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Guia Completo

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia: Diagnóstico, Conduta e Resolução da Gestação

Por ResumeAi Concursos
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Placenta com pré-eclâmpsia: artérias espiraladas constritas, áreas de isquemia e infarto vilositário.

A pré-eclâmpsia e a eclâmpsia permanecem desafios críticos na saúde materno-fetal, exigindo dos profissionais de saúde não apenas conhecimento, mas prontidão e precisão. Este guia abrangente foi elaborado para equipá-lo com as ferramentas diagnósticas, estratégias de manejo e critérios de decisão essenciais para otimizar os desfechos em casos dessas síndromes hipertensivas gestacionais, desde a identificação precoce de riscos até a resolução segura da gestação e o cuidado pós-parto.

Entendendo a Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia: Definições, Fatores de Risco e Prevenção

A pré-eclâmpsia e sua evolução mais temida, a eclâmpsia, são condições hipertensivas específicas da gestação com impacto significativo na saúde materno-fetal. Entender suas nuances é vital para o manejo clínico adequado e para a promoção de desfechos mais seguros para mãe e bebê.

Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia: Definição e Características

A pré-eclâmpsia é uma síndrome multissistêmica complexa que classicamente se manifesta após a 20ª semana de gestação. É caracterizada por hipertensão arterial de início recente e, frequentemente, proteinúria. No entanto, o diagnóstico pode ser firmado mesmo na ausência de proteinúria se houver evidência de disfunção de órgãos-alvo associada à hipertensão, como trombocitopenia, insuficiência renal, alteração da função hepática, edema pulmonar ou sintomas cerebrais/visuais. Os critérios diagnósticos detalhados e a classificação da gravidade serão abordados adiante. É interessante notar que a pré-eclâmpsia pode, em raras ocasiões, desenvolver-se mesmo em gestações ectópicas que progridem, o que sublinha a complexidade de sua fisiopatologia.

A eclâmpsia é a complicação neurológica mais grave da pré-eclâmpsia. Define-se pela ocorrência de convulsões tônico-clônicas (generalizadas, focais ou multifocais) em uma paciente com diagnóstico de pré-eclâmpsia, na ausência de outras causas que justifiquem as convulsões (ex: epilepsia, aneurisma cerebral). Pode manifestar-se no período anteparto, intraparto ou, com frequência significativa, no pós-parto, podendo evoluir para coma. Representa uma emergência obstétrica e é uma causa importante de mortalidade materna.

Fatores de Risco, Rastreamento e Diretrizes

O rastreamento eficaz da pré-eclâmpsia baseia-se na identificação precoce de fatores de risco maternos, idealmente na primeira consulta de pré-natal. Diretrizes de sociedades como o NICE e o ACOG orientam essa avaliação. Considera-se uma gestante como de alto risco se apresentar:

  • Um ou mais fatores de risco de alto impacto: história de pré-eclâmpsia anterior, doença renal crônica, hipertensão arterial crônica, diabetes mellitus (tipo 1 ou 2), ou doenças autoimunes (LES, SAF).
  • Dois ou mais fatores de risco de impacto moderado: nuliparidade, idade materna ≥ 40 anos, intervalo interpartal > 10 anos, IMC ≥ 35 kg/m² na primeira consulta, história familiar de pré-eclâmpsia (mãe ou irmã), ou gestação múltipla.

Pré-eclâmpsia e Riscos em Gestações Gemelares

As gestações gemelares e múltiplas apresentam um risco significativamente aumentado de pré-eclâmpsia (incidência pode chegar a 30%), frequentemente com manifestação mais precoce e grave. Essas gestações também têm maior frequência de outras complicações como placenta prévia, hiperemese gravídica e parto prematuro.

