O manejo eficaz do sangramento é uma pedra angular da prática médica, um desafio constante que transita desde o atendimento emergencial no trauma até a precisão exigida no centro cirúrgico e a complexidade da terapia transfusional. Este guia completo foi elaborado para capacitar você, profissional de saúde, com um conhecimento abrangente e prático, abordando o espectro do sangramento em seus mais diversos cenários. Navegaremos desde a avaliação inicial e as primeiras respostas, passando por estratégias específicas para trauma e cirurgia, até as nuances da transfusão inteligente e as fronteiras do controle hemorrágico, incluindo o manejo de anticoagulação e populações especiais. Prepare-se para aprofundar sua compreensão e refinar suas habilidades no combate a esta condição crítica.
Desvendando o Sangramento: Da Avaliação Inicial às Primeiras Respostas
O sangramento, seja ele agudo em um cenário de trauma ou uma complicação no período perioperatório, representa um desafio crítico que exige raciocínio rápido e ação decisiva. Compreender suas causas, realizar uma avaliação diagnóstica precisa e instituir as primeiras respostas de forma eficaz são passos fundamentais para um desfecho favorável.
Causas Comuns e Contextos Específicos:
No ambiente cirúrgico, o sangramento intraoperatório pode surgir de lesões vasculares diretas, como a dos vasos gástricos curtos durante uma fundoplicatura laparoscópica. Já no pós-operatório, um sangramento significativo, evidenciado por alto débito em drenos e instabilidade hemodinâmica, pode necessitar de uma reabordagem cirúrgica urgente para revisão da hemostasia. Atrasar essa intervenção, optando por observação prolongada ou apenas reposição de hemoderivados, pode agravar o quadro e induzir distúrbios de coagulação.
No trauma, as fontes de sangramento podem ser diversas e, por vezes, ocultas. As cinco principais localizações de perda sanguínea maciça incluem o tórax, abdômen (onde um FAST positivo pode indicar lesão de baço, fígado ou mesentério), retroperitônio (comum em fraturas pélvicas, especialmente as do tipo "livro aberto" que lesam o plexo venoso sacral), fraturas de ossos longos e sangramentos externos. É crucial lembrar que a pelve pode acomodar grandes volumes de sangue, até 3 a 4 litros. A hemorragia digestiva, cuja causa mais comum globalmente ainda é a doença ulcerosa péptica, também se insere neste contexto.
Avaliação Diagnóstica: O Ponto de Partida Crucial
Uma avaliação inicial rápida e precisa é vital. Isso envolve:
- Exame Clínico Detalhado: Fundamental na suspeita de complicações como seroma, hematoma ou deiscência de aponeurose frente a uma secreção sanguinolenta em ferida operatória.
- Investigação por Imagem: Exames como a ultrassonografia FAST (Focused Assessment with Sonography for Trauma) são cruciais na detecção de hemoperitônio. Em casos de hematúria pós-trauma em pacientes estáveis, a avaliação secundária com tomografia computadorizada pode ser mandatória para descartar lesões renais ou vesicais. A angiotomografia é o padrão-ouro para diagnosticar hemobilia, uma complicação tardia rara do trauma hepático.
- Avaliação Laboratorial: Embora o hemograma seja importante, a decisão de hospitalizar ou transfundir não deve basear-se unicamente no nível de hemoglobina, especialmente no trauma agudo, onde a Hb inicial pode não refletir a perda real. A investigação deve incluir contagem de plaquetas e provas de coagulação (Tempo de Protrombina - TP, Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada - TTPa).
Coagulopatias: O Inimigo Silencioso
As coagulopatias, ou distúrbios da coagulação, podem ser tanto causa primária de sangramento quanto uma complicação de hemorragias maciças.
- Suspeita Clínica: Deve-se suspeitar de coagulopatia em pacientes com epistaxe recorrente, menorragia desde a menarca (a Doença de Von Willebrand é uma causa importante), histórico familiar de distúrbios hemorrágicos, ou sangramentos espontâneos e hematomas inexplicados. A trombocitopenia também se enquadra aqui.
- Contexto: É importante diferenciar: a coagulopatia é um fator de risco para hemorragia subgaleal, não uma consequência. Em traumas diretos, o sangramento é consequência da lesão, enquanto a coagulopatia levaria a sangramentos mais espontâneos.
- Manejo Específico: Em hemorragias por varizes esofágicas com RNI (Razão Normalizada Internacional) elevado (>1,7), a administração de plasma fresco congelado pode ser indicada.
Primeiras Respostas: Controlando a Hemorragia Grave
O manejo imediato de hemorragias graves visa controlar o sangramento ativo e estabilizar o paciente. As condutas incluem:
- Compressão Direta: Medida inicial para sangramentos externos.
- Hemostasia Cirúrgica: A sutura é crucial, como no caso da hemorragia expulsiva ocular, onde a sutura imediata da incisão é a primeira conduta. Em lesões esplênicas, a sutura do baço e/ou o uso de agentes hemostáticos são eficazes.
- Controle de Danos: Em laparotomias por trauma grave, o empacotamento com compressas pode ser uma medida salvadora, como será detalhado adiante.
