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Análise Profunda

Ritmos na PCR Pediátrica: Guia Completo de Identificação e Manejo

Por ResumeAi Concursos
Traçados de ECG: Fibrilação Ventricular (chocável) e Assistolia (não chocável) em PCR pediátrica.

Na arena de alta pressão da emergência pediátrica, poucos cenários são tão desafiadores quanto uma Parada Cardiorrespiratória (PCR). O sucesso não depende apenas da velocidade, mas da precisão. A bússola que guia cada decisão crítica, cada ação que pode redefinir um prognóstico, é o traçado no monitor cardíaco. Compreender os ritmos da PCR pediátrica não é um mero exercício acadêmico; é a competência fundamental que separa uma reanimação caótica de uma intervenção coordenada e eficaz. Este guia foi meticulosamente estruturado para ir além da teoria, capacitando você, profissional de saúde, a identificar com confiança e manejar com precisão os ritmos que ditam a vida e a morte, transformando conhecimento em ação salvadora à beira do leito.

Por Que o Ritmo Cardíaco Define o Sucesso na PCR Pediátrica?

No universo das emergências médicas, a parada cardiorrespiratória (PCR) pediátrica ocupa um lugar de particular complexidade. Diferentemente do que ocorre na população adulta, onde a causa primária é frequentemente um evento cardíaco súbito, em crianças, o colapso circulatório é, na maioria das vezes, o capítulo final de uma falência respiratória progressiva ou choque. Essa distinção fundamental explica por que o coração da criança geralmente para não por um problema intrínseco, mas por sofrer as consequências de uma severa hipóxia e acidose.

É neste cenário que a identificação correta do ritmo cardíaco se torna o pilar que sustenta todo o algoritmo de reanimação. O traçado no monitor é a bússola que aponta a direção terapêutica, dividindo a conduta em dois caminhos críticos:

  • Ritmos Chocáveis: Fibrilação Ventricular (FV) e Taquicardia Ventricular Sem Pulso (TVSP), que exigem um "reset" elétrico imediato.
  • Ritmos Não Chocáveis: Assistolia e Atividade Elétrica Sem Pulso (AESP), onde o foco é a RCP de alta qualidade, a farmacoterapia e a busca por causas reversíveis.

Errar nessa avaliação significa aplicar uma terapia ineficaz ou, pior, deixar de aplicar a única intervenção que poderia salvar o paciente. A precisão nesse momento é a base sobre a qual se constrói toda a cadeia de sobrevivência.

Ritmos Não Chocáveis: Assistolia e AESP, os Cenários Mais Comuns

Representando a grande maioria dos casos de PCR em pediatria, os ritmos não chocáveis exigem uma abordagem focada em RCP de alta qualidade e na correção da causa base. A desfibrilação é ineficaz nestes cenários.

Assistolia: A "Linha Reta"

A assistolia é o ritmo de PCR mais prevalente em crianças, correspondendo a cerca de 90% dos casos. Manifesta-se no monitor como uma linha reta (isoelétrica), indicando ausência total de atividade elétrica cardíaca. Geralmente, é o estágio final de uma deterioração progressiva por hipóxia e choque.

  • Atenção ao Diagnóstico: Antes de confirmar a assistolia, é fundamental seguir o "protocolo da linha reta": verifique se os cabos estão conectados, aumente o ganho do monitor e cheque diferentes derivações para descartar uma Fibrilação Ventricular (FV) fina, que exigiria um choque.

Atividade Elétrica Sem Pulso (AESP)

Na AESP, o monitor exibe um ritmo elétrico organizado, mas não há pulso central palpável. Isso significa que o sistema elétrico do coração funciona, mas não gera uma contração mecânica eficaz.

A Conduta Prioritária: RCP, Adrenalina e Causas Reversíveis

Para ambos os ritmos, a conduta se baseia em três pilares:

  1. RCP de Alta Qualidade: Compressões torácicas eficazes e ventilações adequadas, sem interrupções, são a prioridade máxima.
  2. Administração de Adrenalina: Deve ser administrada o mais precocemente possível, idealmente nos primeiros 5 minutos, e repetida a cada 3 a 5 minutos.
  3. Busca por Causas Reversíveis (Os "Hs e Ts"): É crucial investigar o que levou à parada, especialmente na AESP. As causas mais comuns em pediatria incluem:
    • Hipovolemia, Hipóxia, Hidrogênio (acidose), Hipo/Hipercalemia, Hipotermia.
    • Tensão no tórax (pneumotórax), Tamponamento cardíaco, Toxinas, Trombose.

Ritmos Chocáveis: Identificando FV e TV Sem Pulso

Embora menos comuns (10-15% dos casos), o reconhecimento dos ritmos chocáveis é um divisor de águas, pois são os únicos em que a desfibrilação pode reverter a parada.

