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Análise Profunda

Pericardite Aguda: Guia Completo Sobre Dor no Peito, Causas, Diagnóstico e Tratamento

Por ResumeAi Concursos
Coração humano com o pericárdio visivelmente inflamado e espessado, demonstrando um quadro de pericardite aguda.


Uma dor súbita e aguda no peito é um dos sinais de alerta mais alarmantes que nosso corpo pode emitir, evocando imediatamente o temor de um infarto. No entanto, existe uma outra condição, uma grande imitadora, que pode causar um desconforto igualmente intenso: a pericardite aguda. Compreender suas características distintas não é apenas um exercício de curiosidade médica, mas uma ferramenta poderosa de conscientização. Este guia foi elaborado por nossa equipe editorial para desmistificar a pericardite, capacitando você a reconhecer seus sinais únicos, entender como os médicos chegam a um diagnóstico preciso e conhecer as estratégias de tratamento que aliviam a inflamação e protegem o coração.

O Que É Pericardite Aguda e Quais Suas Principais Causas?

Para entender a pericardite aguda, imagine o coração envolto por uma fina membrana protetora de duas camadas, semelhante a um saco, chamada pericárdio. A pericardite aguda nada mais é do que a inflamação súbita e intensa dessa membrana. Por definição, a condição é classificada como "aguda" quando seus sinais e sintomas se desenvolvem e persistem por um período de até 4 a 6 semanas.

As causas (etiologias) da pericardite aguda são diversas, mas uma se destaca como a mais frequente de todas.

O Principal Vilão: Infecções Virais

Na grande maioria dos casos, a pericardite aguda tem uma origem infecciosa, e o principal agente é um vírus. Estima-se que as infecções virais sejam responsáveis por até 85-90% dos casos em que uma causa é identificada. Frequentemente, o paciente relata um quadro prévio semelhante a uma gripe ou resfriado, com febre, dores no corpo e mal-estar, que ocorre de uma a três semanas antes do início da dor no peito característica da pericardite.

Diversos vírus podem desencadear essa inflamação, incluindo:

  • Coxsackievírus e Echovírus (tipos de enterovírus)
  • Adenovírus
  • Vírus Epstein-Barr (causador da mononucleose)
  • Citomegalovírus
  • Vírus da Influenza (gripe)
  • SARS-CoV-2 (causador da COVID-19)

É importante notar que, em muitas situações, mesmo após uma investigação completa, não é possível identificar o vírus específico. Nesses cenários, a pericardite é classificada como idiopática, ou seja, de causa desconhecida, embora a suspeita clínica seja de que a maioria desses casos seja de origem viral não confirmada.

Outras Causas Importantes de Pericardite Aguda

Embora as causas virais e idiopáticas dominem as estatísticas, a inflamação do pericárdio pode ser uma resposta do corpo a uma ampla variedade de outras condições.

  • Doenças Autoimunes: O sistema imunológico pode, por engano, atacar o próprio pericárdio. O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é um exemplo clássico, no qual a pericardite é uma das manifestações cardíacas mais comuns.
  • Pós-Infarto Agudo do Miocárdio (IAM): A inflamação pode surgir como uma reação ao dano no músculo cardíaco. A pericardite epistenocárdica é a forma que ocorre precocemente, geralmente entre 1 e 4 dias após um infarto.
  • Causas Infecciosas (Não Virais): Menos comuns, mas potencialmente mais graves, incluem infecções por bactérias (Streptococcus, Staphylococcus), fungos ou parasitas, especialmente em pacientes imunocomprometidos.
  • Outras Condições Médicas e Procedimentos:
    • Uremia: Acúmulo de toxinas no sangue devido à insuficiência renal grave.
    • Neoplasias (Câncer): Tumores que se espalham para o pericárdio.
    • Trauma torácico: Lesões diretas no peito ou no coração.
    • Radioterapia: Como efeito colateral do tratamento de cânceres na região torácica.
    • Pós-cirurgia cardíaca: A manipulação do coração pode gerar inflamação no pericárdio.

Sintomas da Pericardite: Como Identificar a Dor Torácica Característica

A pericardite aguda se manifesta, em cerca de 85% a 90% dos casos, através de um sintoma principal: uma dor torácica com características muito particulares. Saber reconhecê-la é fundamental, pois ela pode ser confundida com outras condições graves, como o infarto. A dor é o resultado direto do atrito entre as membranas inflamadas do pericárdio a cada batimento cardíaco e movimento respiratório.

Vamos detalhar as características clássicas dessa dor:

  • Localização e Tipo: Geralmente, é uma dor aguda, súbita e de forte intensidade, descrita como uma "pontada" ou "punhalada". Localiza-se tipicamente na região precordial (sobre o coração) ou retroesternal (atrás do osso do peito), podendo irradiar para o pescoço, ombros e, de forma muito característica, para a região do músculo trapézio (a crista do ombro).

  • Caráter "Pleurítico": Este é um termo-chave. Significa que a dor é ventilatório-dependente, ou seja, ela piora significativamente com a inspiração profunda, a tosse ou até mesmo ao engolir.

  • A Pista Diagnóstica Crucial: A Influência da Postura O aspecto mais distintivo da dor da pericardite é sua relação com a posição do corpo.

    • Piora ao deitar: A dor tende a piorar de forma marcante quando a pessoa se deita de costas (decúbito dorsal).
    • Alivia ao sentar e inclinar para frente: De forma quase patognomônica (muito específica da doença), a dor melhora quando o paciente se senta e inclina o tronco para a frente. Essa manobra, conhecida como "posição de prece maometana", alivia a tensão sobre o pericárdio.

