Escolher um método contraceptivo pode ser uma jornada complexa, repleta de informações desencontradas e opiniões diversas. Em meio a tantas opções, o Dispositivo Intrauterino (DIU) surge como uma solução moderna, eficaz e de longa duração, mas que ainda é cercada de dúvidas e mitos. Nosso compromisso como editores é oferecer um guia definitivo e confiável, que corte o ruído e vá direto ao ponto. Este artigo foi cuidadosamente elaborado para desmistificar o DIU, desde seus tipos e funcionamento até o processo de inserção e seus benefícios, capacitando você a ter uma conversa informada com seu médico e a tomar a melhor decisão para sua saúde e bem-estar.
O que é o DIU e por que é considerado um método LARC?
O Dispositivo Intrauterino, mais conhecido pela sigla DIU, é um pequeno dispositivo, geralmente em formato de "T", que é inserido no interior do útero por um profissional de saúde para prevenir a gravidez. Ele se destaca como um dos métodos contraceptivos mais eficazes do mundo, pertencendo a uma categoria especial chamada LARC.
A sigla LARC significa Long-Acting Reversible Contraceptives, ou, em português, Contraceptivos Reversíveis de Longa Duração. Essa classificação é reservada para métodos que oferecem proteção contínua por vários anos sem a necessidade de ação diária ou mensal por parte da usuária. Os LARCs, incluindo os DIUs, são amplamente reconhecidos pela comunidade médica por sua:
- Alta eficácia: Com taxas de falha inferiores a 1%, sua eficácia é comparável à da esterilização cirúrgica, mas com a grande vantagem de ser completamente reversível.
- Boa tolerabilidade: A maioria das usuárias se adapta bem ao método após um período inicial.
- Excelente custo-benefício: Embora o custo inicial de inserção possa ser maior, ele se dilui ao longo dos anos de uso, tornando-se uma opção muito econômica.
O Mecanismo de Ação Fundamental: Uma Reação de Corpo Estranho
Independentemente de ser um modelo de cobre ou hormonal, o mecanismo de ação primário de todo DIU é sua simples presença física dentro da cavidade uterina. O útero reconhece o dispositivo como um corpo estranho e desencadeia uma reação inflamatória local e estéril (ou seja, sem infecção).
Essa resposta inflamatória, que envolve a liberação de substâncias como prostaglandinas e a mobilização de células de defesa, cria um ambiente intrauterino que é hostil à concepção. Especificamente, essa reação é tóxica para os espermatozoides e para os óvulos, dificultando ou impedindo que a fecundação ocorra. Este é o pilar da sua ação contraceptiva.
Quais são os tipos de DIU disponíveis no Brasil?
No Brasil, os Dispositivos Intrauterinos se dividem em duas categorias principais, cada uma com um mecanismo de ação e perfil distintos: os não hormonais e os hormonais.
1. DIU Não Hormonal: O DIU de Cobre
Este é o modelo "clássico" de DIU, conhecido por sua eficácia e por não utilizar hormônios.
- Como funciona? O DIU de Cobre é uma pequena estrutura de plástico em formato de "T", revestida com fios de cobre. Sua ação se baseia na potencialização da reação inflamatória natural do útero, com os íons de cobre tornando o ambiente ainda mais hostil aos espermatozoides e óvulos.
- Principais características:
- Livre de hormônios: Ideal para mulheres que não podem ou não desejam usar contraceptivos hormonais.
- Longa duração: Pode permanecer no útero por até 10 anos, dependendo do modelo.
- Efeitos colaterais: O efeito adverso mais comum é o aumento do fluxo menstrual e das cólicas, principalmente nos primeiros meses de uso.
2. DIU Hormonal: O Sistema Intrauterino (SIU) de Levonorgestrel
Também conhecido como Sistema Intrauterino (SIU), este dispositivo combina a estrutura de um DIU com a liberação controlada e localizada de um hormônio.
- Como funciona? O DIU Hormonal libera continuamente uma pequena dose de levonorgestrel (um tipo de progesterona) diretamente no útero. Ele oferece benefícios adicionais que detalharemos mais adiante, como a notável redução do fluxo menstrual.
- Principais características:
- Ação hormonal local: A quantidade de hormônio que chega à corrente sanguínea é mínima.
- Redução do fluxo menstrual: Um dos seus principais benefícios é a diminuição significativa ou até a interrupção da menstruação (amenorreia).
- Duração: Existem modelos com duração de 3 a 5 anos.
Dentro da família LARC, a comparação mais comum é entre os DIUs e o implante subdérmico. Entender suas diferenças é chave para a escolha.
