Urticária em Crianças e Adultos: Guia Completo de Causas, Sintomas e Tratamentos
Manchas vermelhas que coçam intensamente e surgem na pele sem aviso prévio podem ser alarmantes, especialmente quando afetam crianças. Essa reação, conhecida como urticária, é uma das condições dermatológicas mais comuns e, embora geralmente benigna, gera muitas dúvidas e ansiedade. Este guia completo foi elaborado por nossa equipe editorial para transformar a incerteza em conhecimento. Aqui, você encontrará informações claras e confiáveis para identificar os sinais da urticária, compreender suas diferentes causas — das mais comuns às mais raras —, e conhecer as abordagens de tratamento mais seguras e eficazes, capacitando você a agir com mais tranquilidade e segurança.
O Que é Urticária e Como Reconhecer os Sinais na Pele?
A urticária é uma reação da pele a um determinado gatilho, não uma doença em si. Entender como ela se manifesta é o primeiro passo para um manejo eficaz. A lesão que a define tem um nome específico: a urtica. Trata-se de uma placa avermelhada, elevada e inchada (edemaciada) que provoca uma coceira intensa, semelhante à reação que ocorre ao tocar em uma folha de urtiga.
As características mais importantes para reconhecer uma urtica são:
- Aparência: Lesões avermelhadas, inchadas e bem demarcadas. Podem variar de tamanho, desde pequenas pápulas até grandes placas que se unem. Muitas vezes, o centro da lesão é mais pálido que as bordas.
- Coceira (Prurido): A coceira é um sintoma quase universal e costuma ser o mais incômodo.
- Caráter Efêmero e Migratório: Esta é a pista mais valiosa. Cada lesão individual de urticária é fugaz, ou seja, ela dura pouco tempo no mesmo lugar — tipicamente menos de 24 horas — e desaparece sem deixar qualquer marca, cicatriz ou mancha. Enquanto uma lesão some, novas podem surgir em outras partes do corpo, dando a impressão de que a irritação está "migrando".
- Desaparecimento à Pressão: Se você pressionar uma urtica com o dedo, a vermelhidão some momentaneamente (empalidece à digitopressão).
Por Que a Pele Reage Assim? Mastócitos e Histamina
A urticária acontece por um processo bem definido. Na nossa pele, temos células de defesa chamadas mastócitos. Quando essas células são ativadas por um gatilho, elas liberam mediadores inflamatórios, sendo o mais famoso a histamina. A histamina age nos pequenos vasos sanguíneos da pele, fazendo com que eles dilatem e se tornem mais permeáveis. Isso permite que o plasma (a parte líquida do sangue) extravase para a derme, causando o inchaço (edema), a vermelhidão e a coceira característicos da urtica.
Urticária vs. Angioedema: Qual a Diferença?
É comum que a urticária apareça junto com o angioedema. Embora relacionados, eles não são a mesma coisa. A diferença está na profundidade do inchaço:
- Urticária: O inchaço (edema) ocorre na camada mais superficial da pele (a derme). As lesões são bem definidas e coçam muito.
- Angioedema: O inchaço é mais profundo, atingindo a derme profunda e o tecido subcutâneo. Manifesta-se como um inchaço mais difuso e mal definido, geralmente em áreas de pele mais frouxa, como pálpebras, lábios, língua, mãos e pés. O angioedema pode causar uma sensação de dor ou queimação em vez de coceira.
Cerca de 40% das pessoas com urticária também apresentam episódios de angioedema. Em resumo, a urticária é uma reação superficial e pruriginosa, enquanto o angioedema é um inchaço profundo e muitas vezes mais doloroso.
Urticária Aguda vs. Crônica: Entenda as Diferenças de Duração e Causa
Ainda que o sintoma principal seja sempre o aparecimento de urticas, a forma como a condição se manifesta ao longo do tempo é o principal fator para sua classificação. Entender essa diferença é fundamental, pois a duração do quadro aponta para causas e abordagens de tratamento distintas. A principal divisão é feita com base em um marco temporal bem definido: seis semanas.
1. Urticária Aguda
A urticária é classificada como aguda quando os surtos de lesões aparecem e desaparecem em um período inferior a 6 semanas. Esta é a forma mais comum, especialmente em crianças.
- Duração: Os episódios são autolimitados. As lesões em si são fugazes, mas novos surtos podem surgir em outras áreas do corpo durante esse período.
- Causas: Na urticária aguda, é mais frequente conseguir identificar um gatilho específico, como infecções, medicamentos ou alimentos, que abordaremos em detalhe a seguir. No entanto, em cerca de 50% dos casos, a causa exata não é identificada, sendo classificada como idiopática.
2. Urticária Crônica
Quando os surtos de urticária persistem de forma contínua ou recorrente por um período superior a 6 semanas, o quadro é definido como urticária crônica. Esta forma é mais comum em adultos e representa um desafio diagnóstico maior. Ela se subdivide em dois grandes grupos:
- Urticária Crônica Espontânea (UCE): É a forma mais comum. Nela, as urticas e/ou o angioedema surgem sem nenhum gatilho externo identificável. O aparecimento é imprevisível e pode impactar significativamente a qualidade de vida.
