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Guia Completo

Síndrome de Sjögren: O Guia Completo sobre Sintomas, Diagnóstico e Tratamento

Por ResumeAi Concursos
Ataque autoimune na Síndrome de Sjögren: linfócitos infiltrando as células de uma glândula salivar.

Muitos conhecem a Síndrome de Sjögren por seus sintomas mais evidentes: a incômoda secura nos olhos e na boca. No entanto, essa condição autoimune crônica é muito mais profunda e complexa, com um impacto que pode se estender por todo o corpo, afetando a qualidade de vida de maneiras inesperadas. Este guia completo foi elaborado por nossa equipe editorial para ir além da superfície, desvendando as múltiplas faces da Sjögren. Aqui, vamos explorar desde seus mecanismos e sintomas variados até os detalhes do diagnóstico e as estratégias de tratamento que fazem a diferença. Nosso objetivo é oferecer um recurso claro e confiável para pacientes, cuidadores e todos que buscam entender esta jornada.

O Que é a Síndrome de Sjögren? Uma Visão Geral da Doença Autoimune

A Síndrome de Sjögren é uma doença autoimune, crônica e sistêmica, na qual o sistema imunológico ataca por engano as próprias células do corpo. O principal alvo são as glândulas exócrinas, responsáveis por produzir secreções como lágrimas e saliva. O mecanismo central é uma infiltração linfoplasmocitária, um processo em que células de defesa (linfócitos) se acumulam nessas glândulas, causando inflamação crônica e, progressivamente, a destruição do tecido. A doença tem uma progressão lenta e, embora possa afetar pessoas de todas as idades, é muito mais comum em mulheres, numa proporção que pode chegar a 9 para cada homem, com pico de incidência entre a quarta e a sexta décadas de vida.

O resultado direto dessa disfunção é a característica mais conhecida da síndrome: a síndrome seca (síndrome sicca), marcada por uma secura persistente nos olhos (xeroftalmia) e na boca (xerostomia). Contudo, a secura pode também afetar a pele, as vias aéreas e a região genital.

É fundamental entender que a Síndrome de Sjögren não se manifesta de uma única forma. Ela é classificada em duas categorias principais:

  • Síndrome de Sjögren Primária: Ocorre de forma isolada, sem a presença de outra doença autoimune do tecido conjuntivo.
  • Síndrome de Sjögren Secundária: Desenvolve-se em pacientes que já possuem outra doença autoimune estabelecida, como Artrite Reumatoide, Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) ou Esclerose Sistêmica.

Embora os sintomas secos sejam o cartão de visita, a Sjögren é uma doença sistêmica. A inflamação pode ir além das glândulas e afetar outros órgãos, causando manifestações extraglandulares como fadiga intensa e dores articulares, reforçando a necessidade de uma visão completa da doença.

Identificando os Sinais: Sintomas Glandulares e Manifestações Sistêmicas

Os sintomas da Síndrome de Sjögren, uma doença de múltiplas faces, são classicamente divididos em duas categorias: glandulares, que afetam as glândulas produtoras de umidade, e extraglandulares (ou sistêmicos), que envolvem outros órgãos.

Sintomas Glandulares: A Clássica "Síndrome Seca"

O marco da doença é o ataque autoimune às glândulas salivares e lacrimais, levando à chamada "síndrome seca":

  • Olho Seco (Ceratoconjuntivite Sicca): Sensação persistente de areia nos olhos, queimação, coceira, vermelhidão e sensibilidade à luz (fotofobia).
  • Boca Seca (Xerostomia): Dificuldade para falar, mastigar e engolir alimentos secos, com um aumento significativo no risco de cáries e infecções orais, como a candidíase.
  • Aumento das Glândulas Salivares: Cerca de metade dos pacientes pode apresentar episódios de parotidite de repetição, um inchaço doloroso das glândulas parótidas (na frente das orelhas).
  • Secura em Outras Áreas: Pode ocorrer secura da pele (xerodermia), do nariz, da garganta (xerotraqueia, causando tosse seca) e vaginal.

