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Análise Profunda

TC de Crânio: Guia Completo para Diagnóstico de HSA, Punção Lombar e Urgências Neurológicas

Por ResumeAi Concursos
Tomografia de crânio, corte axial, com o "sinal da estrela" característico de hemorragia subaracnóidea (HSA).

Na sala de emergência, onde cada segundo é decisivo, a capacidade de interpretar corretamente uma neuroimagem pode definir o prognóstico de um paciente. A Tomografia Computadorizada (TC) de crânio é, sem dúvida, o pilar dessa avaliação inicial, funcionando como um divisor de águas no manejo de urgências neurológicas. Este guia foi elaborado para ir além do básico, capacitando você, profissional de saúde, a não apenas indicar, mas a extrair o máximo de informação de uma TC em cenários críticos: desde a detecção de uma hemorragia subaracnóidea (HSA) até a decisão de segurança antes de uma punção lombar. Vamos decifrar juntos os sinais que salvam vidas.

TC de Crânio: O Ponto de Partida no Diagnóstico Neurológico

Diante de um déficit neurológico agudo, como suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Traumatismo Cranioencefálico (TCE), a primeira pergunta é sempre: existe sangramento intracraniano? A Tomografia Computadorizada (TC) de crânio sem contraste responde a essa questão com rapidez e alta sensibilidade, sendo o exame de imagem de escolha na emergência. Em minutos, ela fornece um panorama estrutural do encéfalo, guiando decisões terapêuticas cruciais.

Entendendo as Densidades: O "Branco e Preto" do Cérebro

A interpretação da TC baseia-se na densidade radiológica, visualizada em uma escala de cinza:

  • Hiperdenso (Branco/Brilhante): Materiais que atenuam fortemente os raios-X, como o osso e o sangue agudo. Uma área hiperdensa no parênquima, ventrículos ou espaço subaracnóideo é o sinal clássico de hemorragia.
  • Hipodenso (Escuro/Preto): Materiais que atenuam pouco os raios-X, como o líquido cefalorraquidiano (LCR), gordura e ar. Áreas de edema cerebral ou morte neuronal por isquemia (infarto) também se apresentam como hipodensas.

É vital notar que, em um AVC isquêmico, a hipodensidade pode levar horas para se manifestar. Portanto, uma TC normal nas primeiras horas não exclui o diagnóstico, mas cumpre seu principal objetivo: afastar hemorragia para permitir, por exemplo, a trombólise.

Decifrando a Hemorragia Subaracnóidea (HSA) na Tomografia

Na suspeita de HSA — classicamente marcada por uma cefaleia súbita e excruciante ("a pior dor de cabeça da vida") — a TC sem contraste é o pilar diagnóstico. O achado patognomônico é a presença de material hiperdenso (sangue) preenchendo os espaços que normalmente contêm apenas LCR, como:

  • Cisternas da base: Especialmente ao redor do polígono de Willis.
  • Fissuras: Como a fissura silviana.
  • Sulcos corticais: Delineando os giros cerebrais.

A Sensibilidade e a Janela de Tempo

A capacidade da TC de detectar o sangue é inversamente proporcional ao tempo decorrido do evento:

  • Nas primeiras 6 horas: Sensibilidade próxima de 100%.
  • Entre 6 e 24 horas: Sensibilidade em torno de 90%.
  • Após o 5º dia: A sensibilidade cai para aproximadamente 58%, pois o sangue é reabsorvido e sua densidade diminui.

Por isso, uma TC normal realizada horas ou dias após o início dos sintomas não exclui o diagnóstico. Em casos de forte suspeita clínica e TC negativa, a investigação deve prosseguir.

Após a Imagem: Punção Lombar, Complicações e Prognóstico na HSA

Se a suspeita clínica de HSA persiste apesar de uma TC normal, o próximo passo é a punção lombar (PL) para análise do líquor. A PL é contraindicada se a TC já confirmou a HSA e há sinais de hipertensão intracraniana, pelo risco de herniação.

Os achados chave no LCR que confirmam a HSA são:

  • Xantocromia: Coloração amarelada do sobrenadante do LCR após centrifugação. Resulta da degradação da hemoglobina e é o sinal definitivo, diferenciando a HSA de um acidente de punção.
  • Teste dos Três Tubos: A contagem de hemácias permanece consistentemente elevada em todos os tubos coletados, ao contrário do acidente de punção, onde a contagem diminui.