- Reabordagem Cirúrgica: Indicada em sangramentos pós-operatórios significativos e não controlados.
Gerenciamento de Sangue do Paciente (PBM) e Suporte Circulatório
O conceito de Gerenciamento de Sangue do Paciente (PBM) engloba um conjunto de estratégias para otimizar a massa eritrocitária do paciente, minimizar as perdas sanguíneas e reduzir a necessidade de transfusões. Isso inclui o uso criterioso de hemoderivados, com protocolos de transfusão maciça reservados para choques hemorrágicos graves (Classe IV) ou refratários.
O suporte circulatório perioperatório é essencial para manter a estabilidade hemodinâmica e a perfusão tecidual adequada. Isso envolve:
- Manejo Hídrico: A hidratação venosa adequada, por exemplo, no pré-operatório de feocromocitoma, previne hipotensão.
- Preservação Vascular: Técnica cirúrgica apurada para manter a integridade dos vasos.
- Uso de Vasopressores: Em estados de choque, como o séptico, vasopressores podem ser necessários para manter a pressão de perfusão. Contudo, é crucial monitorar a perfusão tecidual, pois a vasoconstrição periférica excessiva (ex: noradrenalina) pode, paradoxalmente, levar à hipoperfusão em certos territórios e aumentar o risco de lesão orgânica, como a renal.
É importante reconhecer as limitações de certas ferramentas diagnósticas, como o tempo de sangramento, que possui confiabilidade limitada, e de algumas abordagens terapêuticas, como a laqueadura tubária, que não resolve o sangramento menstrual intenso. A avaliação e o manejo do sangramento exigem uma abordagem integrada, desde a identificação da causa até a aplicação de terapias direcionadas e suporte hemodinâmico robusto.
Sangramento no Trauma: Estratégias de Controle em Lesões Críticas
A hemorragia é a principal causa de morte evitável no paciente traumatizado. Uma abordagem rápida, sistemática e eficaz é crucial para identificar e controlar as fontes de sangramento, minimizando suas consequências devastadoras, como o choque hemorrágico e a disfunção de múltiplos órgãos. A instabilidade hemodinâmica – caracterizada por hipotensão, taquicardia e sinais de má perfusão periférica que não respondem ou respondem transitoriamente à ressuscitação volêmica inicial – é uma indicação primária para intervenção cirúrgica imediata, especialmente em traumas abdominais com suspeita de sangramento ativo.
Lesões Hepáticas: Um Desafio Hemorrágico Constante
O fígado, devido à sua rica vascularização e localização proeminente na cavidade abdominal, é o segundo órgão mais frequentemente lesado em traumas abdominais contusos e também vulnerável em traumas penetrantes, frequentemente resultando em sangramentos volumosos.
- Manobra de Pringle: Esta é uma técnica fundamental e muitas vezes salvadora. Consiste no clampeamento digital ou instrumental do ligamento hepatoduodenal, que contém a artéria hepática própria, a veia porta e o ducto biliar comum. Seu objetivo é reduzir temporariamente o influxo sanguíneo ao fígado, auxiliando na identificação e controle da fonte hemorrágica. Se o sangramento persistir vigorosamente após uma manobra de Pringle corretamente aplicada, a suspeita recai sobre lesões das veias hepáticas ou da veia cava inferior retro-hepática, cenários de alta complexidade e mortalidade.
- Empacotamento Hepático (Packing): Em situações de lesões hepáticas extensas (graus IV, V), sangramento difuso em "lençol", ou quando o paciente desenvolve a "tríade letal" do trauma (hipotermia, acidose metabólica e coagulopatia), o empacotamento com compressas cirúrgicas ao redor do fígado é uma estratégia essencial de controle de danos (damage control surgery). O objetivo é conter a hemorragia mecanicamente, permitindo a estabilização fisiológica do paciente na UTI antes de uma reoperação planejada para reparo definitivo e remoção das compressas (geralmente em 24-48 horas). Tentar reparos complexos, como suturas extensas ou desbridamentos amplos em um paciente instável e coagulopata, pode ser fútil e agravar o quadro.
- Angiografia com Embolização: Para pacientes hemodinamicamente estáveis que apresentam evidência de sangramento arterial ativo na tomografia computadorizada (TC) com contraste (sinal do "blush" ou extravasamento ativo de contraste), a arteriografia com embolização seletiva do vaso sangrante é uma opção terapêutica minimamente invasiva e altamente eficaz.
- Outras Considerações: A hemobilia, definida como sangramento para dentro da árvore biliar, é uma complicação tardia e incomum do trauma hepático, podendo se manifestar semanas ou meses após a lesão inicial com a tríade de Quinke (dor abdominal, icterícia e hemorragia digestiva). O tratamento de escolha geralmente é a angioembolização.
Hematomas Retroperitoneais: O Sangramento Oculto
O espaço retroperitoneal pode acumular um volume significativo de sangue antes que sinais clínicos se tornem evidentes, tornando os hematomas nesta região particularmente perigosos. A conduta frente a um hematoma retroperitoneal depende crucialmente da zona anatômica acometida e do mecanismo do trauma (contuso vs. penetrante).