- Urticária Crônica Induzida (UCInd): Neste grupo, os surtos são desencadeados por um estímulo específico e reprodutível. Os tipos mais comuns incluem:
- Dermografismo: Lesões que surgem após atrito ou pressão na pele.
- Urticária de Pressão Tardia: Inchaço que aparece horas após uma pressão contínua.
- Urticária ao Frio: Reação desencadeada pela exposição ao frio.
- Urticária ao Calor: Desencadeada pelo contato com fontes de calor.
- Urticária Solar: Reação à exposição à luz solar.
- Urticária Colinérgica: Pequenas urticas que surgem com o aumento da temperatura corporal (exercícios, banhos quentes).
Compreender se a urticária é aguda ou crônica é o primeiro passo para guiar a investigação médica e definir a estratégia de tratamento mais eficaz.
Principais Causas e Gatilhos da Urticária (Com Foco em Crianças)
Entender o que desencadeia um episódio de urticária é como ser um detetive: é preciso analisar pistas e contextos. As causas podem ser variadas, e o perfil dos gatilhos muda significativamente entre crianças e adultos, bem como entre os quadros agudos e crônicos.
O Gatilho Número Um na Infância: Infecções
No universo pediátrico, um fato se destaca: a principal causa de urticária aguda não é uma alergia clássica, mas sim uma infecção. Estima-se que mais de 80% dos casos em crianças sejam desencadeados por processos infecciosos, principalmente os de origem viral. Quadros como resfriados, gripes ou infecções gastrointestinais podem ter a urticária como uma de suas manifestações, pois o sistema imunológico, ao combater o agente infeccioso, acaba ativando os mastócitos na pele.
Medicamentos: O Segundo Suspeito Mais Comum
Em segundo lugar no pódio das causas pediátricas estão os medicamentos. A reação pode ocorrer logo após o início do uso ou mesmo dias depois. Os principais grupos envolvidos são:
- Antibióticos: Especialmente os da classe dos betalactâmicos, como a amoxicilina.
- Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Como o ibuprofeno e o diclofenaco.
Alimentos e Aditivos: Uma Causa Frequente, Mas Superestimada
Embora muitos pais associem imediatamente a urticária a algo que a criança comeu, as alergias alimentares respondem por uma parcela menor dos casos agudos (cerca de 7% a 10%). Quando ocorrem, geralmente estão ligadas a alérgenos bem conhecidos como leite de vaca, ovo, trigo, soja, amendoim e castanhas. Já os corantes e conservantes, apesar de famosos, raramente são a causa comprovada de urticária.
Estímulos Físicos: Quando o Corpo Reage ao Ambiente
Às vezes, o gatilho não é algo que ingerimos, mas sim um estímulo do ambiente. Essas são as urticárias físicas (ou induzidas), mais associadas a quadros crônicos, como o dermografismo (reação ao atrito), a urticária ao frio ou ao calor.
Como o Médico Faz o Diagnóstico da Urticária?
O diagnóstico da urticária é, na grande maioria dos casos, essencialmente clínico. Isso significa que o médico se baseia principalmente na conversa com o paciente (anamnese) e no exame físico, sem a necessidade inicial de exames complexos.
A Avaliação Clínica: O Pilar do Diagnóstico
A investigação começa com uma anamnese detalhada, na qual o médico buscará entender as características das lesões, sua duração (aguda ou crônica), frequência e possíveis gatilhos. Durante o exame físico, o médico irá observar as lesões de pele, confirmando se apresentam as características clássicas da urtica: placas avermelhadas, elevadas e fugazes, que empalidecem quando pressionadas e desaparecem sem deixar marcas.
Quando Exames Complementares São Necessários?
Para um episódio de urticária aguda simples, a investigação extensa geralmente não é necessária. No entanto, em cenários específicos, o médico pode solicitar exames:
- Urticária Crônica (> 6 semanas): Podem ser solicitados exames de sangue para investigar possíveis doenças autoimunes ou infecções crônicas associadas. Mesmo assim, em muitos casos, nenhuma causa é encontrada.
- Suspeita de Urticária Vasculite: Se as lesões são atípicas — duram mais de 24-48 horas, são dolorosas ou deixam uma mancha roxa — uma biópsia de pele é necessária para o diagnóstico.
- Urticárias Induzíveis: Para tipos como a urticária ao frio, o diagnóstico pode ser confirmado com um teste de provocação simples, como a aplicação de um cubo de gelo na pele.
É crucial entender que testes cutâneos abrangentes para alérgenos ou a dosagem de IgE total sérica raramente identificam a causa de uma urticária e não são recomendados como triagem inicial.
Tratamento de Primeira Linha: Como Aliviar a Urticária de Forma Segura
O manejo eficaz da urticária baseia-se em afastar o agente causador, sempre que possível, e controlar os sintomas com a medicação adequada.