Pré-eclâmpsia e Condições Associadas

  • Síndrome do Ovário Policístico (SOP): Aumenta a propensão à pré-eclâmpsia.
  • Síndrome Antifosfolípide (SAF): A pré-eclâmpsia com características de gravidade e parto prematuro (<34 semanas) é critério clínico para SAF.
  • Oligoâmnio: Pode ser consequência da insuficiência placentária na pré-eclâmpsia, levando à hipóxia fetal crônica e redistribuição do fluxo sanguíneo fetal com diminuição do débito urinário. O oligoâmnio em si não aumenta o risco de placenta prévia.

Prevenção da Pré-eclâmpsia em Gestantes de Risco

A identificação de gestantes de alto risco permite a implementação de medidas preventivas:

  • Ácido Acetilsalicílico (AAS) em baixa dose: Doses entre 75 mg e 150 mg diárias são recomendadas para gestantes de alto risco, com início ideal antes das 16 semanas (preferencialmente por volta das 12 semanas) e manutenção até próximo ao termo ou parto. É eficaz na prevenção da pré-eclâmpsia de início precoce e restrição de crescimento fetal.
  • Suplementação de Cálcio: Em populações com baixa ingestão dietética ou para gestantes com fatores de risco específicos e ingestão inadequada, a suplementação com carbonato de cálcio (1,5 a 2 gramas por dia, fracionada) a partir das 12 semanas pode ser benéfica.

Gestantes com histórico de pré-eclâmpsia anterior são de alto risco para recorrência, devendo-se considerar a profilaxia com AAS e, se indicado, cálcio.

Diagnóstico da Pré-eclâmpsia: Critérios, Classificação e Avaliação de Gravidade

O diagnóstico preciso e oportuno da pré-eclâmpsia é fundamental. Este processo envolve a identificação de critérios clínicos e laboratoriais, a classificação quanto à presença de sinais de gravidade e uma avaliação completa do bem-estar materno-fetal.

Critérios Diagnósticos da Pré-eclâmpsia

A pré-eclâmpsia é diagnosticada pela presença de hipertensão arterial de início recente, associada à proteinúria ou disfunção de órgãos-alvo, surgindo após a 20ª semana de gestação em mulher previamente normotensa, ou no período pós-parto.

Os critérios diagnósticos atuais são:

  1. Hipertensão Arterial:

    • Pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg e/ou Pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg, em pelo menos duas ocasiões, com intervalo mínimo de 4 horas, após 20 semanas de gestação em mulher previamente normotensa.
    • Em casos de hipertensão grave (PAS ≥ 160 mmHg ou PAD ≥ 110 mmHg), o intervalo para confirmação pode ser menor.
  2. E um ou mais dos seguintes:

    • Proteinúria:
      • ≥ 300 mg em urina de 24 horas; ou
      • Relação proteína/creatinina (RPC) em amostra isolada de urina ≥ 0,3 (mg/dL / mg/dL); ou
      • Fita reagente (dipstick) ≥ 1+ (confirmar com método quantitativo).
    • Na ausência de proteinúria, o diagnóstico de pré-eclâmpsia pode ser firmado se a hipertensão arterial estiver acompanhada de um ou mais dos seguintes sinais de disfunção de órgãos-alvo ou disfunção uteroplacentária:
      • Trombocitopenia: Contagem de plaquetas < 100.000/µL.
      • Insuficiência Renal: Creatinina sérica > 1,1 mg/dL ou duplicação da creatinina sérica basal na ausência de outra doença renal.
      • Disfunção Hepática: Elevação das transaminases séricas (TGO/AST ou TGP/ALT) ao dobro do limite superior da normalidade, ou dor severa e persistente no quadrante superior direito do abdômen ou epigástrica não responsiva à medicação.
      • Edema Pulmonar.
      • Sintomas Cerebrais ou Visuais de Início Recente: Cefaleia persistente e intensa, escotomas, fosfenas, visão turva, diplopia.
      • Disfunção Uteroplacentária: Evidenciada por restrição de crescimento fetal (RCF), alterações na Dopplervelocimetria das artérias umbilicais ou oligoidrâmnio.

A Síndrome HELLP (hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetopenia) é uma forma grave de pré-eclâmpsia e confirma o diagnóstico.

