Receber o diagnóstico de um "pólipo" pode gerar uma onda de ansiedade, evocando a pergunta que mais importa: isso pode virar câncer? A verdade é que, embora a grande maioria dessas lesões seja benigna, a tranquilidade só vem com informação de qualidade. Este guia foi elaborado para ser sua fonte de referência, cortando o ruído e a desinformação. Aqui, vamos desmistificar os pólipos, com um foco especial nos uterinos, e esclarecer de forma direta quais são os verdadeiros sinais de alerta — como tamanho, sintomas e idade — que determinam quando a vigilância se torna ação. Nosso objetivo é transformar a preocupação em conhecimento, para que você possa ter conversas mais seguras e informadas com seu médico.
O Que São Pólipos e Por Que Aparecem?
De forma simplificada, pólipos são crescimentos anormais de tecido que se projetam a partir de uma membrana mucosa, como o revestimento interno do útero, do intestino ou da vesícula biliar. Na grande maioria dos casos, essas proliferações são de natureza benigna. Visualmente, eles podem se apresentar de duas formas principais:
- Pediculados: Possuem uma base fina, como um caule, que os liga à superfície.
- Sésseis: Apresentam uma base larga e plana, crescendo diretamente sobre o tecido.
A causa do surgimento dessas estruturas é variada e depende de sua localização. Frequentemente, fatores como inflamação crônica e irritação persistente desempenham um papel central. Um dos gatilhos mais significativos, especialmente no contexto ginecológico, é a sensibilidade hormonal. Os pólipos endometriais (que crescem no revestimento do útero), por exemplo, possuem receptores para estrogênio e progesterona, o que significa que seu crescimento é diretamente influenciado pelas flutuações desses hormônios.
Essa conexão hormonal ajuda a explicar por que a prevalência de certos pólipos varia com a idade, um fator determinante tanto para sua aparição quanto para seu potencial de risco:
- Pólipos Endometriais: Raros em adolescentes, sua incidência aumenta a partir dos 40 anos, com pico na perimenopausa (40-50 anos), sendo uma das principais causas de sangramento uterino anormal (SUA) nesta faixa etária.
- Pólipos Intestinais (Colônicos): Sua ocorrência também aumenta com o envelhecimento, tornando-se mais frequentes após os 50 anos.
- Pólipos Vesiculares: Embora o tamanho seja o principal preditor de risco, a idade avançada (acima de 60 anos) é considerada um fator que eleva seu potencial de malignidade.
Pólipos Uterinos: Avaliando o Risco Real de Câncer
Ao receber o diagnóstico de um pólipo uterino, seja ele endometrial (dentro do útero) ou endocervical (no colo do útero), a principal dúvida é sobre o risco de malignidade. A boa notícia é que a grande maioria é benigna. O risco de um pólipo endometrial ser maligno é baixo, situando-se entre 1% a 5%. Para os pólipos endocervicais, a malignidade é ainda mais rara (menos de 1,5%).
Apesar da baixa probabilidade geral, certos fatores funcionam como importantes sinais de alerta que aumentam a necessidade de investigação.
1. Status Menopausal e Sintomas
O risco de malignidade é significativamente maior em mulheres na pós-menopausa. Além disso, pólipos que causam sangramento uterino anormal (fora do período menstrual, após a relação sexual ou após a menopausa) apresentam um risco maior em comparação com aqueles que são assintomáticos (achados de exame).
2. Tamanho do Pólipo
O tamanho é um indicador crucial. Pólipos endometriais maiores que 1,5 cm têm uma probabilidade mais elevada de conter células malignas. Por essa razão, a remoção cirúrgica (polipectomia) é frequentemente recomendada para pólipos que ultrapassam essa medida, mesmo que assintomáticos.
3. Tipo Histológico e a Hiperplasia Endometrial
A análise em laboratório (histopatologia) do pólipo removido é o que define o risco real. Alguns pólipos são, na prática, uma hiperplasia focal do endométrio — um crescimento localizado do revestimento uterino. A presença de atipias celulares (anormalidades) nessa hiperplasia é o fator mais preocupante, elevando o risco de progressão para câncer de endométrio de 1-3% para até 29%.
Da mesma forma, pólipos classificados como adenomatosos (especialmente do subtipo viloso) são considerados pré-cancerosos e exigem atenção, enquanto os tipos hiperplásicos e inflamatórios têm um potencial de malignidade baixíssimo.