Manifestações Extraglandulares: Quando a Doença Vai Além das Glândulas

Em muitos pacientes, o processo inflamatório afeta outros sistemas. A fadiga debilitante e as dores articulares (artralgias) são queixas sistêmicas extremamente comuns. Outros acometimentos importantes incluem:

  • Articulações: É comum a presença de artrite, que afeta principalmente mãos, punhos e joelhos. Caracteristicamente, a artrite na Sjögren primária tende a ser não erosiva, ou seja, não costuma causar deformidades.
  • Rins: O acometimento renal, presente em cerca de 10% dos pacientes, é uma das manifestações mais relevantes. A forma mais comum é a nefrite tubulointersticial, muitas vezes assintomática, mas que pode levar à formação de cálculos renais.
  • Pulmões: O envolvimento pode ir da tosse crônica por secura das vias aéreas até quadros mais graves como a doença pulmonar intersticial fibrosante, que causa cicatrização do tecido pulmonar e falta de ar.
  • Pele: A manifestação mais típica é a vasculite, uma inflamação dos pequenos vasos que surge como lesões arroxeadas elevadas (púrpura palpável), geralmente nas pernas.
  • Sistema Nervoso: O acometimento neurológico pode ocorrer tanto no sistema nervoso central quanto no periférico.
  • Associações Importantes: Pacientes com Sjögren têm maior prevalência de outras condições autoimunes, especialmente doenças da tireoide, como a Tireoidite de Hashimoto.

Como a Síndrome de Sjögren é Diagnosticada: Exames e Critérios

O diagnóstico da Síndrome de Sjögren é um processo investigativo detalhado, semelhante a montar um quebra-cabeça. O reumatologista combina os sintomas do paciente com testes objetivos, guiado pelos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia (ACR) e da Liga Europeia Contra o Reumatismo (EULAR). Um paciente com sintomas de secura precisa atingir uma pontuação de 4 ou mais para ser classificado com a doença.

As peças-chave dessa investigação são:

1. Avaliação Objetiva da Secura Glandular

  • Biópsia de Glândula Salivar Menor: Considerado o padrão-ouro, este exame confirma a inflamação autoimune. Um fragmento de glândula do lábio inferior é analisado, e a presença de sialoadenite linfocítica focal (aglomerados de células inflamatórias) vale 3 pontos.
  • Teste de Schirmer: Mede a produção de lágrimas com uma tira de papel-filtro no olho. Uma umidade de 5 mm ou menos indica olho seco significativo e vale 1 ponto.
  • Coloração da Superfície Ocular (OSS): Realizado por um oftalmologista, usa corantes para identificar danos na córnea causados pela secura. Uma pontuação elevada (≥ 5) também vale 1 ponto.
  • Fluxo Salivar Não Estimulado: Mede a produção de saliva em repouso. Um fluxo muito baixo (≤ 0,1 mL/min) vale 1 ponto.

2. Exames de Sangue: A Busca por Autoanticorpos

  • Anti-Ro/SSA: A pesquisa de autoanticorpos é um pilar do diagnóstico. A presença do anticorpo Anti-Ro/SSA, o marcador mais importante da doença, vale 3 pontos nos critérios. Sua presença, assim como a do Anti-La/SSB, não apenas confirma a natureza autoimune da condição, mas também oferece informações prognósticas que serão detalhadas a seguir.
  • Fator Antinuclear (FAN): Embora positivo em até 90% dos pacientes (geralmente com padrão "pontilhado fino"), o FAN é um exame de triagem e não faz parte do sistema de pontuação, pois pode estar presente em muitas outras condições.

3. Diagnóstico Diferencial

Parte crucial do processo é excluir outras condições que causam sintomas semelhantes, como efeitos colaterais de medicamentos (antidepressivos, anti-hipertensivos), infecções virais (Hepatite C) ou outras doenças autoimunes.

O Papel dos Anticorpos: Entendendo os Exames Anti-Ro/SSA e Anti-La/SSB

No diagnóstico de doenças autoimunes como a Sjögren, os autoanticorpos são pistas valiosas. Os mais importantes são o Anti-Ro/SSA e o Anti-La/SSB, cuja presença no sangue de um paciente com sintomas de secura é um forte indicativo da doença.

  • Anti-Ro (ou SSA): É o anticorpo mais prevalente, presente em 75% a 90% dos pacientes com Sjögren primária. Sua importância é tão grande que sua positividade é um dos critérios classificatórios oficiais.
  • Anti-La (ou SSB): Encontrado em 40% a 60% dos casos, quase sempre junto com o Anti-Ro, reforçando o diagnóstico.

Além de ajudar a confirmar a doença, a presença desses anticorpos pode estar associada a manifestações clínicas específicas:

  • Início mais precoce da doença.
  • Maior risco de manifestações extraglandulares, como inflamação nos pulmões, rins e vasculites.
  • Alerta para a gestação: Mulheres com Anti-Ro positivo têm um risco aumentado de gerar bebês com Lúpus Neonatal, que pode causar um bloqueio cardíaco congênito. Por isso, o acompanhamento pré-natal especializado é fundamental.