Avaliação Inicial e Identificação de Sinais de Gravidade

Diante da suspeita de pré-eclâmpsia, o primeiro passo é avaliar a presença de sinais e sintomas de gravidade.

  • Ausência de Sinais de Gravidade: Investigação ambulatorial com exames e monitoramento.
  • Presença de Sinais de Gravidade: Encaminhamento hospitalar imediato.

Classificação: Pré-eclâmpsia com Sinais de Gravidade

Diferencia-se entre pré-eclâmpsia (sem sinais de gravidade) e pré-eclâmpsia com sinais de gravidade. A presença de qualquer um dos seguintes critérios classifica a condição como tendo sinais de gravidade:

  • Hipertensão Arterial Grave: PAS ≥ 160 mmHg ou PAD ≥ 110 mmHg.
  • Trombocitopenia: Contagem de plaquetas < 100.000/µL.
  • Insuficiência Renal Progressiva: Creatinina sérica > 1,1 mg/dL ou duplicação da creatinina basal, ou oligúria (< 500 mL/24h).
  • Disfunção Hepática Significativa: Elevação acentuada de transaminases, dor intensa e persistente no hipocôndrio direito ou epigástrio, náuseas e vômitos.
  • Edema Agudo de Pulmão.
  • Sintomas Cerebrais ou Visuais Persistentes: Cefaleia intensa, alterações visuais, alteração do estado mental.
  • Eclâmpsia: Presença de convulsões.
  • Síndrome HELLP.
  • Disfunção Uteroplacentária Grave: RCF severa, alterações significativas na Dopplervelocimetria, óbito fetal.

Exames Laboratoriais Essenciais

  • Avaliação Materna: Hemograma completo (plaquetas, hematócrito, esquizócitos), função renal (creatinina, ureia, ácido úrico), proteinúria (quantitativa), função hepática (TGO, TGP, DHL, bilirrubinas).
  • Avaliação Fetal: Ultrassonografia obstétrica com Dopplervelocimetria (crescimento, líquido amniótico, fluxos), cardiotocografia basal (CTG).
  • Imagem Cerebral (TC/RM): Em casos de déficit neurológico focal, coma, convulsões de difícil controle ou alterações visuais persistentes.

Ferramentas de Predição

  • Calculadoras de Risco: Como o fullPIERS, para estimar risco de complicações maternas graves em pacientes já diagnosticadas.
  • Biomarcadores: PAPP-A baixo no primeiro trimestre (risco aumentado), relação sFlt-1/PlGF (auxílio diagnóstico e predição de desfechos).

Iminência de Eclâmpsia e Eclâmpsia: Reconhecimento, Sinais Clínicos e Manifestações

A transição da pré-eclâmpsia para suas formas mais graves, a iminência de eclâmpsia e a eclâmpsia, exige reconhecimento imediato e intervenção assertiva.

Iminência de Eclâmpsia: O Sinal de Alerta Crucial

A iminência de eclâmpsia é um estado de alerta máximo, indicando risco iminente de convulsão em gestante com pré-eclâmpsia. É um conjunto de sinais e sintomas premonitórios que demandam ação urgente. Os principais são:

  • Cefaleia persistente e intensa: Latejante ou pulsátil, não alivia com analgésicos comuns.
  • Distúrbios visuais: Turvação visual, escotomas (fotopsias, manchas escuras), fotofobia, diplopia ou amaurose cortical.
  • Dor epigástrica ou no hipocôndrio direito: "Em faixa" ou "em barra", atribuída à distensão da cápsula hepática.
  • Alterações do estado mental: Confusão, agitação, irritabilidade, sonolência excessiva, obnubilação.
  • Hiperreflexia: Reflexos tendinosos profundos exaltados, com possível clônus.

A tríade clássica (cefaleia, distúrbios visuais, epigastralgia), mesmo incompleta, é um sinal de alarme.

Eclâmpsia: A Convulsão e Suas Manifestações

A eclâmpsia é definida pela ocorrência de convulsões tônico-clônicas generalizadas em paciente com pré-eclâmpsia, sem outras causas neurológicas.