Comparativo: DIUs vs. Implante Subdérmico
| Característica | DIU de Cobre e DIU Hormonal | Implante Subdérmico |
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| Local de Inserção | Dentro da cavidade uterina. | Sob a pele, na parte interna do braço. |
| Eficácia | Altamente eficazes, mas considerados discretamente menos eficazes que o implante. O índice de falha (Índice de Pearl) é ligeiramente maior. | Considerado o método contraceptivo reversível mais eficaz disponível, com taxas de falha extremamente baixas. |
| Hormônios | Cobre: Nenhum.
Hormonal: Levonorgestrel (ação local). | Etonogestrel (progesterona), com ação sistêmica. |
| Riscos da Inserção | Dor, perfuração uterina, expulsão, infecção pélvica. | Complicações locais e raras: edema, hematoma, desconforto, infecção no local ou quebra do implante. |
| Vantagens | DIU Cobre: não hormonal.
DIU Hormonal: reduz o fluxo menstrual. | Discrição, altíssima eficácia, boa aceitabilidade pelas usuárias. Por ser um método apenas com progesterona, é uma opção segura para muitas pacientes. |
| Custo | Geralmente mais acessível. | Custo inicial mais elevado, porém com uma excelente relação custo-benefício devido à sua longa duração (até 3 anos). |
Foco no DIU de Levonorgestrel (Hormonal): Como Funciona e Seus Benefícios
Como vimos, o DIU hormonal, tecnicamente chamado de Sistema Intrauterino (SIU), se diferencia por sua ação farmacológica. Ele contém um reservatório que libera continuamente uma dose baixa e localizada de um progestágeno sintético: o levonorgestrel. Essa ação predominantemente local é o grande diferencial do SIU e a chave para seus múltiplos benefícios.
Como o SIU de Levonorgestrel Atua?
A eficácia contraceptiva do SIU, que é altíssima e comparável à da laqueadura tubária, deriva de uma combinação de fatores impulsionados pelo levonorgestrel:
- Espessamento do Muco Cervical: O hormônio torna o muco do colo do útero mais denso, criando uma barreira física que impede a passagem dos espermatozoides.
- Atrofia do Endométrio: A ação do progestágeno torna o revestimento interno do útero (endométrio) mais fino e inadequado para a implantação de um eventual óvulo fecundado. É este mecanismo que também explica muitos de seus benefícios terapêuticos.
- Alteração da Motilidade Tubária: O SIU pode reduzir o movimento das trompas, dificultando o encontro entre óvulo e espermatozoide.
- Inibição da Ovulação (em alguns casos): Em cerca de 20% das usuárias, o SIU pode também inibir a ovulação, mas este não é seu principal mecanismo de ação.
Benefícios Além da Contracepção: O Poder Terapêutico
O SIU de levonorgestrel é um dos métodos LARC mais versáteis, justamente por seus expressivos benefícios não contraceptivos. A liberação local do progestágeno o torna uma ferramenta terapêutica de primeira linha para diversas condições ginecológicas:
- Redução Drástica do Fluxo Menstrual: Ao promover a atrofia endometrial, o SIU diminui significativamente o volume e a duração do sangramento. Muitas mulheres experimentam uma redução de mais de 90% no fluxo, e cerca de 20% entram em amenorreia (ausência de menstruação) após um ano de uso, o que é excelente para tratar sangramento uterino anormal (SUA) e anemia ferropriva.
- Alívio de Cólicas Menstruais (Dismenorreia): A dor menstrual intensa é frequentemente causada pelo excesso de prostaglandinas. Com um endométrio mais fino, a produção dessas substâncias diminui, resultando em um alívio significativo da dismenorreia.
- Tratamento de Endometriose e Adenomiose: O SIU é considerado um tratamento de categoria 1 pela OMS para essas condições, ajudando a controlar os focos da doença e a reduzir a dor pélvica crônica.
- Proteção Endometrial: Para mulheres com ciclos anovulatórios ou em tratamento com estrogênio, o SIU oferece proteção contra a hiperplasia endometrial (espessamento excessivo do endométrio).
O Procedimento de Inserção do DIU: O que Esperar?
Decidir colocar um DIU é um passo importante. Compreender como o procedimento funciona pode ajudar a diminuir a ansiedade e a prepará-la para o dia. A boa notícia é que se trata de um procedimento rápido, realizado no próprio consultório médico.
Qual o Melhor Momento para a Inserção?
O timing pode fazer a diferença para o seu conforto. Embora o DIU possa ser inserido em qualquer fase do ciclo (descartada a gravidez), muitos médicos preferem realizar o procedimento durante o período menstrual. O motivo é duplo: o colo do útero está naturalmente um pouco mais aberto, o que pode facilitar a inserção, e há a certeza de que não existe uma gravidez em curso. A inserção também pode ser feita logo após o parto, idealmente nas primeiras 48 horas.
