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Análise Profunda

Síndrome Carcinoide: O Que É, Sintomas, Diagnóstico e a Conexão com o Câncer

Por ResumeAi Concursos
Célula de tumor neuroendócrino liberando serotonina, processo central na causa da síndrome carcinoide.

No vasto universo da medicina, algumas condições se destacam não pelo que são em si, mas pelo que sinalizam. A Síndrome Carcinoide é um desses casos emblemáticos: um conjunto de sintomas por vezes desconcertantes, como vermelhidão súbita no rosto e diarreia, que funcionam como um alarme para uma causa mais profunda e oculta — um tumor neuroendócrino. Compreender essa conexão é o primeiro passo para o diagnóstico correto e o manejo eficaz. Este guia foi elaborado para desmistificar a Síndrome Carcinoide, explicando sua origem, como ela se manifesta e por que seu aparecimento é um evento tão significativo na jornada de um paciente, capacitando você a reconhecer os sinais e a entender a ciência por trás deles.

O Que é a Síndrome Carcinoide e Sua Origem?

Para entender a Síndrome Carcinoide, é fundamental não pensar nela como uma doença, mas como um conjunto de sinais e sintomas sistêmicos. Tecnicamente, ela é uma condição paraneoplásica, o que significa que seus efeitos são causados indiretamente por um câncer, e não pelo crescimento físico do tumor.

A origem de tudo está nos tumores neuroendócrinos (TNEs), também conhecidos historicamente como tumores carcinoides. Essas neoplasias surgem de células neuroendócrinas, que possuem características tanto de células nervosas quanto de células endócrinas (produtoras de hormônios). Embora essas células estejam espalhadas por todo o corpo, os TNEs se desenvolvem mais frequentemente em:

  • Trato gastrointestinal: É a localização mais comum, incluindo intestino delgado, apêndice e reto.
  • Sistema respiratório: Os pulmões são o segundo local mais frequente.
  • Outros locais: Mais raramente, podem surgir nos rins, ovários ou testículos.

O que torna esses tumores únicos é sua capacidade de funcionar como "fábricas" desreguladas, produzindo e liberando em excesso substâncias biologicamente ativas (vasoativas) na corrente sanguínea. A principal delas é a serotonina, mas outras também desempenham um papel, como histamina, calicreína e prostaglandinas. É essa "inundação" de substâncias que provoca os sintomas.

O Papel Crucial do Fígado e da Metástase

Uma pergunta comum é: por que um paciente pode ter um TNE por anos sem sintomas e, de repente, desenvolvê-los? A resposta, na maioria dos casos, está no fígado.

Quando um TNE se origina no trato gastrointestinal, as substâncias que ele libera são drenadas para o fígado. Um fígado saudável é extremamente eficiente em metabolizar e inativar essas substâncias antes que alcancem o resto do corpo, mantendo o paciente assintomático.

O cenário muda drasticamente quando o tumor se espalha para o fígado (metástase hepática). As células tumorais no fígado liberam as substâncias diretamente na circulação sistêmica, contornando o mecanismo de filtragem. É por isso que a síndrome geralmente só se manifesta quando há metástases hepáticas. Exceções ocorrem quando o tumor primário está nos pulmões ou ovários, pois a drenagem sanguínea desses órgãos não passa primeiro pelo fígado, permitindo que a síndrome surja mesmo sem metástases.

Sinais e Sintomas Clássicos: Como a Síndrome Carcinoide se Manifesta?

Essa "tempestade química" se manifesta através de um conjunto de sinais e sintomas bem característicos, sendo os quatro pilares mais clássicos:

1. Rubor Facial (Flushing)

Este é o sinal mais icônico, presente em mais de 80% dos pacientes. Caracteriza-se por um episódio súbito de vermelhidão e calor intenso no rosto, pescoço e tórax superior. Os episódios são transitórios, duram de segundos a minutos e podem ser desencadeados por estresse, álcool ou certos alimentos. Frequentemente, são acompanhados por taquicardia (coração acelerado) e hipotensão (queda da pressão).

2. Diarreia Secretória

Outro sintoma extremamente comum, a diarreia é tipicamente aquosa, explosiva e acompanhada de cólicas abdominais. É causada pela ação da serotonina no intestino, que aumenta a secreção de fluidos.