Manifestações Clínicas da Eclâmpsia:

  • Convulsões: Tipicamente tônico-clônicas generalizadas (fase tônica seguida de clônica), autolimitadas (1-2 minutos), com período pós-ictal. Podem ser focais, multifocais ou evoluir para coma.
  • Momento de Ocorrência: Anteparto (~25%), intraparto (~50%), pós-parto (~25%, maioria nas primeiras 48h, mas pode ser tardia até 4-6 semanas). Pode ser a primeira manifestação da síndrome hipertensiva.
  • Efeitos no Feto: Hipoxemia e acidose maternas podem causar bradicardia fetal prolongada durante a convulsão, seguida por taquicardia compensatória, desacelerações e diminuição da variabilidade da frequência cardíaca fetal.

Diagnóstico, Distinção e Manejo Diagnóstico

O diagnóstico da iminência de eclâmpsia é clínico, baseado nos sinais de alerta neurológico/hepático em gestante com pré-eclâmpsia. A eclâmpsia é diagnosticada pela observação da convulsão.

  • Iminência de Eclâmpsia: Sintomas premonitórios SEM convulsão.
  • Eclâmpsia: Ocorrência de convulsão.

Diagnóstico Diferencial: Considerar outras causas de convulsão. A distinção entre iminência de eclâmpsia e rotura uterina é crucial:

  • Iminência de eclâmpsia: Dor epigástrica/hipocôndrio direito, cefaleia, escotomas, hipertensão, sinais neurológicos.
  • Rotura uterina: Dor abdominal súbita e lancinante, sangramento vaginal (pode ser interno), parada de contrações, instabilidade hemodinâmica materna, sofrimento fetal agudo.

O manejo diagnóstico exige avaliação rápida. A identificação da iminência é vital para internação, administração de sulfato de magnésio, controle pressórico e planejamento da resolução da gestação. Na eclâmpsia, o manejo agudo foca em controlar a convulsão, garantir via aérea/oxigenação, administrar sulfato de magnésio, estabilizar a mãe e proceder com a resolução da gestação.

Conduta Clínica na Pré-eclâmpsia Grave e Eclâmpsia: Estabilização e Tratamento

A abordagem da pré-eclâmpsia com sinais de gravidade e da eclâmpsia exige agilidade e precisão.

Conduta Inicial: Ação Rápida e Coordenada

Diante de crise convulsiva (eclâmpsia) ou sinais de iminência de eclâmpsia:

  1. Chamar ajuda especializada.
  2. Proteger a paciente: Evitar traumas, considerar protetor bucal macio.
  3. Posicionamento: Decúbito lateral esquerdo.
  4. Garantir vias aéreas pérvias: Aspirar secreções.
  5. Oxigenioterapia: 8-10 L/min com máscara facial.
  6. Monitorização contínua: Sinais vitais.
  7. Acesso venoso calibroso: Para medicamentos e fluidos (com cautela na hidratação).

Internação na Pré-eclâmpsia com Sinais de Gravidade: Quando e Como

A internação hospitalar é mandatória para gestantes com diagnóstico ou suspeita de pré-eclâmpsia com sinais de gravidade (PA ≥ 160x110 mmHg, lesão em órgãos-alvo, sintomas de iminência, disfunção uteroplacentária). No hospital, realiza-se monitorização contínua e exames complementares.

Uso de Corticoides: Maturação Pulmonar Fetal com Cautela

Em gestantes com pré-eclâmpsia com sinais de gravidade ou iminência de eclâmpsia antes de 34 semanas, corticoides (betametasona, dexametasona) para maturação pulmonar fetal podem ser considerados. Contudo, não devem atrasar a estabilização materna e a resolução da gestação se estas forem urgentes.

