cânula. Frequentemente planejada, pode ser de urgência.
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Indicações Principais:
- Ventilação mecânica prolongada (VMP): Mais comum (considerar após 7-14 dias de IOT) para reduzir risco de estenose laringotraqueal, aumentar conforto, facilitar desmame e higiene brônquica, e reduzir espaço morto.
- Obstrução da via aérea superior crônica/subaguda.
- Manejo de secreções pulmonares (tosse ineficaz).
- Proteção crônica da via aérea (risco de aspiração).
- Falha na extubação.
- Conversão de cricotireoidostomia.
- Casos específicos no trauma (ex: fratura de laringe onde IOT/crico não são viáveis, crianças < 12 anos necessitando via aérea cirúrgica).
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Técnicas:
- Cirúrgica (aberta): Tradicional, em centro cirúrgico.
- Percutânea dilatacional (TPD): Minimamente invasiva, à beira leito (UTI), guiada por broncoscopia. Contraindicada em trauma com suspeita de lesão cervical (requer hiperextensão).
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Cuidados e Considerações:
- Incisão idealmente entre 2º e 3º (ou 4º) anéis traqueais.
- Fixação segura da cânula.
- Colonização bacteriana é comum, não necessariamente infecção.
- Pode ser temporária ou permanente.
- Cuff não precisa estar sempre insuflado (exceto risco de aspiração/VPP).
Comparativo: Cricotireoidostomia vs. Traqueostomia
| Característica | Cricotireoidostomia | Traqueostomia | | :------------------ | :--------------------------------------------------- | :--------------------------------------------------------------------------- | | Natureza | Emergência | Urgência / Eletiva | | Velocidade | Muito rápida | Mais demorada | | Complexidade | Menos complexa | Mais complexa | | Indicação Primária | Via aérea imediata no trauma, falha de IOT aguda | Ventilação prolongada, obstrução crônica, manejo de secreções, conversão de crico | | Localização | Membrana cricotireóidea | Entre 2º e 3º (ou 4º) anéis traqueais | | Duração | Temporária (geralmente < 72h, converter se necessário) | Pode ser temporária ou permanente | | Trauma Agudo | Via de escolha | Exceção (ex: crianças, fratura laríngea específica) |
Manejo em Ventilação Mecânica Prolongada
A decisão por traqueostomia em VMP é multifatorial, geralmente considerada se IOT > 7-14 dias. A traqueostomia precoce (primeiros 7-10 dias de VMP) pode ter benefícios (menor tempo de VM/UTI, menor sedação), mas evidências não são uniformes.
Manejo da Via Aérea em Cenários Críticos: Trauma, Pediatria e Situações Especiais
O manejo da via aérea em cenários desafiadores exige conhecimento especializado.
Manejo da Via Aérea no Paciente Traumatizado
A IOT, preferencialmente com sequência rápida de intubação (SRI), é o padrão-ouro em traumatizados graves (ECG < 8, risco de aspiração).
- Trauma e Coluna Cervical:
- Estabilização manual em linha da coluna cervical é imperativa durante o manejo. O colar cervical pode ser aberto/removido temporariamente, mas deve ser recolocado após a IOT.
- Flexão da coluna cervical é contraindicada.
- A intubação nasotraqueal é geralmente evitada em politraumatizados, especialmente crianças, e tem contraindicações claras como fratura de base de crânio.
- Trauma Facial Grave:
- A IOT pode ser contraindicada em traumas maxilofaciais extensos com sangramento profuso e distorção anatômica. Uma via aérea cirúrgica é geralmente indicada.
- Outras Situações de Trauma:
- Em queimaduras circunferenciais de pescoço ou enfisema subcutâneo cervical progressivo com estridor, a IOT precoce é crucial.
- A videolaringoscopia pode ser valiosa.
- Em hematoma cervical em expansão, a IOT deve ser pronta.
Particularidades da Via Aérea Pediátrica
A intubação em crianças apresenta desafios únicos.
- Anatomia e Dificuldades:
- Língua proporcionalmente maior, laringe mais anterior/cefálica (funil), epiglote longa/flexível (ômega).
- Traqueia curta/estreita (risco de intubação seletiva/extubação).
- Menor capacidade residual funcional, maior consumo de O2 (dessaturação rápida).