Quadro Clínico Além da Dor

A dor torácica raramente vem sozinha. Como a pericardite aguda é frequentemente desencadeada por infecções virais, é comum que o quadro seja acompanhado por sintomas sistêmicos, como febre (geralmente baixa), mal-estar geral, dores musculares e tosse seca. A presença desses sintomas associados a uma dor no peito com as características posturais e respiratórias descritas é um forte indicativo de pericardite aguda.

Diagnóstico Preciso: Os 4 Critérios Essenciais e Exames Complementares

O diagnóstico da pericardite aguda é eminentemente clínico e se baseia em um conjunto de critérios bem estabelecidos. Para confirmar a condição, o médico precisa identificar pelo menos dois dos quatro critérios a seguir, o que confere alta precisão ao processo.

  1. Dor Torácica Típica: A dor com as características pleuríticas e posturais que detalhamos na seção anterior.
  2. Atrito Pericárdico: Considerado o sinal patognomônico da pericardite, é um som áspero, semelhante ao ranger de couro, que o médico ausculta com o estetoscópio. É gerado pelo atrito entre os folhetos inflamados do pericárdio e pode ser intermitente.
  3. Alterações Clássicas no Eletrocardiograma (ECG): O ECG é uma ferramenta fundamental e revela achados muito sugestivos que ajudam a diferenciar a pericardite de um infarto. As duas principais alterações são o supradesnivelamento difuso do segmento ST (diferente do infarto, onde a elevação é localizada) e o infradesnivelamento do segmento PR, um achado muito específico.
  4. Derrame Pericárdico (Novo ou em Piora): A inflamação pode levar ao acúmulo de líquido no espaço pericárdico, confirmado por exames de imagem como o ecocardiograma.

Para facilitar, muitos profissionais utilizam o mnemônico DEDA: Dor, Elevação de ST, Derrame e Atrito. A diferenciação com o infarto agudo do miocárdio é a prioridade na emergência, e o padrão difuso das alterações no ECG, associado à história clínica, é o principal guia para o diagnóstico correto.

Tratamento da Pericardite Aguda: Aliviando a Inflamação e Prevenindo Recorrências

O tratamento da pericardite aguda tem um duplo objetivo: aliviar os sintomas e reduzir a inflamação para prevenir complicações e recorrências. A abordagem é bem estabelecida e baseia-se em uma combinação estratégica de medicamentos.

A Dupla de Ataque: AINEs e Colchicina

A pedra angular do tratamento para a maioria dos casos de pericardite aguda (viral ou idiopática) é a terapia combinada:

  1. Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs): São a primeira linha para controlar a dor e a inflamação. Medicamentos como o ibuprofeno e o ácido acetilsalicílico (AAS) são usados por 1 a 2 semanas, com redução gradual da dose.
  2. Colchicina: Este medicamento é um parceiro essencial, pois, quando adicionado aos AINEs, demonstrou reduzir significativamente o risco de recorrência da pericardite. Seu uso é mais prolongado, geralmente por 3 meses.

Quando o Tratamento Padrão Não é Suficiente: O Papel dos Corticosteroides

Os corticosteroides (como a prednisona) são uma terapia de segunda linha, reservados para casos refratários, de origem autoimune ou quando há contraindicação aos AINEs. Seu uso deve ser cauteloso, pois, embora eficazes, estão associados a um maior risco de recorrência da doença.

Cuidados Essenciais e O Que Evitar

Além do tratamento medicamentoso, o repouso e a restrição de atividades físicas intensas por 3 a 6 meses são fundamentais. É crucial notar que a anticoagulação em dose plena é geralmente contraindicada na fase aguda, pelo risco de sangramento para dentro do saco pericárdico e uma complicação grave chamada tamponamento cardíaco.

Prognóstico e Complicações: O Que Esperar Após o Diagnóstico?

Felizmente, para a grande maioria dos pacientes, o prognóstico da pericardite aguda é bastante favorável. Especialmente nos casos de origem viral, a condição tende a ser autolimitada, resolvendo-se completamente com o tratamento adequado sem deixar sequelas. No entanto, é fundamental estar ciente das possíveis complicações, embora menos frequentes.

1. Miopericardite: Quando a Inflamação se Estende

A miopericardite ocorre quando o processo inflamatório atinge também o músculo cardíaco adjacente, o miocárdio. Os sintomas podem ser mais intensos, incluindo sinais de insuficiência cardíaca como falta de ar. Embora seja um quadro mais sério, a maioria dos casos também tem uma boa evolução.

2. Pericardite Constritiva: Uma Complicação Crônica e Rara

A pericardite constritiva é uma evolução crônica e grave, na qual o pericárdio se torna espesso, fibrótico e rígido, como uma casca dura ao redor do coração. Essa "casca" impede o enchimento cardíaco adequado, levando à insuficiência cardíaca. Está mais associada a causas como tuberculose, radioterapia ou pós-cirurgia cardíaca. O tratamento para a condição estabelecida é cirúrgico, através da pericardiectomia (remoção do pericárdio doente).

Em resumo, enquanto a pericardite aguda geralmente segue um curso benigno, a vigilância para sinais de complicações é crucial para garantir os melhores desfechos a longo prazo.

A principal lição sobre a pericardite aguda é o reconhecimento de seus padrões, especialmente a dor torácica que se altera com a postura e a respiração. Contudo, a mensagem mais importante que podemos transmitir como editores de saúde é inequívoca: qualquer dor no peito deve ser avaliada por um médico imediatamente. A tentativa de autodiagnóstico é perigosa, pois apenas uma avaliação profissional com exames como o eletrocardiograma pode diferenciar com segurança a pericardite de um infarto agudo do miocárdio, garantindo que o tratamento correto seja iniciado sem demora.

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