Manejo da Eclâmpsia: Os 10 Passos Essenciais

  1. Aspirar vias aéreas e inserir protetor bucal (se aplicável).
  2. Medir saturação de O₂ e administrar O₂ (8-10 L/min).
  3. Instalar acesso venoso periférico calibroso com cristaloide (infusão cautelosa).
  4. Coletar amostras de sangue e urina para exames.
  5. Manter decúbito lateral esquerdo.
  6. Administrar Sulfato de Magnésio (MgSO₄): Droga de escolha.
    • Ataque: 4-6g IV em 15-20 min.
    • Manutenção: 1-2g/hora em bomba de infusão.
  7. Administrar anti-hipertensivo se PA ≥ 160/110 mmHg:
    • Hidralazina: 5 mg IV, repetir se necessário (máx. 20-30 mg).
    • Nifedipina de ação rápida: 10 mg VO, repetir em 30 min.
    • Labetalol: IV, se disponível. Objetivo: PAS 140-155 mmHg, PAD 90-105 mmHg, evitando quedas bruscas.
  8. Inserir cateter vesical de demora (monitorar débito urinário).
  9. Aguardar recuperação do sensório e estabilização.
  10. Programar interrupção da gestação após estabilização materna.

Tratamento Medicamentoso Detalhado

  • Sulfato de Magnésio (MgSO₄):

    • Mecanismo: Depressor do SNC, vasodilatador, estabilizador de membrana.
    • Monitorização (intoxicação): Ausência de reflexos patelares (1º sinal), depressão respiratória (FR < 12 ipm), oligúria (< 25-30 mL/h), parada cardíaca.
    • Manejo da Intoxicação: Suspender MgSO₄, administrar Gluconato de Cálcio 10% (10 mL IV lento), suporte ventilatório.
    • Duração: Manter por ≥ 24h após parto ou última convulsão.
  • Benzodiazepínicos (Diazepam, Midazolam): Não são primeira escolha. Reservados para contraindicação/indisponibilidade de MgSO₄ ou convulsões refratárias.

  • Fenitoína: Alternativa para eclâmpsia refratária ao MgSO₄.

  • Metildopa: Para tratamento crônico, não para crise hipertensiva aguda.

Manejo de Casos Refratários

Se convulsões persistirem (eclâmpsia refratária):

  • Repetir dose de ataque de MgSO₄ (2g IV).
  • Considerar anticonvulsivantes alternativos: Fenitoína, barbitúricos de ação curta (Tiopental, Amobarbital) em UTI.
  • Sedação e intubação orotraqueal: Em status epilepticus extremo.

Erros Comuns e Condutas Inadequadas a Evitar

  • Atrasar ou subdosar MgSO₄.
  • Suspender MgSO₄ precocemente.
  • Não monitorar intoxicação por magnésio.
  • Usar benzodiazepínicos como primeira linha.
  • Adiar resolução da gestação desnecessariamente.
  • Reduzir PA excessiva ou abruptamente.
  • Hidratação IV vigorosa e indiscriminada (risco de EAP).
  • Alta hospitalar para iminência de eclâmpsia.
  • Uso de medicações inadequadas para crise hipertensiva aguda (ex: metildopa).
  • Não realizar interrupção da gestação após estabilização.

Resolução da Gestação: Decisões Cruciais e Vias de Parto na Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia

A resolução da gestação é o tratamento definitivo para a eclâmpsia, síndrome HELLP e pré-eclâmpsia com sinais de gravidade.

Momento da Resolução e a Importância da Estabilização Materna

Em quadros de eclâmpsia ou iminência de eclâmpsia, a resolução imediata da gestação é mandatória, após a estabilização clínica da gestante (MgSO₄, controle da PA grave). A idade gestacional não limita a interrupção. Corticoterapia (<34 semanas) não deve atrasar o parto se a resolução for urgente.

Indicações para a Resolução da Gestação

  • Eclâmpsia e Iminência de Eclâmpsia.
  • Síndrome HELLP (após estabilização, independentemente da IG).
  • Fígado Gorduroso Agudo da Gestação.
  • Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade ou deterioração clínica materno/fetal (hipertensão refratária, trombocitopenia <100.000/mm³, disfunção hepática/renal progressiva, EAP, RCF severa, Doppler alterado).
  • Pré-eclâmpsia sobreposta (indução com 37 semanas).
  • Pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade a termo (não ultrapassar 40 semanas).