- Técnicas e Equipamentos:
- Posicionamento: Coxim sob ombros/escápulas (< 2 anos); coxim sob occipício (> 2 anos, posição "cheirador").
- Lâminas de Laringoscópio: Reta (Miller) preferida para neonatos/lactentes (controle direto da epiglote); curva (Macintosh) na valécula.
- Tubos Orotraqueais (TOT):
- Neonatos (<28 dias): Geralmente sem cuff. Profundidade (cm na rima labial) ~ "peso (kg) + 6".
- Crianças (>28 dias): Tubos com cuff cada vez mais recomendados (proteger contra aspiração, reduzir vazamento, risco de extubação). Pressão do cuff < 20-25 cmH₂O.
- Fio-guia (estilete): Uso aceitável com cautela (ponta não ultrapassar TOT).
- Pressão Cricoide (Manobra de Sellick): Não recomendada rotineiramente na pediatria.
- Situações Específicas:
- Aspiração Traqueal Neonatal: Laringoscopia e aspiração sob visualização direta (SBP) apenas uma vez, em RNs com vitalidade inadequada (ex: mecônio espesso e RN não vigoroso).
- Choque Hemorrágico Pediátrico: IOT indicada com hipovolemia significativa, rebaixamento de consciência ou necessidade cirúrgica.
- Crise Febril: IOT reservada para insuficiência respiratória ou depressão grave do SNC.
- Intubação nasotraqueal não recomendada em crianças.
- Solicitar auxílio experiente sempre que possível.
Epiglotite: Uma Emergência Respiratória
Infecção bacteriana causando inflamação/edema da epiglote e supraglote, podendo obstruir a via aérea.
- Diagnóstico e Manejo:
- Diagnóstico clínico (febre alta, dor de garganta, disfagia, estridor, sialorreia, posição de tripé).
- Prioridade: assegurar a via aérea. IOT o mais rápido possível, em ambiente controlado, por profissional experiente.
- Evitar manipulação da orofaringe ou exames agitantes antes da intubação.
- Tratamento:
- Após via aérea segura: antibioticoterapia EV (ex: ceftriaxona) e corticosteroides.
- Condutas Inadequadas: Nebulização com beta-adrenérgicos, adrenalina inalatória, anti-histamínicos isolados são ineficazes.
Ventilação e Intubação no Tórax Instável
Fraturas múltiplas de arcos costais resultando em movimento paradoxal. Hipóxia principal por contusão pulmonar subjacente.
- Indicações para IOT e Ventilação Mecânica:
- Insuficiência respiratória significativa (hipoxemia, hipercapnia).
- Frequência respiratória > 35 ou < 8 irpm.
- Fadiga muscular respiratória.
- TCE grave associado (Glasgow < 8).
- IOT precoce em contusão pulmonar com SatO₂ < 90% na admissão.
- Suporte Ventilatório: Ventilação com pressão positiva estabiliza internamente o segmento, melhora troca gasosa, reduz trabalho respiratório.
Intubação e Traqueostomia: COVID-19 e Outras Considerações
- COVID-19:
- IOT precoce em insuficiência respiratória progressiva pode ser benéfica.
- Traqueostomia em COVID-19 é procedimento de alto risco de aerossóis. Requer EPI rigoroso, ambiente com pressão negativa. Decisão frequentemente postergada. Infecção aguda por COVID-19 é contraindicação relativa nos primeiros dias.
- Complicações e Indicações Gerais:
- Granuloma de traqueia pode surgir após IOT.
- Indicações de IOT em condições específicas:
- Encefalopatia Hepática: Baseada na proteção da via aérea e estado respiratório.
- Hematêmese Grave: Para proteger via aérea, especialmente com rebaixamento de consciência ou instabilidade.
- Síndrome do Choque Tóxico: Se comprometimento respiratório/neurológico grave.
- Exacerbação Grave de Asma: Postergar IOT em deterioração com falência respiratória iminente aumenta mortalidade.
Via Aérea Difícil e Complicações: Prevenção, Identificação e Soluções
Antecipar uma via aérea difícil e conhecer as complicações são fundamentais.