- Zonas Retroperitoneais e Condutas:
- Zona I (Central): Localiza-se na linha média, contendo a aorta abdominal, veia cava inferior, pâncreas e porções do duodeno. Hematomas nesta zona, independentemente do mecanismo (contuso ou penetrante), geralmente exigem exploração cirúrgica imediata devido ao alto risco de lesão de grandes vasos.
- Zona II (Lateral/Perirrenal): Estende-se lateralmente à Zona I, contendo os rins, vasos renais, glândulas adrenais e porções dos cólons ascendente e descendente. Em trauma penetrante, a exploração cirúrgica é mandatória. Em trauma contuso, hematomas estáveis, não expansivos e não pulsáteis podem ser manejados conservadoramente com observação e exames de imagem seriados. Contudo, hematomas pulsáteis, em expansão ou associados à instabilidade hemodinâmica requerem exploração.
- Zona III (Pélvica): Situa-se inferiormente à bifurcação aórtica, abrangendo os vasos ilíacos, reto, bexiga e órgãos reprodutivos. Em trauma penetrante, a exploração é indicada. Em trauma contuso, a exploração cirúrgica é raramente realizada, exceto em casos de expansão muito rápida com suspeita de lesão vascular arterial maior e exsanguinação. A angiografia com embolização é frequentemente a primeira linha para controlar sangramentos arteriais pélvicos, especialmente associados a fraturas de bacia.
- Princípio Geral no Trauma Penetrante: É fundamental ressaltar que qualquer hematoma retroperitoneal identificado durante uma laparotomia por trauma abdominal penetrante deve ser explorado cirurgicamente, independentemente da zona, devido à elevada probabilidade de lesões vasculares ou viscerais significativas subjacentes. Durante a exploração, o controle vascular proximal e distal das estruturas potencialmente lesadas é um passo crítico.
Fraturas de Ossos Longos: O Exemplo Clássico do Fêmur
Fraturas fechadas de ossos longos, como o fêmur, podem resultar em perdas sanguíneas internas significativas, comumente entre 1000 a 1500 mL, podendo chegar a volumes maiores e contribuir para o choque hipovolêmico.
- Controle Imediato: A prioridade no atendimento inicial é o controle do sangramento externo visível através de compressão direta e a imobilização da fratura com talas adequadas. A imobilização não apenas alivia a dor, mas também reduz o movimento dos fragmentos ósseos, diminuindo o dano tecidual adicional e o sangramento. O uso de garrotes é uma medida de exceção, reservada para hemorragias arteriais exsanguinantes em extremidades que não são controláveis por compressão direta.
- Manejo no ATLS: A avaliação e imobilização de fraturas suspeitas de sangramento significativo devem ocorrer durante a avaliação da circulação (componente "C" do ABCDE do ATLS).
- Tratamento Cirúrgico: A fixação cirúrgica definitiva da fratura (por exemplo, com hastes intramedulares para fraturas diafisárias de fêmur, que geralmente estão associadas a menor perda sanguínea cirúrgica comparada a placas extensas) é essencial para o controle definitivo do sangramento, restauração da estabilidade e para permitir a mobilização precoce do paciente.
Lesões Renais Traumáticas e o Sangramento
O rim é um órgão retroperitoneal altamente vascularizado, e suas lesões traumáticas podem levar à formação de hematomas retroperitoneais volumosos e, em casos mais graves (particularmente lesões de pedículo renal), à instabilidade hemodinâmica. A hematúria (macro ou microscópica) é um sinal frequente, mas sua ausência não exclui lesão renal.
- Pacientes Estáveis com Sangramento Ativo: Em pacientes hemodinamicamente estáveis que apresentam sinais de sangramento renal ativo na TC com contraste (como extravasamento de contraste ou formação de pseudoaneurisma), a arteriografia com angioembolização renal seletiva é considerada o tratamento de escolha, preservando o parênquima renal funcional.
- Pacientes Instáveis: Pacientes com lesão renal e instabilidade hemodinâmica persistente requerem exploração cirúrgica para controle da hemorragia, podendo variar de nefrorrafia a nefrectomia, dependendo da gravidade da lesão.
O Papel Crescente da Angiografia e Embolização no Trauma
A radiologia intervencionista, através da angiografia diagnóstica e da embolização terapêutica, transformou o manejo de muitos sangramentos traumáticos. Em pacientes hemodinamicamente estáveis ou estabilizados, esta técnica permite a identificação precisa da fonte do sangramento arterial e seu controle seletivo, ocluindo o vaso sangrante com materiais como molas, partículas ou agentes líquidos. Suas aplicações são vastas, incluindo:
- Lesões de órgãos sólidos (fígado, baço, rim) com sangramento ativo.
- Sangramentos pélvicos complexos associados a fraturas.
- Pseudoaneurismas ou fístulas arteriovenosas traumáticas.
- Como adjuvante ao tratamento cirúrgico, controlando fontes de sangramento de difícil acesso.