3. Broncoespasmo (Sibilos)

Cerca de 20% dos pacientes podem apresentar sintomas respiratórios semelhantes a uma crise de asma, como dificuldade para respirar (dispneia) e um chiado no peito. Esses ataques frequentemente ocorrem junto com os episódios de flushing.

4. Cardiopatia Carcinoide

Esta é a complicação mais grave e crônica. A exposição contínua do coração a altos níveis de serotonina pode causar o depósito de tecido fibroso nas válvulas cardíacas, principalmente do lado direito do coração. Isso leva ao enrijecimento e mau funcionamento das válvulas (insuficiência e estenose), sendo a insuficiência da válvula tricúspide a alteração mais comum.

Como é Feito o Diagnóstico da Síndrome Carcinoide?

O diagnóstico é um processo investigativo que combina a suspeita clínica, baseada nos sintomas, com a precisão de exames laboratoriais e de imagem.

1. Exames Laboratoriais: A Assinatura Química do Tumor

  • Dosagem de Ácido 5-Hidroxi-indolacético (5-HIAA) na Urina de 24 horas: Este é o exame padrão-ouro. O 5-HIAA é o principal metabólito da serotonina, e sua medição na urina coletada por 24 horas confirma a produção excessiva do hormônio. Um resultado elevado tem alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico.
  • Dosagem de Cromogranina A (CgA) no Sangue: A CgA é uma proteína liberada por tecidos neuroendócrinos. Seus níveis são um excelente marcador para detectar a presença de um TNE e para monitorar a resposta ao tratamento.

2. Exames de Imagem: Em Busca da Origem

Após a confirmação laboratorial, o desafio é localizar o tumor primário e a extensão da doença.

  • Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM): São exames fundamentais para visualizar órgãos abdominais e localizar o tumor e suas metástases, especialmente no fígado.
  • Cintilografia com Análogos da Somatostatina (OctreoScan) ou PET-CT com Gálio-68 DOTATATE: São exames de medicina nuclear altamente sensíveis que utilizam um traçador radioativo que se liga aos receptores nas células dos TNEs, "iluminando-as" e permitindo sua localização precisa em qualquer parte do corpo.

Diagnóstico Diferencial: O Que Não é Síndrome Carcinoide?

Saber o que uma condição não é pode ser tão crucial quanto saber o que ela é. A síndrome carcinoide pode mimetizar diversas outras doenças, mas a ausência de certos sinais ajuda a direcionar a investigação.

Sintomas que Não São Típicos da Síndrome Carcinoide

  • Urticária e angioedema: O flushing da síndrome é tipicamente "seco", sem placas elevadas, coceira intensa ou inchaço de lábios e pálpebras, que são mais característicos de reações alérgicas.
  • Cefaleia (dor de cabeça): Não é um sintoma principal da síndrome.
  • Calafrios e tremores: Também não estão entre os achados clássicos.

Um Exemplo Clássico de Confusão: A Síndrome do Seio Carotídeo

Um diagnóstico diferencial importante, especialmente se houver desmaios (síncope), é a Síndrome do Seio Carotídeo. Sua causa é uma hipersensibilidade dos sensores de pressão na artéria carótida, no pescoço. Estímulos como usar um colarinho apertado, barbear-se ou virar a cabeça bruscamente podem desencadear uma queda acentuada da frequência cardíaca e da pressão arterial, levando à síncope. Essa condição não tem relação com tumores e é distinguida pela história clínica, investigando os gatilhos mecânicos e a ausência de diarreia ou broncoespasmo.


Compreender a Síndrome Carcinoide é como decifrar um código complexo do corpo. Ela não é uma doença isolada, mas um sinal paraneoplásico vital que aponta para um tumor neuroendócrino ativo. A jornada do diagnóstico nos leva dos sintomas visíveis, como o rubor e a diarreia, à sua causa bioquímica — o excesso de serotonina e outras substâncias — e, finalmente, à localização do tumor através de exames precisos. Reconhecer que esses sintomas são mais do que um desconforto, mas sim uma pista crucial, é o que permite uma intervenção médica direcionada e eficaz, mudando o prognóstico e a qualidade de vida do paciente.

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