Predição da Via Aérea Difícil
Avaliação pré-intubação inclui:
- Avaliação Anatômica:
- Abertura bucal (> 3 cm ou três dedos).
- Distância tireo-mentoniana (DTM) (< 6 cm sugere dificuldade).
- Classificação de Mallampati.
- Mobilidade cervical.
- Outros: Dentes proeminentes, pescoço curto/grosso, obesidade, alterações mandibulares, histórico de intubação difícil.
- Condições Clínicas: Trauma maxilofacial, sangue/edema nas vias aéreas, tumores.
Complicações Associadas ao Manejo da Via Aérea
Podem ser precoces ou tardias.
Complicações Precoces:
- Trauma direto: Lábios, língua, dentes, mucosas.
- Hipoxemia e hipercapnia.
- Broncoaspiração: Grave, especialmente em urgências/estômago cheio. Prevenção: jejum, SRI.
- Intubação esofágica.
- Intubação seletiva (geralmente brônquio direito).
- Respostas reflexas: Taquicardia, hipertensão, aumento PIC/PIO.
- Pneumotórax (agravamento por VPP).
Complicações Tardias:
- Estenose Traqueal Pós-Intubação: Significativa.
- Causa principal: Trauma por IOT/traqueostomia, especialmente pressão excessiva do cuff (> 25-30 mmHg) levando à isquemia, ulceração, necrose e cicatrização fibrótica.
- Fatores de risco: Intubação prolongada (> 7-10 dias), alta pressão do cuff, movimentação do tubo, infecção.
- Sintomas: Dispneia progressiva, estridor, tosse, cornagem.
- Lesões Laríngeas Pós-Intubação:
- Disfonia (rouquidão): Edema, granulomas, luxação aritenóide (rara).
- Estridor laríngeo: Edema de glote/subglótico.
- Granulomas e pólipos.
- Fístula traqueoesofágica.
- Disfagia.
Monitorização Essencial: A Capnografia
A capnografia (CO2 exalado) é padrão ouro para:
- Confirmar intubação traqueal.
- Detectar intubação esofágica (ausência de CO2 ou queda rápida a zero).
- Auxiliar no diagnóstico de intubação seletiva (capnografia pode ser normal, mas clínica e ausculta alteradas; tracionar tubo e reavaliar).
Manejo de Falhas na Intubação
Se IOT falhar (não mais que 2-3 tentativas):
- Manter oxigenação.
- Dispositivos Extraglóticos (Supraglóticos): ML, TL como via de resgate.
- Via Aérea Cirúrgica de Emergência: Se ventilação com DSG falhar ("não intuba, não ventila"), cricotireoidostomia.
Falha de Extubação
Necessidade de reintubação após remoção do tubo.
- Causas: Edema laríngeo, secreções, fraqueza muscular, broncoespasmo, atelectasia, IC.
- Manifestações: Taquipneia, dessaturação, uso de musculatura acessória, estridor.
- Prevenção: Avaliação de prontidão, manejo de secreções, VNI profilática em alto risco.
Administração de Medicamentos pela Via Endotraqueal
Em emergência, sem acesso IV/IO, alguns fármacos via tubo endotraqueal (mnemônico NAVEL):
- Naloxona
- Atropina
- Vasopressina (menos comum)
- Epinefrina (Adrenalina)
- Lidocaína
- Doses: Geralmente 2-3x maiores que IV (epinefrina até 10x). Diluir em 5-10 mL SF/AD, seguir com ventilações.
Suporte Ventilatório Avançado: Da Ventilação Mecânica aos Cuidados Paliativos
Uma vez garantida a via aérea, o foco se volta para o suporte ventilatório avançado.
Intubação e Ventilação Mecânica (VM): Indicações e Conduta
Uma vez estabelecida a via aérea, frequentemente através da IOT, o passo seguinte em muitos cenários críticos é o início da ventilação mecânica (VM). Este suporte é vital quando o paciente não consegue manter a respiração espontânea eficaz ou a oxigenação adequada, mesmo com a via aérea pérvia. As principais situações que demandam a transição para VM incluem:
- Insuficiência Respiratória Aguda (IRpA) Grave: Seja hipoxêmica refratária (incapacidade de manter a oxigenação apesar de oxigênio suplementar) ou hipercápnica (retenção de CO2 com acidose respiratória ou alteração do nível de consciência), especialmente após falha de medidas menos invasivas como a ventilação não invasiva (VNI).