Em resumo, o manejo integrado do sangramento no trauma requer uma avaliação primária rápida e eficiente, o reconhecimento precoce da instabilidade hemodinâmica como um marcador de gravidade que exige intervenção cirúrgica, e a aplicação criteriosa de um arsenal de estratégias específicas para cada tipo de lesão. Estas estratégias vão desde manobras cirúrgicas consagradas, como a manobra de Pringle e o empacotamento, até o uso de técnicas endovasculares modernas, como a angioembolização, todas com o objetivo comum de salvar vidas e minimizar sequelas.
Sangramento Cirúrgico: Prevenção, Manejo Intra e Pós-Operatório de Hematomas
O controle eficaz do sangramento é um pilar fundamental na segurança e no sucesso de qualquer procedimento cirúrgico. Desde a meticulosa prevenção de lesões vasculares até o manejo assertivo de complicações como hematomas no pós-operatório, cada etapa exige conhecimento, precisão e uma abordagem proativa.
Prevenção e Manejo do Sangramento Intraoperatório
A prevenção do sangramento começa com um planejamento cirúrgico cuidadoso e uma técnica operatória apurada. A prevenção de lesões vasculares é crucial. Em procedimentos laparoscópicos, por exemplo, a maioria das lesões vasculares significativas, embora raras (ocorrendo em cerca de 0,3% dos casos), acontece durante a inserção do primeiro trocarte. Estruturas como a aorta terminal, veia cava inferior e vasos ilíacos (especialmente os externos e epigástricos inferiores) são as mais vulneráveis. Medidas preventivas incluem o uso da técnica de laparoscopia aberta em casos selecionados e atenção redobrada ao ângulo de entrada e à força aplicada durante a punção.
Durante a cirurgia, o sangramento pode ocorrer por lesão inadvertida de vasos. Um exemplo clássico é a lesão dos vasos gástricos curtos durante a fundoplicatura laparoscópica, devido à necessidade de mobilização do fundo gástrico. Uma hemostasia cuidadosa e sistemática ao longo de todo o procedimento é essencial para minimizar a perda sanguínea e prevenir complicações futuras. Em situações de sangramento ativo, técnicas como o empacotamento com compressas (controle de danos) ou métodos específicos de hemostasia, como os utilizados em lesões hepáticas, podem ser necessários.
A avaliação pré-operatória do risco de sangramento, considerando fatores como coagulopatias, uso de medicações (anticoagulantes, antiplaquetários) e condições clínicas do paciente, também é vital. Em cirurgias de grande porte com alto risco de sangramento, a profilaxia pré-operatória com certos anticoagulantes, como a enoxaparina, pode ser contraindicada.
Hematomas Pós-Operatórios: Um Desafio Comum
O hematoma pós-operatório é uma das complicações mais frequentes, caracterizado pelo acúmulo anormal de sangue nos tecidos, geralmente na camada subcutânea de uma incisão cirúrgica recente.
-
Manifestações Clínicas:
- Abaulamento na ferida operatória.
- Coloração azulada a arroxeada da pele (equimose).
- Edema macio ao toque.
- Dor ou sensibilidade à palpação.
- Drenagem de líquido vermelho-escuro, descrito como "sangue pisado", ou até mesmo vermelho rutilante em casos mais precoces.
-
Causas:
- Hemostasia inadequada durante a cirurgia é a causa mais comum.
- Distúrbios de coagulação preexistentes ou adquiridos.
- Uso de anticoagulantes ou antiplaquetários no perioperatório.
- Picos hipertensivos ou esforços físicos excessivos pelo paciente no pós-operatório imediato.
-
Riscos e Complicações:
- Infecção: Hematomas criam um meio de cultura ideal para bactérias, aumentando significativamente o risco de infecção do sítio cirúrgico. A flora bacteriana da pele, introduzida durante a cirurgia, é uma causa comum. Hematomas apresentam um risco de infecção maior que os seromas.
- Deiscência da Ferida: O acúmulo de sangue pode exercer tensão sobre as suturas e comprometer a cicatrização, levando à separação das bordas da ferida (deiscência).
- Compressão de estruturas adjacentes.
- Em casos de hematomas volumosos intracavitários, pode haver risco de vida.
Diagnóstico Diferencial: Hematoma vs. Seroma
É crucial distinguir o hematoma de outras coleções líquidas, principalmente o seroma.
- Seroma: É um acúmulo de líquido seroso (gordura liquefeita, soro e linfa), geralmente de aspecto claro ou levemente amarelado. Embora também possa causar abaulamento, o seroma é considerado uma complicação mais benigna em termos de risco infeccioso imediato, comparado ao hematoma.
- Deiscência de Aponeurose: Pode apresentar saída de líquido serossanguinolento em grande quantidade, mas geralmente não está associada a equimoses extensas como no hematoma.
A avaliação clínica detalhada é o primeiro passo. Em caso de dúvida, exames de imagem como a ultrassonografia podem auxiliar no diagnóstico.
Manejo de Hematomas Pós-Operatórios
O tratamento do hematoma depende do seu tamanho, da presença de sangramento ativo e dos sintomas associados:
- Conduta Expectante: Hematomas pequenos, estáveis e assintomáticos podem ser manejados de forma conservadora, com observação, pois muitos são autolimitados e reabsorvidos espontaneamente.