É crucial diferenciá-los de outros marcadores. O Anti-Sm, por exemplo, é altamente específico para o Lúpus, enquanto o ANCA está associado a vasculites sistêmicas, não tendo relação direta com a Sjögren.

Complicações e Riscos Associados: O Risco de Linfoma e Outras Condições

Viver com a Síndrome de Sjögren exige vigilância contínua, pois a atividade inflamatória crônica pode levar a complicações a longo prazo.

O Risco Aumentado de Linfoma

A complicação mais temida é o aumento do risco de desenvolver linfoma, um tipo de câncer do sistema linfático. Pacientes com Sjögren apresentam um risco de 5 a 44 vezes maior de desenvolver a doença, sendo o Linfoma não-Hodgkin (LNH) o tipo predominante. O subtipo mais comum é o linfoma MALT, que frequentemente surge nas próprias glândulas salivares.

O reumatologista estará atento a sinais de alerta que indicam maior risco, como:

  • Manifestações Clínicas: Aumento persistente das glândulas salivares, gânglios linfáticos aumentados (linfadenopatia), aumento do baço (esplenomegalia) ou lesões de pele (púrpura palpável).
  • Achados Laboratoriais: Presença de crioglobulinemia (proteínas anormais no sangue), redução dos níveis do complemento C4, ou contagens baixas de glóbulos brancos (leucopenia).

Outras Complicações Relevantes

Além do linfoma, a atividade da doença pode levar a outras condições:

  • Crioglobulinemia Mista: É um fator de risco tanto para vasculite quanto para o próprio linfoma.
  • Alterações Hematológicas: Leucopenia e baixos níveis de anticorpos (hipogamaglobulinemia) são marcadores de uma doença mais ativa.
  • Outras Neoplasias: Estudos sugerem um risco discretamente aumentado para câncer de tireoide e mieloma múltiplo.

Conhecer estes riscos não é motivo para alarme, mas uma ferramenta de empoderamento para um monitoramento eficaz junto à equipe de saúde.

Gerenciando a Síndrome de Sjögren: Opções de Tratamento e Qualidade de Vida

Como não existe cura para a Síndrome de Sjögren, o tratamento foca em aliviar os sintomas, controlar a atividade da doença e preservar a qualidade de vida. A estratégia é sempre individualizada e dividida em duas frentes.

1. Tratamento dos Sintomas de Secura

O alívio da secura ocular e oral é a base do bem-estar diário:

  • Medidas Locais: Uso regular de lágrimas artificiais sem conservantes, géis e pomadas oftálmicas. Para a boca, ingestão frequente de água, uso de saliva artificial e higiene bucal rigorosa são essenciais.
  • Tratamento Farmacológico: Medicamentos como a pilocarpina (um agonista muscarínico) estimulam as glândulas a produzir mais saliva e lágrimas, proporcionando alívio significativo.

2. Tratamento das Manifestações Sistêmicas

Quando a doença afeta outros órgãos, é preciso modular o sistema imunológico:

  • Hidroxicloroquina: É um dos medicamentos mais usados para manifestações leves a moderadas, como dores articulares (artralgia), artrite e fadiga. É importante destacar que a hidroxicloroquina não tem efeito comprovado sobre os sintomas secos.
  • Imunossupressores e Biológicos: Em casos de acometimento grave de órgãos (pulmões, rins, nervos) ou vasculite, o reumatologista pode prescrever medicamentos mais potentes, como metotrexato, azatioprina, micofenolato ou agentes biológicos.

O manejo eficaz exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo reumatologistas, oftalmologistas e dentistas, para criar um plano que controle os sintomas, minimize riscos e permita ao paciente manter uma vida ativa e plena.


Navegar pela Síndrome de Sjögren é uma jornada que exige conhecimento e parceria. Como vimos, a doença vai muito além da síndrome seca, com manifestações que podem impactar todo o corpo. Compreender que o diagnóstico é um processo investigativo, que o tratamento é personalizado para sintomas e atividade sistêmica, e que a vigilância para complicações como o linfoma é fundamental, são os pilares para um manejo bem-sucedido. O maior poder do paciente está na informação e no diálogo contínuo com sua equipe de saúde.

Agora que você explorou este guia a fundo, que tal colocar seu conhecimento à prova? Preparamos algumas Questões Desafio para ajudar a consolidar os pontos mais importantes. Vamos lá