O Passo a Passo no Consultório
O procedimento em si dura apenas alguns minutos:
- Exame Pélvico: O médico avalia a posição e o tamanho do seu útero.
- Visualização do Colo: Um espéculo (o mesmo usado no Papanicolau) é inserido para visualizar o colo do útero.
- Assepsia: O colo do útero é limpo com uma solução antisséptica para minimizar o risco de infecções.
- Estabilização e Medição: Com uma pinça de Pozzi, o médico segura firmemente o colo do útero para estabilizá-lo. Em seguida, um histerômetro (instrumento fino e maleável) é inserido para medir a profundidade da cavidade uterina (histerometria).
- Inserção do DIU: Com a medida exata, o médico carrega o DIU em seu tubo aplicador e o insere cuidadosamente até o fundo do útero. Uma vez posicionado, o DIU é liberado e o aplicador é removido.
- Finalização: Os fios do DIU são cortados, deixando cerca de 2 a 3 cm para fora do colo do útero, para verificação futura e remoção.
Preciso Tomar Antibióticos Antes do Procedimento?
Esta é uma dúvida comum, e a resposta, na grande maioria dos casos, é não. As diretrizes médicas atuais não recomendam o uso rotineiro de antibióticos preventivos antes da inserção do DIU. Estudos demonstram que a prática não reduz significativamente o já baixo risco de infecção. A assepsia local realizada pelo médico é a medida preventiva mais importante.
Para Quem o DIU é Indicado? Principais Indicações e Contraindicações
Graças à sua alta eficácia e segurança, os DIUs são recomendados como opção de primeira linha para uma vasta gama de mulheres, incluindo aquelas que nunca tiveram filhos (nulíparas) e adolescentes. O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) recomenda enfaticamente o uso de DIUs para essas populações, quebrando o antigo mito de que o método não seria adequado para elas.
Contraindicações: Quando o DIU Deve ser Evitado
Apesar de sua segurança, existem situações em que o uso do DIU é contraindicado. A avaliação médica individualizada é crucial. As principais contraindicações incluem:
- Gravidez suspeita ou confirmada.
- Anomalias uterinas que distorçam significativamente a cavidade uterina.
- Sangramento uterino anormal de causa não diagnosticada.
- Doença Inflamatória Pélvica (DIP) atual ou recorrente (nos últimos 3 meses).
- Câncer de colo de útero, endométrio ou mama (contraindicação para o DIU hormonal).
- Doença hepática aguda ou tumor no fígado (contraindicação para o DIU hormonal).
Riscos e Efeitos Colaterais: Expulsão, Infecções e Adaptação
Embora seja um método muito seguro, é fundamental conhecer os potenciais riscos e efeitos colaterais para um manejo adequado.
Expulsão Espontânea: Quando e Por Quê?
A saída não intencional do DIU do útero ocorre em 3% a 10% das usuárias, com o risco sendo maior durante o primeiro ano de uso e no período pós-parto. A inserção entre 48 horas e 4 semanas após o parto, por exemplo, está associada a um risco aumentado de expulsão devido às contrações uterinas.
O DIU e o Risco de Infecções: Desvendando Mitos
Uma preocupação histórica era o risco de Doença Inflamatória Pélvica (DIP). Hoje, sabemos que:
- O risco de DIP associado ao DIU é significativamente maior apenas nas primeiras três semanas após a inserção, geralmente ligado a uma infecção genital pré-existente não diagnosticada.
- Após esse período inicial, o DIU não aumenta o risco de DIP em mulheres que não estão expostas a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Lembrete Crucial: O DIU é um método contraceptivo altamente eficaz, mas não oferece proteção contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). O uso do preservativo (camisinha) continua sendo indispensável para a prevenção.
Se uma usuária de DIU for diagnosticada com DIP, o tratamento padrão é com antibióticos. A retirada rotineira do DIU não é recomendada e, caso seja necessária, só deve ser feita após o início do tratamento medicamentoso.
Navegar pelas opções de contracepção é um ato de autocuidado e autonomia. Esperamos que este guia completo tenha iluminado o caminho, mostrando que o DIU, seja ele de cobre ou hormonal, é muito mais do que um simples dispositivo: é uma ferramenta versátil que pode se adaptar às suas necessidades de saúde e estilo de vida. A decisão final é sempre sua, em uma conversa franca e aberta com seu médico. Lembre-se: informação de qualidade é o primeiro passo para uma escolha consciente e segura.
Agora que você está munida de informações detalhadas, que tal colocar seu conhecimento à prova? Preparamos algumas Questões Desafio para ajudar a fixar os pontos mais importantes. Vamos lá