- Fadiga Respiratória Iminente: Quando o paciente demonstra sinais de exaustão da musculatura respiratória, indicando que a falência ventilatória completa é provável.
- Necessidade de Proteção da Via Aérea e Controle Ventilatório em Condições Específicas:
- Traumatismo Cranioencefálico (TCE) Grave: Para proteger a via aérea e otimizar a oxigenação e ventilação cerebral, controlando a PaCO2.
- Tórax Instável Grave: Para estabilizar internamente o segmento instável da parede torácica, melhorar a troca gasosa e reduzir o trabalho respiratório.
- Pós-Parada Cardiorrespiratória (PCR): Para garantir ventilação e oxigenação controladas.
- Falha da Ventilação com Pressão Positiva (VPP) em Neonatos: Se, após VPP com máscara, persistirem sinais de comprometimento respiratório ou circulatório, a IOT e VM são indicadas. Em condições como hérnia diafragmática congênita, a IOT para VPP é mandatória desde o início para evitar distensão gástrica. A máscara laríngea pode ser considerada como passo intermediário.
- Exacerbação Aguda de DPOC (EADPOC) com Critérios de Gravidade: Reservada para casos refratários à VNI, PCR, ou incapacidade de manejar secreções com risco de fadiga.
É fundamental lembrar que a IOT e a VM são medidas de suporte, visando manter a vida e permitir que o tratamento da causa subjacente da insuficiência respiratória seja efetivo. Em pacientes alertas, contactantes e com boa saturação, mesmo com frequência respiratória elevada, a VNI pode ser uma alternativa antes da intubação.
Manejo de Via Aérea Avançada em Parada Cardiorrespiratória (PCR)
Durante a RCP, o manejo avançado da via aérea (IOT) visa otimizar oxigenação/ventilação e minimizar interrupções nas compressões.
- Quando considerar: Se ventilação com BVM ineficaz, paradas prolongadas (>15 min) ou causa provável hipóxica.
- Não atrasar compressões: Obtenção da via aérea não deve atrasar compressões. Manter BVM se não houver profissional experiente.
- Gestantes: AHA recomenda fortemente via aérea avançada em gestantes na PCR.
- Após a intubação: Compressões (100-120/min) e ventilações (uma a cada 2-3 segundos, ou 20-30/min para ventilação assíncrona) tornam-se independentes.
Intubação em Anestesia Geral
IOT é frequente em anestesia geral (cirurgias complexas, longas, relaxamento muscular profundo).
- Riscos: Em comorbidades (DPOC), pode aumentar risco de complicações respiratórias.
- Alternativas: Bloqueios de neuroeixo ou anestesia locorregional podem ser mais seguros para procedimentos menos invasivos.
Considerações em Cuidados Paliativos: Intubação e Extubação Paliativa
Decisões sobre suporte ventilatório invasivo são complexas, centradas no bem-estar do paciente.
- Intubação Paliativa: IOT é invasiva. Em pacientes sob cuidados paliativos com doença avançada refratária, pode ser inadequada, aumentando desconforto sem melhora significativa.
- Extubação Paliativa: Retirada planejada do suporte ventilatório invasivo quando não oferece mais benefícios ou prolonga sofrimento (distanásia).
- Objetivo: Conforto e dignidade nos momentos finais.
- Aspectos Legais e Éticos: Procedimento médico legalizado, após discussão multidisciplinar e com família.
- Procedimento: Preparação cuidadosa, medicações para minimizar desconforto.
Dominar o manejo da via aérea, desde os princípios fundamentais e a intubação orotraqueal até as técnicas especializadas, o uso de dispositivos supraglóticos e as abordagens cirúrgicas de emergência, é uma jornada de aprendizado contínuo e de imensa responsabilidade. Este guia buscou fornecer uma visão abrangente, capacitando-o a tomar decisões rápidas e seguras em cenários críticos, adaptando sua abordagem às particularidades de cada paciente, seja no trauma, na pediatria ou em contextos de cuidados paliativos. A excelência no manejo da via aérea reflete-se diretamente na qualidade do cuidado e nos desfechos dos pacientes.
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