Identificando os Ritmos no Monitor

  • Fibrilação Ventricular (FV): A imagem do caos elétrico. No monitor, apresenta-se como uma linha de base ondulante, desorganizada e irregular, sem complexos QRS discerníveis. O coração "treme" em vez de bombear.
  • Taquicardia Ventricular sem Pulso (TVsp): Caracteriza-se por complexos QRS largos (>0,12s), regulares e rápidos, mas com ausência de pulso central. A atividade elétrica é organizada, mas ineficaz.

O Algoritmo de Manejo: A Prioridade é o Choque

Diante de um ritmo chocável, a sequência de ações é clara e urgente:

  1. Choque Inicial: Assim que o desfibrilador estiver pronto, aplique um choque não sincronizado com 2 J/kg.
  2. RCP Imediata: Imediatamente após o choque, sem checar ritmo ou pulso, retome a RCP de alta qualidade por 2 minutos.
  3. Análise e Segundo Choque: Após 2 minutos, analise o ritmo. Se a FV/TVsp persistir, administre um segundo choque com dose maior: 4 J/kg.
  4. Suporte Farmacológico: Após o segundo choque e o reinício da RCP, administre adrenalina. A adrenalina pode ser repetida a cada 3 a 5 minutos.
  5. Antiarrítmicos para Ritmos Refratários: Se o ritmo chocável persistir, considere o uso de antiarrítmicos:
    • Amiodarona: Fármaco de primeira escolha.
    • Lidocaína: Alternativa se a amiodarona não estiver disponível.

O Algoritmo na Prática: Ciclos de RCP e Ações Imediatas

Toda a ressuscitação gira em torno de ciclos de 2 minutos de RCP de alta qualidade. Ao final de cada ciclo (ou assim que o monitor for conectado), a equipe realiza uma pausa breve e coordenada para trocar o compressor e analisar o ritmo, o que dita a próxima ação.

  • Se o Ritmo for Chocável (FV/TVSP): A ação é desfibrilar (2 J/kg inicialmente). Imediatamente após, reinicie a RCP por 2 minutos, sem checar pulso.
  • Se o Ritmo for Não Chocável (Assistolia/AESP): A ação é reiniciar a RCP imediatamente e administrar adrenalina o mais rápido possível.

O Momento Crítico: Ritmo Organizado e Checagem de Pulso

Se, na análise de 2 minutos, o monitor exibir um ritmo organizado, este é o único momento em que se justifica uma checagem de pulso.

  • Como Fazer: Palpe um pulso central (femoral ou carotídeo) por no máximo 10 segundos.
  • Resultados:
    • Pulso Presente: Sucesso! Houve o Retorno da Circulação Espontânea (RCE). Inicie os cuidados pós-PCR.
    • Pulso Ausente: O diagnóstico é AESP. Retome as compressões imediatamente e siga o algoritmo para ritmos não chocáveis.

Este fluxo — RCP 2 min → Pausa e Análise → Ação Específica → Repetir — garante que as compressões só sejam interrompidas quando estritamente necessário.

Sinais de Alerta: Arritmias que Podem Preceder a PCR

Tão importante quanto saber manejar a PCR é reconhecer os sinais que a precedem. Em pediatria, a parada raramente é súbita; é o desfecho de uma deterioração.

Taquicardia Supraventricular (TSV)

A Taquicardia Supraventricular (TSV) é a arritmia patológica mais comum na infância. É um ritmo rápido (FC >220 bpm em lactentes, >180 bpm em crianças), regular, com QRS estreito e início súbito. É crucial diferenciá-la da taquicardia sinusal (fisiológica, com ondas P presentes e FC variável).

Bradicardia Sintomática: O Ritmo de Pré-Parada

A bradicardia é um sinal particularmente sombrio em pediatria, quase sempre indicando hipóxia tecidual grave. Uma FC inferior a 60 bpm com sinais de má perfusão (alteração de consciência, palidez, pulsos finos), mesmo com oxigenação adequada, é uma indicação para iniciar compressões torácicas imediatas, mesmo que ainda haja pulso. Reconhecer e tratar agressivamente a hipóxia é a chave para reverter este quadro antes que evolua para uma PCR completa.


Dominar a identificação e o manejo dos ritmos na PCR pediátrica é uma das competências mais impactantes na prática da emergência. A jornada, que começa distinguindo a etiologia hipóxica pediátrica, passa pela bifurcação crítica entre ritmos chocáveis e não chocáveis, e culmina na execução precisa do algoritmo do PALS. Cada passo, desde a RCP de alta qualidade até a administração correta de fármacos e choques, depende dessa leitura inicial. Lembre-se: em uma parada, você não trata apenas um paciente, você comanda um algoritmo. A clareza sobre o ritmo cardíaco é o que permite que você o comande com maestria.

Agora que você revisou os conceitos fundamentais e as sequências de ação, que tal colocar seu conhecimento à prova? Preparamos algumas Questões Desafio para solidificar seu aprendizado e testar sua capacidade de tomar decisões rápidas e precisas. Vamos lá