Uma complicação comum da HSA, visível na TC, é a hidrocefalia, causada pela obstrução do fluxo de LCR pelo sangue. Ela se manifesta como dilatação dos ventrículos e seu manejo agudo é uma emergência neurocirúrgica, frequentemente exigindo uma Derivação Ventricular Externa (DVE).

Para avaliar o prognóstico, utilizamos escalas como a de Hunt-Hess (específica para HSA) e a Escala de Coma de Glasgow (ECG), onde uma pontuação ≤ 8 indica coma grave e prognóstico reservado.

TC de Crânio Pré-Punção Lombar: Quando é Essencial para a Segurança?

A indicação de punção lombar na suspeita de HSA nos leva a uma questão de segurança fundamental: quando é obrigatório realizar uma TC de crânio antes do procedimento? A PL, em presença de uma lesão com efeito de massa (tumor, abscesso) ou edema cerebral difuso, pode precipitar uma herniação cerebral fatal. A TC funciona como um "guardião da segurança" para mitigar esse risco.

A realização de TC pré-PL é obrigatória na presença de qualquer um dos seguintes critérios:

  • Rebaixamento do Nível de Consciência (Glasgow < 15)
  • Déficit Neurológico Focal novo
  • Crise Convulsiva de Início Recente (na última semana)
  • Papiledema no exame de fundo de olho
  • Estado de Imunossupressão Grave (HIV, transplantados)
  • História de Doença do Sistema Nervoso Central (tumor, AVC prévio)

Na suspeita de meningite bacteriana, o protocolo é: coletar hemoculturas, administrar a primeira dose de antibiótico e, então, realizar a TC. Se o exame for seguro, a PL é feita em seguida.

Ampliando o Horizonte: TC em Outros Cenários Neurológicos

A utilidade da TC se estende a uma vasta gama de urgências neurológicas.

  • Acidente Vascular Cerebral (AVC): O papel da TC é binário: diferenciar um AVC isquêmico (TC inicial frequentemente normal) de um AVC hemorrágico (área hiperdensa). Essa distinção é o que autoriza ou contraindica a terapia trombolítica.
  • Cefaleias com Sinais de Alarme: Início súbito, febre, déficit neurológico ou início após os 50 anos exigem uma TC para descartar causas secundárias graves.
  • Crises Convulsivas: A TC é indicada na primeira crise convulsiva de um adulto ou em qualquer crise associada a achados focais, trauma ou recuperação lenta da consciência.
  • Traumatismo Cranioencefálico (TCE): A TC é a modalidade de escolha para detectar fraturas e hematomas. Em TCEs leves (Glasgow 13-15), a Regra Canadense para TC de Crânio ajuda a racionalizar seu uso, indicando o exame em pacientes com alto risco (Glasgow < 15 após 2h, suspeita de fratura, vômitos, idade ≥ 65 anos) ou médio risco (amnésia > 30 min, mecanismo perigoso).

Limites da TC e o Papel de Outras Modalidades de Neuroimagem

Apesar de seu papel central, a TC tem limitações. Sua baixa sensibilidade para AVC isquêmico hiperagudo, a visualização limitada da fossa posterior (tronco cerebral e cerebelo) por artefatos ósseos e o baixo contraste entre tecidos moles são seus principais "pontos cegos".

É aqui que outras modalidades se tornam essenciais:

  • Ressonância Magnética (RM): É o padrão-ouro para a avaliação do parênquima encefálico. A sequência de difusão (DWI) detecta isquemia minutos após sua instalação. É superior para caracterizar tumores, avaliar a fossa posterior e diagnosticar doenças desmielinizantes como a Esclerose Múltipla.
  • Angiotomografia (Angio-TC): Realizada com contraste, mapeia a árvore vascular. É crucial para detectar aneurismas na investigação da HSA, identificar oclusões de grandes vasos no AVC isquêmico (indicando trombectomia mecânica) e avaliar dissecções arteriais pós-trauma.

Dominar a TC de crânio é dominar a porta de entrada da emergência neurológica. A partir dela, um raciocínio clínico apurado guiará a necessidade de investigações complementares, como a RM e a Angio-TC, para desvendar a complexidade das patologias do sistema nervoso central.

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