- Curativos Compressivos: Podem ser úteis na prevenção da formação de hematomas e seromas, ajudando a obliterar o espaço morto. Após a drenagem de um seroma ou hematoma pequeno, um curativo compressivo pode ajudar a prevenir a recorrência. No entanto, curativos compressivos não tratam a coleção sanguínea já formada e não são indicados para sangramentos volumosos, como em lesões vasculares maiores (ex: artéria inominada em traqueostomias).
- Drenagem: É o tratamento principal para hematomas sintomáticos ou volumosos. Pode ser realizada por punção aspirativa em alguns casos, mas frequentemente requer uma abordagem mais definitiva.
- Exploração Cirúrgica da Ferida (Reabordagem):
- Indicações: Hematomas em expansão (sinal de sangramento ativo e lesão vascular), sangramento persistente, hematomas muito volumosos, ou aqueles com sinais de infecção. A presença de um hematoma expansivo, especialmente em traumas vasculares, é uma indicação de exploração cirúrgica imediata.
- Procedimento: Consiste na abertura da ferida cirúrgica, evacuação completa do hematoma e dos coágulos, irrigação abundante da cavidade e, crucialmente, a revisão da hemostasia para identificar e controlar o ponto de sangramento.
- A simples retirada de pontos para drenagem, sem revisão da hemostasia, é geralmente reservada para casos de infecção de ferida operatória, não para o manejo primário de um hematoma não infectado com suspeita de sangramento ativo.
- Em contextos específicos, como um hematoma retroperitoneal por trauma penetrante com instabilidade hemodinâmica, a exploração cirúrgica é mandatória. Em hematomas renais, o controle vascular proximal (vasos renais) antes da abertura da fáscia de Gerota é um passo crítico.
A conduta inadequada, como aguardar e observar por longos períodos diante de um sangramento pós-operatório significativo ou focar apenas na reposição volêmica sem intervenção cirúrgica, pode agravar o quadro e piorar o prognóstico.
Hemotórax Pós-Operatório
O hemotórax pós-operatório, acúmulo de sangue na cavidade pleural, é uma complicação possível após cirurgias torácicas, como ressecções pulmonares. Seu manejo envolve a drenagem torácica e, em casos de sangramento volumoso ou persistente, pode necessitar de reintervenção cirúrgica (toracotomia ou videotoracoscopia exploradora).
Níveis de Hemoglobina no Pós-Operatório
O monitoramento dos níveis de hemoglobina (Hb) no pós-operatório é essencial para avaliar a perda sanguínea e guiar a necessidade de transfusão. Embora a decisão de transfundir seja multifatorial e detalhada na seção 'Terapia Transfusional Inteligente', no contexto pós-operatório, níveis de Hb entre 7 e 8 g/dL em pacientes assintomáticos e hemodinamicamente estáveis geralmente não indicam transfusão de rotina. A transfusão de concentrado de hemácias é mais frequentemente considerada quando a Hb cai abaixo de 7 g/dL, ou sob limiares mais altos (por exemplo, Hb < 10 g/dL) para pacientes com comorbidades significativas, como doença arterial coronariana, especialmente se houver evidência de isquemia miocárdica. A hipoperfusão pós-operatória pode ser causada por hipovolemia devido à perda sanguínea, resposta inflamatória sistêmica ou sepse, e a avaliação da Hb é um componente chave no seu manejo.
Decisões Críticas: Reintervenção e Transfusão
A decisão de realizar uma reabordagem cirúrgica ou transfundir hemoderivados deve ser individualizada. Sinais como débito elevado em drenos (ex: 1300ml em seis horas), instabilidade hemodinâmica apesar da reposição volêmica, ou evidência de sangramento ativo (como um hematoma em expansão) são indicativos claros da necessidade de intervenção cirúrgica urgente para revisão da hemostasia.
O manejo integrado do sangramento cirúrgico, desde a prevenção meticulosa até o tratamento ágil das complicações, é vital para otimizar os desfechos e garantir a segurança do paciente.
Terapia Transfusional Inteligente: Da Indicação à Gestão de Reações
A terapia transfusional é um pilar fundamental no manejo de diversas condições clínicas, desde anemias crônicas até hemorragias agudas em cenários de trauma e cirurgia. Contudo, seu uso deve ser criterioso, baseado em evidências e individualizado, visando maximizar benefícios e minimizar riscos. Uma abordagem "inteligente" envolve desde a correta indicação de cada hemocomponente até o pronto reconhecimento e manejo de eventuais reações.
O Alicerce da Hemostasia: Manejo de Plaquetas
A transfusão de plaquetas é crucial em situações de trombocitopenia com sangramento ativo ou para profilaxia em procedimentos invasivos.
- Quando transfundir?
- Contagem plaquetária: A maioria das cirurgias é segura com plaquetas > 50.000/mm³. Procedimentos neurocirúrgicos ou oftalmológicos exigem contagens > 100.000/mm³.
- Sangramento ativo: Em pacientes com sangramento, a transfusão pode ser considerada com plaquetas < 50.000/µL.
- Profilaxia: Em pacientes com malignidade hematológica (ex: leucemia aguda) e pancitopenia por quimioterapia, a transfusão profilática é recomendada com plaquetas < 10.000/mm³ (ou < 20.000/mm³ em algumas diretrizes para leucemia aguda) devido ao risco de sangramento espontâneo grave.