A Missão Inicial: Identificar e Afastar o Gatilho
O primeiro passo é tentar identificar o que desencadeou a crise. Se for um alimento, ele deve ser excluído da dieta. Se for um medicamento, o médico orientará sua suspensão e substituição. Para urticárias físicas, a estratégia é evitar a exposição ao estímulo (frio, calor, pressão).
O Pilar do Tratamento: Anti-histamínicos de Segunda Geração
Quando o gatilho não é identificado ou enquanto o corpo se recupera, o tratamento medicamentoso entra em cena. A pedra angular para a urticária, tanto aguda quanto crônica, são os anti-histamínicos de segunda geração administrados por via oral.
Esses medicamentos bloqueiam a ação da histamina, aliviando a coceira e o inchaço. Eles são a primeira escolha recomendada por todas as diretrizes médicas por suas vantagens:
- Não causam (ou causam mínima) sonolência: Diferente dos anti-histamínicos mais antigos, não interferem nas atividades diárias.
- Menos efeitos colaterais: Apresentam menor risco de causar cansaço ou boca seca.
- Posologia cômoda: Geralmente permitem a administração em dose única diária.
Exemplos comuns incluem a loratadina, desloratadina, fexofenadina e cetirizina. Para a urticária crônica, o uso contínuo desses medicamentos é a base do tratamento, e o médico pode ajustar a dose para obter o controle dos sintomas.
Tratamentos Avançados: O Papel dos Corticoides e Outras Opções
Quando os anti-histamínicos de segunda geração não são suficientes para controlar os sintomas, o médico pode lançar mão de terapias mais avançadas.
Corticoides Sistêmicos: Uma Ferramenta Poderosa, mas de Uso Criterioso
Os corticoides sistêmicos (como a prednisona) são anti-inflamatórios potentes, mas não são a primeira escolha para a urticária comum. Seu uso é uma terapia de segunda linha, reservada para casos agudos graves ou extensos, em ciclos curtos (3 a 7 dias) para controlar uma crise. É fundamental evitar o uso prolongado na urticária crônica devido aos significativos efeitos adversos.
A Ineficácia dos Tratamentos Tópicos
É importante esclarecer: corticoides tópicos (pomadas e cremes) são ineficazes para a urticária comum. A reação ocorre em camadas profundas da pele (derme), onde as preparações tópicas não conseguem penetrar de forma eficaz.
Outras Opções para Casos Crônicos e Refratários
Quando a urticária crônica não responde adequadamente aos anti-histamínicos, existem outras linhas de tratamento:
- Imunobiológicos: O Omalizumabe é um anticorpo monoclonal que representa uma opção segura e altamente eficaz para muitos pacientes com urticária crônica espontânea refratária.
- Imunossupressores: Medicamentos como a ciclosporina podem ser considerados em cenários de extrema gravidade, sob estrita supervisão de um especialista.
A escolha do tratamento ideal sempre dependerá da gravidade, do tipo de urticária e da resposta individual de cada paciente.
Sinais de Alerta: Quando a Urticária Pode Ser Grave?
Embora na maioria das vezes a urticária seja desconfortável, mas autolimitada, é fundamental saber reconhecer os sinais de uma reação sistêmica grave, como a anafilaxia. A chave é entender que a presença isolada de urticária, sem outros sintomas, não é suficiente para diagnosticar anafilaxia. O perigo real reside no envolvimento de outros sistemas do corpo.
O angioedema (inchaço de lábios, pálpebras, língua) merece atenção especial. Quando associado à urticária, geralmente está ligado ao mesmo mecanismo alérgico.
Sinais de Alerta para Procurar Ajuda de Emergência
Se a urticária ou o angioedema vierem acompanhados de qualquer um dos sintomas abaixo, procure atendimento médico de emergência imediatamente. Estes são sinais clássicos de anafilaxia:
- Inchaço progressivo na garganta, língua ou lábios.
- Dificuldade para respirar ou chiado no peito.
- Voz rouca ou dificuldade para engolir.
- Tontura, sensação de desmaio ou perda de consciência (sinais de queda da pressão arterial).
- Palpitações ou batimentos cardíacos acelerados.
- Dor abdominal intensa, náuseas, vômitos ou diarreia súbita.
Lembre-se: o que define a gravidade é o comprometimento respiratório ou cardiovascular. Na dúvida, e principalmente na presença de qualquer um dos sinais de alerta, a ação rápida é essencial para salvar uma vida.
Em resumo, a urticária é uma reação da pele cujas características, duração e gatilhos variam amplamente. Compreender a diferença entre quadros agudos e crônicos é o primeiro passo para uma investigação correta. O tratamento de primeira linha é seguro e eficaz com anti-histamínicos de segunda geração, enquanto terapias mais avançadas são reservadas para casos específicos. Acima de tudo, saber reconhecer os sinais de alerta de uma reação grave é o conhecimento mais valioso que você pode ter.
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