O Sinal de Alerta Máximo: Suspeita de Sarcoma Uterino
Embora raro, um cenário grave é a suspeita de sarcoma uterino, um câncer agressivo que pode ser confundido com um mioma. O principal sinal de alerta é o crescimento rápido de um "mioma" ou do volume uterino, especialmente em uma mulher na pós-menopausa, associado a sangramento.
Desmistificando Crenças: O que NÃO Aumenta o Risco
É importante saber que fatores como diabetes, endometrite, menarca tardia ou uso de antagonistas de estrogênio não são considerados fatores de risco para o desenvolvimento de pólipos uterinos.
Contexto Importante: O Risco em Pólipos de Outras Localizações
Para colocar o risco dos pólipos uterinos em perspectiva, é útil compará-los com os de outras áreas do corpo, onde os critérios de risco são diferentes.
Pólipos Intestinais: A Escala de Risco dos Adenomas
No cólon, o risco está diretamente ligado à histologia. Os pólipos adenomatosos são lesões pré-malignas, com risco crescente conforme o subtipo:
- Adenoma Tubular: Baixo risco.
- Adenoma Tubuloviloso: Risco intermediário.
- Adenoma Viloso: Alto risco, com maior potencial de se transformar em câncer.
Pólipos na Vesícula Biliar: O Tamanho é o Fator Decisivo
Na vesícula, a grande maioria dos pólipos é de colesterol, sem potencial maligno. Para os demais, o fator crítico é o tamanho:
- Menores que 10 mm (1 cm): Baixo risco, geralmente acompanhados.
- Maiores que 10 mm (1 cm): Risco significativo de malignidade, indicando a remoção da vesícula (colecistectomia).
Isso reforça que a palavra "pólipo" é apenas o ponto de partida. A avaliação precisa do risco depende sempre de onde ele está e do que ele é feito.
Diagnóstico e Tratamento: A Importância da Remoção e Análise do Pólipo
Uma vez identificado um pólipo endometrial suspeito, a abordagem padrão-ouro é a sua remoção completa (polipectomia), geralmente realizada por histeroscopia cirúrgica. Este procedimento é fundamental por duas razões:
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Diagnóstico Definitivo: Apenas a análise histopatológica de toda a lesão garante um diagnóstico preciso. Isso porque, quando existe malignidade, as células cancerígenas frequentemente se concentram na base ou no pedículo do pólipo. Uma remoção parcial poderia gerar um falso resultado benigno, deixando um foco de câncer para trás.
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Tratamento e Prevenção: A exérese completa trata os sintomas (como sangramento) e diminui as chances de o pólipo voltar a crescer no mesmo local.
Abordagens como terapia com progesterona oral ou curetagem uterina "às cegas" não são consideradas adequadas, por serem ineficazes ou imprecisas. A histerectomia (remoção do útero) é um tratamento excessivo, reservado apenas para casos confirmados de malignidade.
Atenção Especial: O Pólipo Cervical como "Ponta do Iceberg"
O achado de um pólipo no colo do útero (cervical) exige uma investigação mais aprofundada. Cerca de 25% das mulheres com pólipos cervicais também têm pólipos dentro do útero. Por isso, a avaliação completa da cavidade endometrial por histeroscopia é indispensável para garantir que a origem do problema seja corretamente identificada e tratada.
A principal mensagem é de tranquilidade, mas vigilância. Embora a maioria dos pólipos uterinos seja benigna, a avaliação de um especialista é indispensável para analisar os fatores de risco individuais, como o status menopausal, a presença de sangramento e o tamanho da lesão. Ignorar os sinais nunca é uma opção segura. A remoção completa do pólipo por histeroscopia, seguida de análise laboratorial, continua sendo o padrão-ouro para garantir tanto o diagnóstico definitivo quanto a resolução do problema.
Fique atenta e procure seu ginecologista se você apresentar qualquer um destes sintomas:
- Sangramento entre os períodos menstruais.
- Fluxo menstrual anormalmente intenso.
- Qualquer sangramento vaginal após a menopausa.
- Sangramento após a relação sexual.
- Dificuldade para engravidar.
Agora que você desvendou os mitos e verdades sobre os pólipos, que tal testar seu conhecimento? Confira nossas Questões Desafio preparadas especialmente sobre este assunto