- Procedimentos invasivos: Pacientes com plaquetas < 50.000/mm³ sem sangramento ativo devem ser transfundidos apenas se necessitarem de procedimento invasivo. A dosagem de plaquetas é crucial antes de procedimentos como raquianestesia, especialmente em contextos de risco como a síndrome HELLP.
- Considerações Especiais:
- Hepatopatas: Em cirurgias de grande porte, mesmo em hepatopatas com plaquetas > 80.000/mm³, a transfusão pré-operatória pode não ser mandatória, mas é prudente ter concentrado de plaquetas disponível.
- Timing: A transfusão de plaquetas uma semana antes da cirurgia é ineficaz, dada a curta meia-vida plaquetária (horas).
- Função plaquetária: Em hemorragias com contagem plaquetária normal, a transfusão só se justifica em disfunções plaquetárias qualitativas ou uso de antiagregantes potentes. O manejo de fármacos como AAS e clopidogrel no perioperatório é um ponto crítico.
Combatendo a Anemia e a Hemorragia Aguda: Transfusão de Hemocomponentes
A transfusão de concentrado de hemácias (CH) visa restaurar a capacidade de transporte de oxigênio e o volume intravascular.
- Indicações gerais:
- Pacientes sintomáticos com anemia e/ou instabilidade hemodinâmica.
- Nível de hemoglobina (Hb): Geralmente, o gatilho transfusional é Hb < 7 g/dL. Em pacientes com doença arterial coronariana, um limiar mais alto (Hb < 9-10 g/dL) pode ser considerado.
- Em pacientes estáveis e assintomáticos, a investigação da causa da anemia e terapias específicas (ex: reposição de ferro) são prioritárias, evitando riscos transfusionais desnecessários.
- Cenários Específicos:
- Hemorragia Digestiva (HD):
- O alvo é manter Hb > 7-9 g/dL. Em HD varicosa (pacientes cirróticos), o alvo é mais restrito (Hb > 7 g/dL) para evitar aumento da pressão portal e ressangramento. Em HD não varicosa, os limiares variam com o risco cardiovascular (Hb < 9 g/dL para alto risco, < 8 g/dL para baixo risco).
- Atenção: Valores de Hb e hematócrito podem não refletir a perda sanguínea aguda inicialmente; sinais vitais são cruciais.
- Anemia Hemolítica Autoimune: A transfusão é reservada para anemia grave ou instabilidade, pois pode piorar a hemólise. Corticoterapia é a primeira linha.
- Hemorragia Digestiva (HD):
Ressuscitação Hemodinâmica: Fluidos e Sangue no Controle de Danos
No choque hemorrágico, a prioridade é controlar o sangramento e restaurar a perfusão.
- Cristaloides vs. Hemoderivados:
- A reposição volêmica inicial pode ser feita com cristaloides (ex: Ringer Lactato aquecido, 1000-2000 mL em adultos, ou 20 mL/kg em crianças).
- No trauma grave com choque hemorrágico, diretrizes atuais (como ATLS e AHA) recomendam a administração precoce de hemoderivados (sangue, plasma, plaquetas em proporção balanceada, como 1:1:1), se disponíveis, em detrimento de grandes volumes de cristaloides. O uso excessivo de cristaloides pode levar à hemodiluição, coagulopatia e hipotermia.
- Sangue Total: Seu uso é limitado atualmente, preferindo-se componentes específicos. Uma unidade de sangue total não eleva a Hb em 3 g/dL.
- Transfusão em Emergências e Trauma:
- Sangue O negativo: Utilizado em emergências extremas quando não há tempo para tipagem, até que o sangue tipo-específico esteja disponível.
- Pacientes com lesões hepáticas ou esplênicas podem necessitar de transfusão significativa. A intervenção cirúrgica ou angioembolização é indicada na instabilidade hemodinâmica persistente apesar da ressuscitação inicial.
- Parâmetros clínicos como taquicardia, hipotensão, débito urinário diminuído e alteração do nível de consciência guiam a necessidade de transfusão imediata.
A Prática Transfusional: Monitoramento e Gestão de Eventos Adversos
A administração segura de hemocomponentes exige vigilância contínua.
- Cuidados Iniciais: Conferência rigorosa da identificação do paciente e da bolsa, verificação de sinais vitais antes, durante (tipicamente aos 15 minutos iniciais e ao final) e após a transfusão.
- Reconhecimento e Ação Imediata em Reações Transfusionais:
- Sinal de alerta: Diante de qualquer sinal ou sintoma novo durante ou logo após a transfusão (ex: febre, calafrios, taquicardia, dispneia, dor torácica/lombar, hipotensão, rash cutâneo, hemoglobinúria), a conduta prioritária e imediata é INTERROMPER A TRANSFUSÃO e manter o acesso venoso com solução salina.
- Investigação: Notificar o médico responsável e o banco de sangue. Enviar a bolsa de sangue com o equipo e amostras de sangue do paciente (pré e pós-reacionais) para análise.
- Tipos de Reações:
- Reação Febril Não Hemolítica (RFNH): A mais comum. Causa febre e calafrios. Manejo com antitérmicos.