Vias de Parto: Uma Decisão Individualizada

  • Via Vaginal: Preferencial na maioria dos casos (incluindo HELLP, para minimizar sangramento), se não houver contraindicações e condições permitirem. Indução do trabalho de parto é opção viável. Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade não é indicação absoluta de cesárea.

  • Cesárea: Escolha quando:

    • Via mais rápida é necessária para preservar vida materno/fetal (ex: iminência de eclâmpsia com colo desfavorável).
    • Falha na indução.
    • Sofrimento fetal agudo.
    • Contraindicações obstétricas ao parto vaginal.
    • Casos específicos de HELLP (ex: hematoma subcapsular hepático com risco de rotura).
    • Instabilidade hemodinâmica materna grave.

Diagnósticos em idades gestacionais precoces e quadros mais severos aumentam a probabilidade de cesárea.

Manejo Durante o Trabalho de Parto

Controle pressórico rigoroso e manutenção da terapia anti-hipertensiva e MgSO₄ (se indicado) são cruciais. Equipe preparada para parto instrumental ou conversão para cesárea.

Complicações, Manejo Pós-Parto e Desfechos da Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia

A pré-eclâmpsia, especialmente suas formas graves, pode levar a complicações sérias. O manejo cuidadoso no puerpério e a documentação correta dos desfechos são essenciais.

Complicações Maternas e Fetais: Um Alerta Constante

As consequências da pré-eclâmpsia grave e da eclâmpsia para a mãe podem ser severas, incluindo:

  • Risco elevado de morte materna: Associada à hipóxia cerebral, trauma físico, pneumonia aspirativa.
  • Hemorragia cerebral.
  • Edema agudo de pulmão.
  • Insuficiência respiratória aguda.
  • Insuficiência renal aguda.
  • Coagulopatias: Incluindo a Síndrome HELLP.

Para o feto/recém-nascido, as principais complicações são:

  • Hipóxia fetal/neonatal.
  • Descolamento prematuro de placenta (DPP).
  • Restrição de crescimento intrauterino (RCIU) e prematuridade.

Manejo da Pré-eclâmpsia Grave e Eclâmpsia no Puerpério: Vigilância Redobrada

O puerpério é um período crítico.

  • Piora Clínica Pós-Parto: Comum nas primeiras 24-48 horas, especialmente após cesarianas.
  • Monitoramento Essencial: Pressão arterial (idealmente diário nos primeiros 7 dias pós-parto) e avaliação de sinais de alerta.
  • Sulfato de Magnésio: Manter por no mínimo 24 horas após o parto ou última convulsão.
  • Estabilização e Resolução: O cuidado puerperal se inicia após a estabilização materna e a resolução da gestação, que é o tratamento definitivo da doença.

Desfechos Extremos: A Declaração de Óbito Materno por Eclâmpsia

Em caso de óbito materno por eclâmpsia, o preenchimento correto da Declaração de Óbito (DO) é crucial:

  • Parte I da DO (Cadeia de Eventos): Ex: Linha 'a' (causa imediata): Coma; Linha 'b': Edema cerebral; Linha 'c': Crise convulsiva; Linha 'd' (causa básica): Eclâmpsia.
  • Parte II da DO (Outras Condições Significativas): Registrar a gestação (ex: "Gestação de X semanas" ou "Puerpério de eclâmpsia").

O acompanhamento pré-natal de qualidade, o reconhecimento precoce dos sinais e um manejo ágil e especializado são as melhores ferramentas para prevenir complicações graves.

Dominar o diagnóstico e manejo da pré-eclâmpsia e eclâmpsia é um pilar da assistência obstétrica de excelência, impactando diretamente a saúde e segurança de mães e bebês. Esperamos que este guia detalhado sirva como um recurso valioso em sua prática clínica, reforçando a importância da vigilância, da intervenção baseada em evidências e da decisão ágil e informada.

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