- Reação Alérgica: Urticária, prurido. Pode progredir para anafilaxia.
- Reação Hemolítica Aguda: Grave e potencialmente fatal. Resulta da incompatibilidade ABO. Cursa com febre, calafrios, dor lombar, hemoglobinúria, hipotensão, CIVD.
- TRALI (Lesão Pulmonar Aguda Relacionada à Transfusão): Dispneia, hipoxemia, infiltrados pulmonares bilaterais na ausência de sobrecarga circulatória.
- TACO (Sobrecarga Circulatória Associada à Transfusão): Dispneia, ortopneia, hipertensão, edema pulmonar por excesso de volume.
- Contaminação Bacteriana: Febre alta, calafrios, hipotensão, choque séptico.
Além do Imediato: Riscos, Complicações Tardias e Impacto nos Desfechos
- Riscos Infecciosos: Embora raros com os testes atuais, incluem hepatites (Hepatite C é uma complicação historicamente frequente), HIV, sífilis, entre outros.
- Hemólise: Pode ocorrer tardiamente. Em grandes queimados, a destruição de hemácias pode levar à hemólise, hemoglobinúria e lesão renal.
- Distúrbios Hidroeletrolíticos: Hipercalemia (por lise de hemácias estocadas) e hipocalcemia (por quelação do cálcio pelo citrato anticoagulante) podem ocorrer, especialmente em transfusões maciças.
- Sobrecarga de Ferro: Em pacientes politransfundidos cronicamente.
- Impacto nos Desfechos Cirúrgicos:
- A transfusão sanguínea está associada a um aumento do risco de infecção do sítio cirúrgico.
- Não há indicação para transfusão de hemácias visando melhorar a cicatrização de feridas, a menos que o hematócrito esteja criticamente baixo (<15%), pois a anemia normovolêmica leve a moderada geralmente não compromete a oxigenação tecidual a ponto de afetar a cicatrização.
Em suma, a terapia transfusional inteligente é uma arte e ciência, exigindo conhecimento profundo das indicações, riscos e alternativas. A decisão de transfundir deve sempre pesar os benefícios potenciais contra os riscos inerentes, com o objetivo final de otimizar o cuidado e os desfechos para o paciente.
Fronteiras no Controle Hemorrágico: Anticoagulação, TEV e Populações Especiais
O manejo eficaz do sangramento vai além das emergências agudas, adentrando um território complexo que envolve a prevenção, a gestão de terapias anticoagulantes e a atenção a populações com vulnerabilidades específicas. Nesta seção, exploraremos essas fronteiras, cruciais para a segurança do paciente em contextos de trauma, cirurgia e condições clínicas diversas.
O Desafio da Anticoagulação Perioperatória
A gestão de pacientes em uso de anticoagulantes ou antiagregantes plaquetários no período perioperatório é um equilíbrio delicado. A interrupção desses medicamentos aumenta o risco de tromboembolismo, enquanto sua manutenção eleva o perigo de hemorragias significativas durante procedimentos invasivos. Ambas as situações podem ter consequências graves.
- A decisão de suspender ou manter a terapia deve considerar o risco trombótico individual do paciente (ex: portadores de próteses valvares mecânicas em uso de varfarina) versus o risco hemorrágico do procedimento cirúrgico.
- O momento ideal para a suspensão e a necessidade de "terapia ponte" com anticoagulantes de curta ação são individualizados.
- Em cenários específicos, como após a criação de um shunt sistêmico-pulmonar, a anticoagulação profilática pode ser desejável para assegurar a patência do enxerto, mesmo que a normalização da coagulação seja crucial para evitar sangramentos.
Tromboembolismo Venoso (TEV): Um Risco Oculto e Prevenível
O Tromboembolismo Venoso (TEV), que engloba a Trombose Venosa Profunda (TVP) e o Tromboembolismo Pulmonar (TEP), representa uma das principais causas de morte prevenível no período perioperatório.
- Fatores de risco são numerosos e incluem:
- Cirurgias com duração superior a 45 minutos, especialmente as abdominais, torácicas, oncológicas e ortopédicas de grande porte (prótese de quadril/joelho, fratura de quadril).
- Cirurgias de emergência.
- Imobilização pós-operatória prolongada (≥4 dias).
- Trauma, onde a incidência de TVP sem profilaxia pode atingir 50%.
- Condições clínicas que levam ao confinamento ao leito.
- A profilaxia do TEV, seja farmacológica ou mecânica, é determinada por uma avaliação cuidadosa dos fatores de risco inerentes ao paciente e ao procedimento.
Complicações e Procedimentos Venosos: Atenção Redobrada
O sistema venoso, embora muitas vezes subestimado, é fonte de potenciais complicações e requer manejo especializado, especialmente em pacientes com risco hemorrágico.
- Acesso Venoso em Pacientes com Risco de Sangramento:
- A escolha do local para acesso venoso central é crítica. As veias jugular interna e femoral são preferíveis devido à facilidade de compressão digital em caso de sangramento.
- O acesso pela veia subclávia deve ser evitado nesses pacientes, pois a compressão é dificultada pela sua localização anatômica.
- Complicações gerais do acesso venoso (central ou periférico, incluindo para Nutrição Parenteral Total - NPT) incluem sangramento, lesão vascular, pneumotórax, trombose venosa, arritmia e embolia aérea.
- Dissecção Venosa:
- É um procedimento de último recurso, especialmente em crianças (onde a veia safena magna no tornozelo é a escolha).
- Complicações incluem flebite, trombose e celulite.
- A veia safena magna também é um vaso de escolha para dissecção em adultos traumatizados quando outros acessos falham.
- Outras Situações Venosas Relevantes:
- Lesões na veia cava inferior podem comprometer drasticamente a drenagem sanguínea.
- A obstrução da veia femoral por trombos causa edema, hiperemia e dor, com risco de embolia pulmonar.
- A insuficiência venosa secundária pode surgir após trauma ou, mais comumente, como sequela de TVP.
- O uso de veias subclávias para acesso crônico está associado a maior risco de estenose venosa central, comprometendo futuros acessos para hemodiálise (FAV).
- Enxertos vasculares expostos são propensos a infecções e deiscência, com risco de perda do membro.
Transfusão em Idosos: Uma Abordagem Cautelosa
Pacientes idosos apresentam particularidades fisiológicas que exigem atenção especial na terapia transfusional, sobretudo em contextos de trauma e cirurgia.
- Possuem menor reserva cardiopulmonar e podem ter depleção de volume pré-existente (uso de diuréticos, desnutrição).
- A resposta da frequência cardíaca ao estresse pode ser atenuada.
- Há maior risco de sobrecarga volêmica com a administração de hemocomponentes.
- A decisão transfusional deve ser criteriosa:
- Evitar transfusões em pacientes estáveis sem sinais de hipóxia tecidual.
- Considerar transfusão mesmo com hemoglobina > 7g/dL se o idoso estiver sintomático e com comorbidades significativas.
- A ressuscitação volêmica segue princípios gerais, mas com monitoramento rigoroso para evitar iatrogenias.
Sangramentos Clínicos Específicos: Diagnóstico e Manejo
Diversas situações clínicas e terapêuticas podem levar a sangramentos, exigindo abordagens específicas.
- Sangramento Associado a Terapias:
- Anticoagulantes Orais Diretos (DOACs): Sangramentos intensos são incomuns, mas agentes reversores específicos estão disponíveis ou em desenvolvimento.
- Terapia Tripla (AAS + inibidor P2Y12 + anticoagulante): Em pacientes com alto risco de sangramento, deve ser mantida pelo menor tempo possível.
- Terapia Hormonal (TH): Sangramento vaginal de origem indeterminada é uma contraindicação e exige investigação para descartar malignidades.
- Riscos Farmacológicos de Sangramento:
- O desconhecimento farmacológico pode levar a erros, como incisões realizadas antes do tempo de latência de anestésicos com vasoconstritores, resultando em sangramento excessivo.
- A monoterapia hemostática (ex: injeção isolada de adrenalina em úlceras de alto risco) é frequentemente inadequada e aumenta o risco de ressangramento.
- Sangramento em Pacientes Oncológicos:
- Pacientes com câncer podem desenvolver alterações qualitativas plaquetárias adquiridas, levando a sangramentos espontâneos ou perioperatórios.
- Sangramento Gastrointestinal:
- A Endoscopia Digestiva Alta (EDA) é mandatória em casos de sangramento gastrointestinal alto, pois é um sinal de alarme.
- Medidas iniciais incluem estabilização hemodinâmica com reposição volêmica e uso de Inibidores da Bomba de Prótons (IBP).
- Hemorragia Subaracnoidea Aneurismática: Pode cursar com complicações graves como hidrocefalia, ressangramento e vasoespasmo tardio.
O Papel Crucial do Manejo da Dor
O manejo adequado da dor perioperatória e no trauma é fundamental. Dor intensa e não controlada exacerba a resposta ao estresse cirúrgico, podendo retardar a recuperação, prolongar a hospitalização e aumentar o risco de complicações, incluindo as hemorrágicas, por meio do aumento do consumo de oxigênio e da ativação neuro-hormonal. Uma analgesia eficaz é um pilar dos protocolos de recuperação acelerada (ERAS/ACERTO).
Dominar essas fronteiras no controle hemorrágico é essencial para otimizar os desfechos dos pacientes, minimizando riscos e promovendo uma recuperação mais segura e eficiente.
Este guia abrangente demonstrou que o manejo integrado do sangramento é uma competência dinâmica e multifacetada, essencial em inúmeros cenários clínicos. Desde a rápida avaliação e as primeiras respostas cruciais, passando pelas estratégias especializadas no trauma e na cirurgia, até a aplicação criteriosa da terapia transfusional e a navegação pelas complexidades da anticoagulação e populações especiais, cada decisão impacta diretamente o prognóstico do paciente. Esperamos que as informações aqui consolidadas reforcem sua base de conhecimento e inspirem a aplicação de práticas cada vez mais seguras e eficazes.
Agora que você explorou este tema a fundo, que tal testar seus conhecimentos? Confira nossas Questões Desafio preparadas especialmente sobre este assunto